1. Prólogo

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Eu sempre odiei a ideia de vida, morte e contos de fadas, nossa, quem pelo amor de Grimm pensou nesse mundo terrivelmente enganador, feito para criancinhas, pera aí, definitivamente isso não foi feito para criancinhas porque quando você cresce, descobre que todos os enfeites da Disney, são só enfeites, e mulheres não precisam de príncipes encantados para serem salvas, sabe, eu fico pensando em todo aquele universo e nossa, sério, quem teve a maldita ideia da Branca de Neve correr para a floresta e entrar em uma cabana no meio do nada? Isso nem faz sentido! Branca de Neve querida, sete homens e uma cabana no meio da floresta? Você definitivamente não conhece o mundo real, isso é essencial para a sobrevivência, VOCÊ NÃO ENTRA NA DROGA DA CABANA, eles podiam ser uma seita satânica, ou no pior das hipóteses, uma convenção de serial killers, não que as outras opções também não sejam ruins o suficiente, vocês entenderam, o foco aqui é que os anões acabaram sendo apenas mineradores, santa fada madrinha.

Paro olhando ao meu redor, estranhando a rapidez que tudo se passava diante dos meus olhos, eu poderia dizer que era uma cena de filme com efeitos especiais ou eu apenas havia usado drogas demais. Mas há dois problemas nisso, primeiro, eu não estou em um filme e segundo, não uso drogas ilícitas.

Eu podia ver todos ali, mas todos passavam por mim como se eu fosse... um... fantasma. Completamente ignorada, eu caminhei por entre aquele tanto de pessoas, e foi quando eu vi, era eu ali no chão, com os olhos abertos e uma expressão de raiva. Não sei o porquê e nem quem havia feito aquilo, mas com certeza se eu tivesse sobrevivido, eu saberia. Espera, eu estou mesmo morta?

Olho de um lado para o outro na tentativa de falar com alguém, mas ninguém realmente me ouvia, ou via. Vi quando meus pais e meu irmão chegaram até a linha de não ultrapasse da polícia e vi quando meus melhores amigos e meu namorado também apareceram ali, eles pareciam tristes, mas seus olhares eram vazios, será que eu fazia tanta falta assim para eles?

— Vida após a morte é um saco, eu sei – ouço alguém dizer, e olho ao redor, será que estavam falando comigo? – espírito cruel, seja bem-vinda a agência do além, ao setor dos contos de fadas, podemos conversar em um lugar menos... caótico?

Continuei olhando para todos os lados, havia muitas pessoas ali, como eu podia ouvir aquela voz, mas não as outras?

— Oh! Não tá me vendo não? – ouço novamente e semicerro os olhos na direção de um ser muito excêntrico, eu diria.

— E você é? – pergunto entediada, agora pronto, um ser do além para atrapalhar o meu momento de... eu diria momento de morte? Será que alguém se aproveita disso?

— Lalisa Manoban, fada madrinha suprema – ela fala e eu franzo o cenho, isso é sério? Sério mesmo? Eu só posso ter sido castigada, isso é um engano, eu quero morrer de novo, dessa vez do jeito certo, por favor, alguém me leve – a Born Pink foi criada para pessoas como você queridinha, isso não é um engano, mas definitivamente um castigo.

— Tá de sacanagem comigo? Born Pink? E por que eu estaria aqui? Alguém te disse que eu odeio contos de fadas?

Ela me dá uma olhada meio... debochada? Sim, eu diria debochada, definitivamente havia deboche ali, quem ela pensa que é? Eu sou Jeon Mi-So, essa garota enlouqueceu, se ela pensa que eu vou ficar aqui, ah, ela tá mesmo enganada.

— A Born Pink recruta pessoas como você para consertarem o fluxo dos contos de fadas, no seu caso, você tá muito ferrada.

— Pera aí, que história é essa que eu vou ter que trabalhar? Ninguém me disse nada disso antes de morrer, não quero mais, eu quero voltar – esperneio no chão, como uma criança birrenta e a vejo fazer careta para mim.

