Cap 3-

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Minho conseguiu cumprir suas metas e dormiu o domingo todo. Só acordou às seis da tarde, quando aproveitou para tomar um banho, comer algo gorduroso e dar uma olhadinha nos filmes que passavam na TV, depois voltou para o quarto e dormiu mais. Dormiu tanto que às três da manhã acordou cansado de tanto dormir. Daí em diante, seu corpo entrou em um estado crítico de inércia, de modo que piscar os olhos chegava a ser uma tarefa muito difícil a ser executada, e foi assim até o dia amanhecer. O fato de as janelas estarem fechadas e não haver nenhuma abertura que permitisse a entrada de luz impediu que ele percebesse que já estava na hora de se levantar, mas, felizmente, tinha Jennie Kim para fazer as coisas andarem naquele apartamento.

-Minho? - a morena chamou do lado de fora, dando duas batidas na porta. .- Posso entrar ou você está nu? Não quero ver sua cobrinha, hein?

Ser ouvido com a cara enfiada no travesseiro não era uma tarefa muito fácil, mas, graças ao silêncio quase total, Minho conseguiu que seu murmurio arrastado ultrapassasse as paredes e chegasse aos canais auditivos apurados da amiga.

- Você pegou todo o sono do mundo, meu Deus - Jennie já foi abrindo as cortinas e arreganhando as janelas, como sempre fazia. - E levanta logo ou vai se atrasar para a faculdade, já são quase sete horas.

-Eu estou dormente Minho resmungou após duas tentativas de mexer as pernas. - Parece que meus músculos viraram glacê.

- Mas é claro! Depois de umas vinte horas enfiado nessa caverna, você queria o quê? - Impaciente, Jennie puxou as cobertas do amigo e teve a graciosa visão do seu bumbum redondinho coberto só por uma boxer preta. - Anda, vai se arrumar antes que o café esfrie.

Juntando todas as suas forças em um ímpeto de coragem e motivado por um café da manhã atrativo, Minho foi resmungando o caminho todo até o banheiro.

Após escovar os dentes, ele entrou no box e deixou a água fria espantar a letargia que já estava incomodando seu sistema nervoso e o deixando com raiva. No mais, não se preocupou em se arrumar devidamente, pouco incomodado com a cara inchada de sono. Vestiu jeans e um moletom confortável, se limitou a tirar a umidade dos cabelos com um secador e saiu do quarto, apenas.

O apartamento não era tão pequeno, mas, sendo dividido por quatro pessoas, era normal que alguns montinhos de bagunça se acumulassem aqui e ali, uma vez que os residentes passavam a maior parte do dia ou da noite - fora e não tinham muito tempo para se preocuparem com a arrumação do lugar, só o fazendo durante os fins de semana.

Minho passou pela sala e encontrou alguns livros amontoados na mesinha de centro, junto com dois copos de café vazios e uma jaqueta de couro perdida. Ele tinha uma leve lembrança de ter deixado um daqueles copos ali, e seu senso mandou que recolhesse os dois. Chegando à cozinha, a cena que já estava tão acostumado a ver todos os dias se repetiu pela enésima vez.

Jennie dividia seu espaço na mesa com um livro da faculdade e um prato de torradas com geleia de morango, sempre estudando feito louca para as provas que ainda seriam aplicadas no fim do período. Ao seu lado, Felix assoprava a xícara de café fumegante com cuidado enquanto Changbin descansava a cabeça sobre o ombro do australiano, ocupado demais com o celular e um pedaço de bolo.

Minho não sabia ao certo quando foi que o Seo se mudou definitivamente para aquele apartamento. No início, quando começou a namorar Felix, suas visitas eram tímidas e ocorriam só nos fins de semana, mas, conforme o tempo foi passando, os dois começaram a dividir a cama e Changbin não conseguia mais ir embora, porque Felix sempre fazia manha até convencê-lo a ficar um pouco mais. Desde então, encontrar o moreno pelos cômodos independente da hora ou do dia virou rotina, e tanto Minho quanto Jennie estranhariam caso não o vissem mais. Apesar da estranha obsessão por preto e a falsa áurea pesada - já que ele era um docinho, como Felix mesmo dizia, Changbin se tornou parte essencial daquela pequena família.

-Olha, ele saiu do coma - o único ruivo presente brincou após Minho deixar os copos sujos dentro da pia. - Achei que houvesse virado parte do colchão.

