A Dama de vermelho

(...) Terapia? (...)

Após uma noite de farra, Rafaela chegou em sua casa de madrugada. Felipe, cheio de sono entrou na primeira porta que viu, por sorte era a porta aonde Rafaela morava. Ambos dormiram largados no sofá.

Rafaela não bebeu como havia prometido,  estava apenas sonolenta, nunca havia passado a noite em claro. Felipe, para não influenciar a amiga, também não bebeu. Saíram apenas para flertar, beijar e conhecer pessoas novas.

O relógio despertou 7:30 da manhã, Rafaela acordou e sentiu cheiro de café sendo passado. Havia dormido com uma camiseta branca e larga e uma calcinha infantil da hello kit. Levantou-se e caminhou coçando os olhos em direção à cozinha.

  — Bom dia, margarida. — disse Felipe num ânimo absurdo. — Calcinha da hello kit? Credo.
  — Bom dia, vagabunda. — brincou Rafaela e Felipe sorriu.
  — Precisamos conversar, amiga.

Felipe a serviu com uma xícara de café e sentou-se,  parecia que ele estava na sua própria casa.

  — O que houve, Fê?
  — Rafa, eu te amo e me importo contigo. Quero o seu bem e sua evolução,  sabe? Você é minha melhor amiga.
  — Aonde você quer chegar?
  — Volta a fazer terapia. Vou com você marcar a consulta.
  — Eu já disse que o psicólogo foi demitido.
  — Contrataram uma terapeuta nova. Eu fui lá ver. Até tentei marcar uma consulta para você, mas eu não posso, é só você que pode marcar.

Rafaela arregalou os olhos e respondeu:

  — Tentou marcar uma consulta para mim?
  — Tentei. Foi para o seu bem. Ontem você flertou com o bairro todo e quase fez sexo na minha frente. Estou com medo de que todo esse desequilíbrio resulte na sua volta ao mundo alcoólico.
  — Eu vou.
  — Bebe o Café e vai.
  — Hoje?
  — Claro que sim, Rafaela. Vai logo, garota.

Rafaela não respondeu, olhou para a xícara e passou alguns segundos quieta, imersa em seus pensamentos. Tomou seu café e levantou-se abruptamente,  trocou de roupa, pegou alguns documentos... estava decidida a marcar uma consulta.

Saiu e largou Felipe sozinho em sua casa. Caminhou por 20 minutos até uma unidade básica de saúde. Entrou e conversou com a recepcionista.

  — Oi, Rafaela.  Vai dar continuidade ao seu tratamento? Temos uma terapeuta nova. — Comentou Jade, a recepcionista.
  — Sim, quero marcar uma consulta.
  — Você vai adorar a Marina, ela é uma gracinha.
  — Espero que ela fique e não seja demitida como o profissional anterior.
  — Não acontecerá novamente. Marquei a consulta, te vejo semana que vem.
  — Até breve, Jade.

Quando Rafaela chegou em sua casa,  Felipe já não se encontrava.  Talvez tivesse ido trabalhar. Abriu a geladeira,  tinha produtos processados, enlatados, comida embutida, doces e refrigerantes. Nada que fosse saudável. Abriu a dispensa,  viu miojo, salgadinhos, bolachas, caixas de chocolates.

Ela poderia comer essas coisas? Não, devido a uma grave gastrite que Rafaela desenvolveu com o decorrer dos anos. doença se caracteriza por uma inflamação na mucosa do estômago, e os principais sintomas são dor de estômago, azia e sensação de estufamento.
Além dos medicamentos prescritos por um médico, é possível contornar o problema mudando a alimentação e melhorando o estilo de vida... coisas que Rafaela não fazia, sempre se alimentou mal, o que agravou a doença.

  — Eu recomendo que a pessoa se alimente da forma mais natural possível, evitando alimentos irritantes para o estômago e também observando as suas reações individuais a determinados alimentos. — dizia a nutricionista e Rafaela fingia que seguiria as orientações.
  — Eu vou me cuidar.

Em sua geladeira, uma lista do que não poderia consumir:

Café
Chá mate
Chocolate
Refrigerante
Sal em excesso
Enlatados
Embutidos
Bebidas alcoólicas
Pimenta-do-reino
Leite e derivados
Frituras
Gorduras em excesso

Tudo o que havia em sua dispensa, por acaso.
As bebidas alcoólicas, segundo a nutricionista, agridem diretamente as células estomacais, aumentando o estresse oxidativo. Rafaela havia parado de beber há 6 meses, talvez a bebida tenha agravado o problema estomacal de Rafaela.

Continua...