Capítulo 1

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Sentado no terraço de meu prédio, uma noite particularmente escura, nenhuma estrela no céu, apenas minha fiel amante e confidente, a lua. Bem, sou um poeta fracassado, aquele qual ninguém se importa de ler seus poemas, mas como é de conhecimento geral, a lua é amante dos poetas, amiga dos casais, confidente dos solteiros e testemunha das lágrimas derramadas em sua presença, eu me encaixo em quase todas as categorias, menos na parte dos casais, não tenho a quem compartilhar sentimentos, e nem preciso, enquanto eu tiver a honra de ser banhado pela luz de minha amante, meu coração já será muito bem agraciado.

Meus poemas não são românticos, na verdade eles são uma bagunça de palavras e sentimentos, as vezes nem mesmo eu os entendo, mas é aquele tipo de "bagunça organizada", para certas pessoas se encaixa totalmente, para outras não faz diferença, é como uma brisa, alguns estão atentos a vida, sentem as coisas mais simples e mais belas, outros estão tão focados no mundo, que uma brisa a mais ou a menos não fará diferença, eles não sentem falta dela, então por que notariam sua presença? Talvez essa minha bagunça seja o motivo de ninguém os ler, afinal, o mundo já está uma bagunça, quem gostaria de arrumar mais uma?

Saio de meus pensamentos com o assobio de algum indivíduo subindo as escadas, quem em plena meia noite vem para o terraço de um prédio? Esqueça..., mas é incomum ter companhia, encaro meu caderno cheio de rabiscos e desenhos, uma verdadeira bagunça. O som de porta abrindo se faz presente no ambiente, olho em direção e vejo uma jovem de seus vinte poucos anos, seus cabelos cor de mel entrelaçados em uma trança jogada sobre seu ombro, sua pele clara, um tanto quanto pálida, está sendo abraçada por um vestido simples, mas incrivelmente bonito na cor azul bebê, se sua beleza já não fosse de tirar o fôlego, a luz da lua refletida sobre seu belo corpo formando a mais bela obra de arte, se eu não soubesse da verdade, poderia facilmente achar que estou sonhando, ou que meus olhos decidiram me pegar uma peça colocando a própria Afrodite diante mim, bem, acho que meus poemas não são a única bagunça.

Minha mente fica em branco quando nosso olhar se cruza, seus olhos são algo extremamente parecido com cinza, como se fosse o céu carregado de nuvens de tempestade, cada vez mais meu coração gritava avisando que o ser presente em minha frente não é humano, pois nenhum desta espécie seria agraciado de tamanha beleza, ou se realmente for de minha espécie, Deus obviamente tem seus favoritos, aqueles quais ele dá o melhor que tem, a melhor beleza por exemplo. Mas depois que eu realmente compreendi seu olhar entendi que ser o favorito não significa ser feliz, uma jovem agraciada de uma beleza digna de uma Deusa, mas com um olhar tão turbulento, um pedido de socorro silencioso, a lua brilha ainda mais forte no céu, como se a qualquer momento fosse se materializar apenas para conforta a jovem.

-Oh, eu... perdão senhor, achei que não haveria ninguém aqui neste horário - a jovem se justifica em meio a tropeços em sua fala.

-Não a pôr que de pedir perdão, minha jovem, mas se me permite a pergunta, o que o destino fez para que uma dama tão bela venha parar na luz do luar este horário com seu rosto banhado em lágrimas? - eu a questiono, mas percebo rapidamente que fui um pouco invasivo, principalmente quando seu corpo enrijeceu e seu rosto belo se transformou em uma carranca.

- Não acho que esse tipo de coisa cabe a um desconhecido. - Ela diz séria, mas percebo que seu corpo treme ao frio da madrugada, retiro meu casaco grosso desencostando meu corpo do parapeito do terraço, caminho calmamente até ela e o entrego.