Era assim: você confiava nas pessoas, fazia favores, dividia uma vida com elas e não podia tirar nem umas horinhas de descanso sem que as mesmas pegassem no seu pé. Novamente, amizade é tudo.

-Bom dia pra você também - respondeu Minho, irônico, deixando seu corpo cair na cadeira vazia ao lado de Changbin.

- Como foi a noite de sábado? - indagou Jennie, sem tirar os olhos do livro.- Queria ter perguntado antes, mas você meio que hibernou.

-Um tédio, mas eu descobri uma coisa - Minho fez uma careta ao tomar um gole do café, se amaldiçoando mentalmente por não tê-lo assoprado antes, e se virou para Changbin. - Sabe o Jisung?

- Aquele que nós estávamos falando mal na semana passada? -o moreno ergueu a cabeça do ombro do namorado e deixou o bolo e o celular de lado por um momento.

Não era bem falar mal, mas os quatro haviam se juntado na hora do almoço para debaterem sobre o quanto o relacionamento do Han com Bang Chan era estranho, e acabaram por chamá-lo de trouxa pelo fato de ele não perceber que o australiano pintava e bordava bem embaixo do seu nariz.

- Uhum. Ele caiu no meu ramal e disse que levou um pé na bunda, parecia arrasado.

- Nossa - Jennie fez um biquinho triste. - Não que eu esteja surpresa, afinal, não foram poucas as vezes que vimos Chan de gracinha com Seungmin, mas mesmo assim...

- Chan foi um covarde - disse Changbin. - Se ele queria ficar com Seungmin ao invés de Jisung, devia ter sido sincero desde o início, não insistido naquela ideia de casamento mesmo sabendo que ia deixá-lo depois.

- Ele pode ter os motivos dele - Minho deu de ombros. Por mais absurdo que pareça, não gosto de fazer julgamentos antes de ouvir os dois lados da história.

- Ainda assim, acho que foi uma grande sacanagem. Mas enfim, o que você disse pra ele?

- Tentei distraí-lo, falei umas bobagens, coisa do tipo. Acho que agora ele precisa mais de um amigo do que de um projeto de psicólogo por telefone que se esqueça dele assim que a ligação for encerrada.

Imediatamente, Felix ergueu uma sobrancelha e lançou um olhar presunçoso ao Lee mais velho.

- E você quer ser esse amigo?

Minho deu de ombros novamente.

-Talvez, por que não?

O ruivo soltou uma risadinha e bebericou o café que ainda estava em sua mão.

-Perder tempo pra que, né?

-Ei, não é nada disso que você está pensando.

-Ah, Minho, conta outra - Jennie também riu, porém menos presunçosa que Felix e mais interessada no assunto. - Você é péssimo em disfarçar, já te flagramos secando o Jisung nos corredores inúmeras vezes.

-Eu não estava secando ele - Minho franziu o cenho. Estava só observando.

Era verdade que, de vez em quando, se pegava fitando o Han sem nenhum motivo sólido, mas era só isso. Óbvio que Jisung chamava atenção por ser muito bonito, mas Minho nunca o olhou com segundas intenções, afinal, ele estava prestes a se casar e não fazia parte do seu feitio dar em cima de pessoas comprometidas, tanto que o "sentimento" que nutria por ele nem podia ser intitulado como crush, mas talvez como um tipo de admiração ou coisa parecida, só isso.

- É assim mesmo que começa disse Felix, se levantando em seguida. - Só toma cuidado. Essas coisas recentes são complicadas.

- Isso é verdade - Jennie também se levantou e enfiou os livros na mochila. Nessa de estudar demais, seu café da manhã permaneceu praticamente intocado sobre a mesa. - Mas você é adulto e creio que saiba se cuidar bem. Agora vamos, é o penúltimo semestre, tem TCC e não podemos nos atrasar por bobagem.

Minho decidiu não retorquir as palavras de Felix, já que uma parte sua tinha plena consciência sobre a veracidade delas, e também porque não podia perder a aula do primeiro horário de jeito nenhum, pois era a matéria em que tinha mais dificuldade.

Sendo assim, ele terminou o café rapidamente e ajudou Changbin a guardar metade das coisas na geladeira, fazendo uma nota mental de não se esquecer de lavar toda a louça quando chegassem, visto que sua vez de ter o feito foi no dia anterior, mas não realizou a tarefa por ter dormido demais.

Listen to me - Minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora