23. Tornado

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S/N
Vinícola Hichello, Toscana
7 de março de 1987, 14:07

 Com um elegante chapéu e um vestido branco que desliza suavemente até meus pés, eu caminho pelos vinhedos em busca de tranquilidade. Após horas de voo, a voz de Henry e o cheiro de seu perfume se tornaram quase insuportáveis para mim. Michael e Daniel já estão desconfiados de que algo está me incomodando e não vai demorar para eles perceberem.

 Não consigo dizer a eles porque tenho vergonha, sem contar que essa mulher frágil não é a mulher por quem eles se apaixonaram. Cada dia que passa, fica mais difícil esconder os sentimentos que fervilham dentro de mim. É como se todos os traumas do passado estivessem ressurgindo, despedaçando a máscara que eu construí para parecer fria e insensível.

 Paro um pouco e respiro profundamente, tentando afastar as preocupações que me assombram. Olho ao redor contemplando com calma os vinhedos que se estendem diante de mim. É uma visão deslumbrante de fileiras e fileiras de parreiras exuberantes. As uvas maduras penduradas nos cachos oscilam suavemente com a brisa suave, criando um espetáculo de cores vivas. O sol está se pondo no horizonte, banhando o cenário em uma luz dourada que parece beijar cada folha e fruto.

 A medida que avanço entre as videiras, sou envolvida pelos aromas que pairam no ar. O perfume adocicado das uvas maduras mescla-se com o aroma terroso da terra molhada sob meus pés. É como se cada respiração me conectasse à essência da terra. Através desses vinhedos, estou conseguindo encontrar um pouco de paz. As lágrimas descem sem pedir permissão revelando a vulnerabilidade que carrego dentro de mim.

16:52

 Sentada na varanda do meu quarto, permito-me relaxar e desfrutar da tranquilidade que a tarde ensolarada oferece. Eu estou com uma sensação de leveza tão grande. Após passar um tempo caminhando entre as videiras e desfrutar de um banho revigorante, estar aqui, sentada em uma cadeira confortável, contemplando a vista deslumbrante à minha frente, é exatamente o que eu precisava.

 A paisagem diante dos meus olhos é um espetáculo vivo e repleto de vida. A natureza parece dançar em harmonia, como se cada elemento tivesse seu próprio papel em uma sinfonia visual. O verde exuberante das folhas das árvores se funde com o azul vibrante do céu, criando uma paleta de cores que encanta meu olhar. Os pássaros voam graciosamente pelo ar, entoando melodias suaves que se misturam com o suave sussurro do vento nas folhas.

 Me coloco de pé e me aproximo do parapeito de mármore branca. Sinto a textura fria e suave sob meus dedos, um contraste agradável com o calor suave que toca minha pele. Fecho meus olhos e respiro profundamente. Talvez, eu consiga conversar com Daniel ou Michael sobre Henry. Talvez eu possa até contar para River. Me sinto cheia de coragem nesse momento. Esse tempo comigo mesma era tudo o que eu precisava.

 Ao abrir meus olhos, meu olhar desce em direção ao chão, onde se encontram as rosas-vermelhas de beleza delicada cultivadas com tanto carinho por Daniel. No entanto, minha serenidade é abruptamente interrompida quando meus olhos se fixam em Henry, que está parado ali, me encarando com um sorriso perverso estampado em seu rosto. Os olhos de Henry perfuram minha alma, uma mistura de desafio e malícia refletida em seu olhar. Com o coração acelerado, tomo uma decisão. Não posso permitir que o medo me paralise.

 Enquanto meus olhos se mantêm fixos nele, minha mente se enche de lembranças dolorosas do passado. Com passos decididos, me afasto do parapeito de mármore com a intenção de sair do quarto e enfrentar o que me amedronta.

Daniel Hichello
17:49

 — Então, é isso — me encosto na cadeira — Acabou — respiro profundamente — Ela te escolheu, isso é bom. Você é bom para ela. Eu sei que vão ser felizes! 

 — É, mas, eu estou me sentindo mal porque eu sei o quanto você a ama! — Michael diz com um pesar em sua voz.