— É uma daquelas – ela revira os olhos e estala os dedos, logo fazendo toda a cena de crime desaparecer e nos fazer surgir em uma sala branca, nada original Manoban, nada original – bem senhorita, deixe-me dizer exatamente como isso aqui vai funcionar – ela pigarreia e se senta sobre o banco – você morreu antes da hora, na verdade, não era assim que o seu destino tinha sido escrito, e por causa disso, precisamos te mandar de volta, porque sua morte gerou um caos catastrófico, ao ponto de todos terem sido lançados no mundo real, e agora isso implica em muitas coisas, principalmente na sua missão de vida.

Eu acho que ela está delirando, definitivamente ela está, será que alguém deu cogumelos a ela? Ou seria pozinho de fada? O que será que as fadas madrinhas ingerem para ficar chapadona?

— Senhorita – ela chama alto, me assustando do meu breve devaneio nada saudável sobre drogas – a administração decidiu que precisamos te mandar de volta para cumprir o seu destino, e para isso, precisa descobrir quem te matou, enquanto faz bem a cinco pessoas que eram verdadeiras com você na sua vida interrompida, e precisa recriar os contos de fadas com seus novos pares.

— Não dá pra fazer o bibidi bobidi bu e consertar toda essa bagunça? Veja bem meu ponto de vista, vocês sabem quem me matou, sabem quem encaixaria melhor com cada conto de fadas e com certeza viram que eu não sou do tipo que faz bem as pessoas, eu odeio pessoas, e odeio contos de fadas. Eu não posso simplesmente me deitar na rede e fingir que sou burguesa?

— Olha, essa é a sua redenção, caso contrário, não vai ter rede e morte burguesa, será apenas frio e caos.

— Frio? Tipo, a minha versão de Elsa e meu namorado incrivelmente lindo de Jack Frost? – pergunto um tanto interessada.

— Ex-namorado – ela debocha, me fazendo estalar a língua, detalhes – e o seu conto de fadas, você escolhe.

— Eu posso escolher qualquer um pra qualquer pessoa do meu círculo de amizades? – pergunto interessada, diabólica eu diria, mas como estou tentando parecer um anjo, vamos fingir ser boazinha.

— Não, e para isso você terá três pessoas ao seu dispor para te ajudar a acertar o conto – ela dá de ombros despreocupada – e então, é pegar, ou largar.

— Inferno de tobogã? – pergunto e ela afirma com uma falsa compaixão, que fada madrinha mais cínica – então eu aceito né, fazer o que.

— Ótimo, então vamos lá – ela apenas se levanta e sai andando.

De repente me senti em Harry Potter no véu, depois de Voldemort matá-lo, opa, spoiler. Enfim, essa é a parte que eu descubro que na verdade eu sou uma bruxa e esse tempo todo fui uma horcruxe de algum bruxo do mal?

— Pare de sonhar garota, Harry Potter não é real, e se ele tivesse morrido, com certeza não o mandaríamos de volta, revivê-lo é pior do que permitir reviver os Winchester.

— Você não tem senso de humor não, Lalisa?

— Pra você é fada madrinha.

Franzo o cenho e rio, desde quando essa rabugenta é uma fada madrinha suprema? Logo ela que parece mais trevosa que as próprias trevas. A sigo até pararmos em frente a duas portas.

— Bem, a partir daqui é com você e suas mentoras, as conhecerá no mundo dos humanos, elas serão invisíveis aos outros, mas visível para você – ela avisa e me entrega uma varinha mágica, finalmente, Hogwarts estou indo – seus amigos e familiares vão se lembrar que você quase foi assassinada, nada mudou além disso, faça tudo certo, ou...

— Vou para o inferno de tobogã – retruco entediada e ela sorri, fazendo um joinha.

Passo direto por ela e viro apenas a cabeça.

— Fighting – ela incentiva e eu reviro os olhos.

Bem, seja lá quem tenha me assassinado, ou quem eu vou me tornar, fique sabendo que eu estou de volta na minha missão, fada madrinha, aqui vou eu vadias.

Missão, Fada Madrinha | BTSWhere stories live. Discover now