Capítulo 1 - Frio, Vincenzo

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Notas: Olá, leitores! Espero, de coração, que vocês gostem do capítulo e também da história! Estou trabalhando nesse projeto há um tempo, então ele está, praticamente completo. Não prometo atualizá-lo semanalmente devido a correria, mas também não irei abandonar a história! Leiam a sinopse, tem avisos importantes lá!

Sem mais, fiquem com o capítulo!

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Veneza, Itália. Janeiro de 2002.

Vincenzo enfiou as mãos em seu casaco, feito sob medida, com partes feitas com pelos de um leão da montanha, muito raro, diga-se de passagem. O vento extremamente gelado tocava suas barbas e cabelos ruivos, mas apesar do frio intenso, o homem esboçava um pequeno sorriso, enquanto olhava o grande campo à sua frente. O gramado coberto de neve, o céu azul e os fracos raios de sol lhe traziam lembranças aconchegantes, de quando seu pai ainda era vivo e corria com ele e com os irmãos, por todo aquele lugar, principalmente quando a neve tocava o chão.

- O café está pronto, sr. Ricci – Amélia, sua fiel empregada, lhe avisou, tocando um de seus ombros. Ela era uma jovem muito bonita. Os cabelos eram castanhos claros, o rosto alinhado e levemente redondo e estava sempre sorrindo, sempre feliz. Vincenzo não poderia ter escolhido melhor quando decidiu lhe colocar para trabalhar dentro da sua casa. Ah, não. Ele não era apaixonado pela empregada, muito pelo contrário, a tinha como uma filha.

- Obrigado, Amélia. Eu irei para a mesa em breve – Ele disse, com seu tom sério de sempre. A jovem sorriu e colocou o pano de prato sob a bancada de pedra. Uma pedra rara também, trazida do Canadá. Vincenzo possuía gostos peculiares para decoração. Peculiares e caros, mas ninguém costumava lhe questionar.

- O senhor gosta de apreciar essa vista, não é? – Ela perguntou, ficando ao lado dele e olhando o horizonte. Ele assentiu, pensativo.

- Gosto de ser abraçado pelas lembranças. Elas me fazem bem, apesar de tudo – Ele disse após alguns segundos e logo esticou um dos braços e fechou a janela, impedindo que o vento continuasse entrando.

- Eu ainda acho que o senhor deveria encontrar alguém... ou alguma coisa, para lhe abraçar de verdade – Amélia sempre dizia a mesma coisa. Vincenzo era sim um homem solitário. Ele gostava da solidão, mas nem sempre queria ser preenchido por ela. Às vezes, seu peito doía e lhe lembrava que havia um vazio precisando ser ocupado, mas era sentimentos passageiros.

- Eu já tenho tudo que eu preciso, Amélia – Ele ponderou, movendo os calcanhares para caminhar até a mesa. Arrastou a cadeira de madeira e sentou-se, pegando a garrafa de café e virando o líquido escuro na xícara.

- Uma casa bonita, um carro grande e aconchegante, dinheiro... isso pode parecer tudo, mas não é tudo – Amélia sentou-se de frente para o patrão, o encarou nos olhos e ele soltou um suspiro pesado. Ele dava certa liberdade para os seus funcionários e Amélia tendia a ser extremamente xereta. A jovem percebeu o olhar dele e se levantou, desviando o olhar – Me desculpe, eu não quis ser invasiva.

- Eu lhe desculpo. Dessa vez – A sua voz era séria e calma ao mesmo tempo. O homem tinha os seus limites, mas o que mais lhe incomodava era saber que Amélia estava certa. O que ele tinha não era tudo.

Vincenzo perdeu o pai quando tinha quinze anos. O velho Ricci era um cafeeiro famoso, dono das melhores marcas do mercado, mas o câncer não costuma ver esses deméritos e, em poucos meses, levou seu pai desta para a melhor. A mãe, tomada pela dor da perda, viu-se perdida e passou a se descuidar, acabou se desnutrindo e morreu pela falta de vitaminas no corpo.

Ao todo, ficaram cinco irmãos para trás e Vincenzo era o caçula. Quando completou vinte anos, fez uma viagem grande com os irmãos, mas o avião em que estava caiu e ele foi o único sobrevivente. Uma vida triste, diga-se de passagem. Tudo que ele tinha de mais valioso foi levado num piscar de olhos e Vincenzo teve que ser forte para não desistir.

A garota em minha portaOnde histórias criam vida. Descubra agora