-Peço perdão pelo inconveniente, por favor, aceite meu casaco, aqui fora está frio, e seu vestido não é feito para esquenta-la. - Me pronuncio ainda com o braço estendido em um tipo de pedido para que ela aceite o casaco.

Eu a vejo morder lábio em uma certa apreensão, mas mesmo assim ela aceita o casaco, o coloca sobre seu vestido e vai ao parapeito do terraço. Volto ao lugar de onde vim e me concentro novamente em meus poemas.

-Você escreve? - ela questiona timidamente, dou um meio sorriso e me viro para ela, ela me olhava de um modo ao qual eu não consegui identificar.

- Sim, eu sou poeta, não muito conhecido, mas sou! - afirmo e ela dá um pequeno riso, minha mente se dividiu em ficar ofendido por ela rir ao falar que sou poeta, e em gravar em minha mente essa risada dela para poder sempre ficar ouvindo-a.

- Eu poderia ver seus poemas? - ela questiona com um pequeno sorriso, seus olhos vermelhos por causa das lágrimas que outrora banhavam seu rosto. - E... perdão por mais cedo, eu estava em um momento complicado e acabei descontando no senhor.

- Sem problemas, bem... não sei se vais gostar, mas podes sim ler. - Pronunciei entregando meu caderno com uma leve relutância, ela o pega e começa a ler e folhear o caderno, como se fosse um delicado livro, que a qualquer descuido poderia se rasgar, confesso, apreciei seu cuidado.

- Que lindo. - Ela sussurra em admiração, falando mais para si mesma do que para mim. Dou um sorriso de canto feliz por ela ter apreciado. - Que palavras sábias, como o senhor não é reconhecido, isso é uma obra prima! - ela afirma com um tom de incredulidade, dou uma leve risada e agradeço pegando meu caderno novamente e o guardo. Desvio minha concentração para as casas a baixo de nós, toda a cidade sendo agraciada com a luz do luar, sempre é uma cena linda de se ver. - eu posso lhe perguntar algo? - ela questiona receosa, afirmo com a cabeça e suspira pesadamente. - O que fazer quando quem comanda nossa vida... não somos nós? - eu a olho, mas seu olhar está direcionado para a lua, evitando me encarar.

- Depende. - Digo simplicista e percebo ela me olhar, seu rosto repleto de confusão, ela abriu a boca para falar, mas eu a interrompo e olho para a cidade. - O que seu coração diz para fazer? Ele diz para aceitar? Pegar o controle de volta? O que ele dizer para você, apenas ousa, ele estará certo. - Olho novamente para a jovem, que se cala por um instante.

- Mas... e se ele não souber? - ela me questiona com o olhar deprimido, a tempestade retornando para seus olhos.

- Ele sempre sabe, bem no fundo ele tem a resposta, e no momento certo você saberá, uma das maiores dádivas do ser humano é no momento de deixar o rio guiá-lo, ele deixará, mas no momento de ele mesmo nadar para fora, ele irá nadar momentos são preciosos, por enquanto deixe a vida guiá-la, você saberá quando for a hora de agir. - Falo dando um sorriso caloroso, ela afirma com a cabeça pensativa.

- Entendo, obrigada pelas suas palavras... err... eu não cheguei a perguntar seu nome. - Ela diz corando de vergonha.

- Que falta de educação a minha, meu nome Daniel, qual seria o seu bela dama? - Questiono e ela sorri, um dos melhores sorriso que ela me deu até agora.

- Meu nome é Diana, ela me olha nos olhos ainda com seu sorriso estampado no rosto, seu sorriso dá uma leve murchada. - Que horas são Senhor? - ela com uma expressão preocupada.

Olho para meu relógio de bolso e respondo-a – Agora são duas da manhã. Seu corpo fica rígido, suas mãos vão para a frente de sua boca.

-Eu preciso ir, mil perdões Daniel! - ela fala baixo e sai correndo em direção a porta, me deixando sozinho, confuso e... vazio. 

Dama da LuaWhere stories live. Discover now