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Se você estivesse na mesma situação aposto que faria exatamente igual. Se tornaria um filho da puta para sobreviver até o último dia.

Desde que entrei aqui eu soube exatamente o que era necessário. Eu tinha que ficar por cima independente de como. Antes eu nem era um aluno bom, quem vem para cá geralmente não é. Quando tentei fazer meus pais me levarem para longe daqui, percebi que não importa o que eu fizesse não mudaria nada. Sequer os desaparecimentos dos alunos os faria me tirar dali, era algo maior que eu ou você, magia ou qualquer bobagem similar.

Como precisava manter meus pais vivos e não sabia o que aconteceria se eu os deixasse para trás. Fiquei, me tornei um aluno exemplar e puxa saco dos professores. A tática mais velha do mundo deu resultados, eles gostaram de mim. Em pouco tempo eu já era presidente da minha turma e depois monitor da escola.

Agindo como um aliado desses lunáticos sem alma pude me manter fora do radar. E talvez por isso eu ainda esteja aqui vivo e bem, autêntico.

Por fora ajo como os outros, mas por dentro às vezes sinto vontade de meter uma bala na cabeça desses desgraçados de merda que me trancafiaram aqui. Ninguém vai me impedir de atingir meu objetivo que é destruir pedra por pedra dessa escola.

E esse foi o motivo de eu ficar tão furioso quando vi o novato a um passo de estragar tudo. Eu estava levando documentos até a secretária tarde da noite, já estava perto da hora de eu ir embora para casa.

Momento, aliás, que imagino ser o favorito de todo e qualquer aluno dessa porcaria. Mesmo o aluno mais dedicado e apaixonado por escola perde o ânimo e a vida nesse lugar.

Ouvi um barulho no corredor indo para outra direção e decidi seguir o som. Admito que não foi meu momento mais inteligente, até por que em um lugar tão sombrio, deveria saber que seguir sons e coisas estranhas é o caminho para a morte de personagens em filmes de terror.

No fim do corredor entrando na biblioteca sorrateiramente estava ele. Ayan. Corri até a secretaria e deixei os documentos em qualquer lugar voltando o mais rápido possível. Precisava pegar esse arruaceiro no pulo.

Abri a porta da biblioteca silenciosamente e entrei devagar. Fui passando cauteloso por cada área sem o encontrar até ouvir um som vindo da área do terror. Em suas mãos estava um livro intitulado "lendas e pesadelos".

— Archie você tem certeza que esse livro vai me ajudar? — ele fala com o nada.

— Para mim parece mais um livro de terror normal. Vou levar aquele ali "invocador de almas" para ver se me ajuda com esse poder, habilidade ou que porra estiver acontecendo comigo. — ele fala olhando para um ponto.

Não vejo nada, meu primeiro pensamento era de que ele estava maluco. Só que ele não parecia o tipo do manicômio. E eu conheço essa escola coisas impossíveis se tornam reais aqui.

Pode ser um demônio, amigo imaginário, monstro ou o que for, mas certamente ele parecia convicto de falar com alguém. Senti um arrepio de medo ao pensar sobre isso, porém resisti tentando ouvir a conversa.

Me distrai por um instante e quando olhei pro corredor estava vazio. Levei um susto do caramba quando me virei e vi Ayan parado com dois livros na mão escorado com um sorriso.

— Puta que pariu garoto! — gritei no impulso.

— Estava me espionando inspetor? — ele sorri mais largamente.

— Que diabos está fazendo aqui ainda, já deveria ter ido embora. — falo nervoso.

— Você também, na verdade. — ele rebate.

— Eu já estaria em casa se não tivesse visto um arruaceiro fazendo bagunça. — digo.

Vejo ele olhar para um ponto do meu lado como se visse algo e então graças a isso ele sorri. Olho na direção do seu olhar e sinto um medo assustador de novo. Há algo de muito errado com esse garoto.

— Escuta eu só queria alguns livros para pesquisa pessoal se não me incomodar vou para casa e deixo você em paz. — ele diz sério.

— Não temos permissão para levar os livros para casa. — digo.

— Vamos monitor, você não pode ser tão certinho assim. Na verdade, você tem cara de quem não obedece ninguém.

Desgraçado, ele via através da minha pose e teatro. Aquilo me deixava desconcertado era a minha atuação que me mantinha bem. Ele consegue ver além do que mostro e eu não posso me esconder de seus olhos velozes.

— Faça o que quiser com os livros, mas tome cuidado. — viro de costas então decido parar. — Aliás, toma cuidado ao ficar falando sozinho por aí vão te achar doido.

O sorriso em seu rosto sumiu e ele me encarou sério. Provavelmente não imaginou que eu o escutei falar. Seus olhos e os meus se fitaram por um momento.

— Você não devia estar nos protegendo? — ele pergunta.

Acabo soltando uma risada sem perceber. Meus olhos o observam decorando seu rosto, ele é bonito.

— Não consigo proteger nem a mim mesmo. — falo sério.

— Mas devia ao menos tentar.

Finalmente ele saiu me deixando na biblioteca sozinho. Queria dizer que ele está errado, só que sou um veterano nessa escola eu devia mesmo ajudar os novatos a sobreviverem nesse inferno. Passei tanto tempo cuidando de mim mesmo que esqueci que havia outros tão perdidos como eu quando entrei aqui.

O odiei naquele momento por ressaltar minha fraqueza. Só que eu queria que ele entendesse, sou apenas um humano e nada mais que isso. Bancar o super-herói é coisa de protagonista, mas eu nunca fui um. Não me sentia capaz o bastante para essa missão.

Só que entendi naquele momento vendo a expressão dele me fitando, eu tinha raiva. Teria que usar o que tinha, se não eram bons sentimentos e bondade fazer o que. Usarei minha raiva e destruirei cada pequeno pedaço desse lugar, esse será o meu destino. O universo não escolheu para mim, eu quem estou escolhendo. Vivo ou morto estou cansado dessa escola maldita e de ser um eterno amaldiçoado buscando lutar contra o medo que nunca, nunca vai embora.

A maldição de SuppaloOnde histórias criam vida. Descubra agora