 — Mas, ela precisava tomar uma decisão Michael. Não podia continuar namorando nós dois, não se pode ter tudo na vida! — me levanto da minha cadeira e ando em direção à porta — Você vem? — pergunto a ele que se coloca de pé e me acompanha até fora do escritório. Assim que chegamos eu me enfiei no escritório e me isolei em meio ao trabalho. Eu não sei se algum dia vou conseguir lidar com a rejeição.

 — Ela pelo menos poderia ter terminado com você — concordo com um aceno — Enfim, o importante é que chegamos ao final disso!

 — Sim Michael! — forço um sorriso e caminhamos para longe do escritório. 

 — Acha mesmo que a farei feliz? — é claro que vai — Eu não sei sabe? Talvez, ela ficaria melhor com você. Você tem uma vida parcialmente normal, ela teria uma vida tranquila!

 — É melhor assim Michael, ela fez a escolha dela e eu estou feliz que seja você! — dou dois tapinhas no ombro dele — Pare já com essa conversa, você ganhou a garota! — digo entre risos para ele que mal consegue segurar o sorriso — Só fique feliz com a vitória!

 — Tudo bem! — ele respira fundo — Eu estava com medo de perder você — arqueio uma das sobrancelhas para ele.

 — Você jamais me perderia amorzinho — faço um biquinho exagerado para ele que ri. Mas, seu sorriso logo desaparece de seus lábios e ele para de andar. Paro e olho na mesma direção que ele.

S/N
17:23

 Desço os últimos degraus das escadas com passos firmes e decididos. O tecido suave do meu vestido de alças finas acaricia minha pele enquanto atravesso o hall de entrada em direção à porta. A tensão toma conta do ar quando saio da casa e me viro para encarar Henry. Ele se vira e seu olhar encontra o meu. Ele abre um sorriso ainda maior e anda em minha direção lentamente se deliciando com a cara de medo que sem dúvida eu devo estar fazendo. Mesmo morrendo de medo eu levanto minha cabeça e o encaro com determinação.

 — O que você está fazendo aqui, Henry? — pergunto em um tom firme — Como conseguiu me encontrar? — ele para a dois passos de distância, ainda sorrindo de forma ameaçadora.

 — É muita prepotência da sua parte achar que estou namorando sua melhor amiga por sua causa! — Henry ri, me menosprezando — Sempre achando que é mais do que realmente é, pobre S/N — ele faz uma careta.

 — Ela sabe que você é impotente? — a menção à sua vulnerabilidade parece abalar seu semblante, mas ele rapidamente se recupera.

 — O que você disse? — ele diz entre dentes — Você é tão pequena, tão mesquinha — ele sussurra, em um tom ameaçador.

 — Se há algo pequeno aqui, não sou eu — digo, reafirmando minha autoconfiança — Não sei como você conseguiu entrar na vida de River, o último ex-namorado dela tinha uma bela bagagem — começo a rir — Ela já sabe que você tem um "pipi" minúsculo? — provoco, colocando uma das mãos sobre meu colo — Ela ficará chocada quando descobrir! — a expressão de Henry se fecha completamente diante do meu deboche, e ele se aproxima de mim de maneira ameaçadora. Sem recuar, dou um passo à frente e encaro. Ele não tem pênis pequeno, mas, falar que tem sempre atinge os homens.

 — O que você vai fazer? — pergunto com firmeza — Vai me bater? — ironizo — Tente! Não sou mais a mesma S/N que você conheceu, aquela que você maltratou por anos! — ele ri de forma sarcástica

 — Você continua sendo a mesma, nada mudou. Você está apavorada e tudo isso é apenas uma tentativa de mostrar que não tem medo, mas, a verdade é que você tem — ele zomba — Olhe só para você. Mesmo com seu grandalhão sendo sua sombra, você ainda se sente insegura, sabe por quê? Porque até o seu subconsciente reconhece que você não é suficiente!

 — Tão insuficiente quanto você, a diferença é que o meu grandalhão sabe quem sou de verdade e River, não tem ideia do maldito que você é, mas, não por muito tempo! — assim que termino a frase sinto a mão firme de Henry envolvendo meu pescoço.

Eximio | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora