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Havia acabado de fazer dezesseis anos quando comecei na Townsite, um processo bem simples. Estava cansado de Moira. Ela nunca tinha dinheiro para nada e já era o terceiro dia daquela semana que eu precisara voltar da escola a pé, pois não tinha sequer moedas para o ônibus.

Havia um cara na aula de Artes Visuais que Agatha frequentava, no ano passado. Um veterano chamado Roy, que usava o rabo de cavalo mais zoado da escola toda. Ela escutara o tal Roy reclamando sobre ter que ficar na loja depois da aula, ajudando o pai, já que a garota que trabalhava lá havia pedido demissão e saído do país.

Agatha me contou no intervalo que talvez o pai dele estivesse procurando alguém para substituir a tal garota. Eu poderia oferecer meus serviços e assim, teria meu próprio dinheiro, sem depender tanto de Moira. Não havia motivos para o dono da loja não me contratar. Qualquer opção deveria ser melhor do que Roy.

Cidades pequenas como Powell River dispensam certas cordialidades. Apresentações eram uma delas. O Sr. Turner já sabia o meu nome, assim como eu o dele. Conhecia Moira e a fama nada boa que a rondava, assim como eu já havia ouvido os boatos da plantação de maconha que o filho dele, Roy, mantinha em algum lugar escondido. Assim, eu só precisei perguntar se o Sr. Turner precisava de ajuda e um minuto depois, estava contratado.

Enfio as mãos no bolso do moletom quando o vento frio sopra. A proximidade com o mar garante ventanias poderosas no fim da tarde à cidade toda. Daquelas capazes até de dobrar pinheiros e fazer latas de lixo rolarem pelas ruas.

Não posso ouvir o barulho das árvores inclinando-se nas laterais da estrada devido a música alta nos fones de ouvido, mas a sensação do vento passando pelas minhas roupas e fazendo meus olhos lacrimejarem é bastante incômoda.

Sinto uma presença ao meu lado e posso sentir os passos dele ecoando no fundo da minha mente. Dave aparece e caminha próximo a mim pela rua deserta, como uma maldita raposa tentando roubar comida. Tento não lhe dar atenção, mas é difícil ignorar a intensa vontade que ele implanta na minha cabeça: deixar o Sr. Turner na mão, não ir trabalhar hoje e usar o tempo livre para encher a cara de álcool ou algo mais pesado.

Me concentro na música e continuo andando em frente, cantarolando baixinho, até que consigo tomar o controle e me afastar da presença dele. Enfim, chego a Townsite. Trata-se de um estabelecimento pequeno, com uma ampla janela na área onde ficam algumas mesas de metal e a máquina de café. O lugar se parece com uma loja de conveniência de algum posto de gasolina, mas diferente destas, está quase no meio do nada.

Entro e sou recebido pelo ar agradável do aquecedor. Tiro os fones de ouvido e deixo que eles fiquem suspensos pela gola do meu moletom. O Sr. Turner está no caixa, remexendo em alguma coisa, usando a camisa de manga listrada e os suspensórios de sempre.

— Boa tarde, Ian — ele me cumprimenta, fechando a caixa registradora, quando me aproximo para pegar o avental embaixo do balcão. — A gente tem que andar com uma âncora pra não sair voando com um tempo desses, hein?

— É, ainda bem que vou ficar aqui dentro pelas próximas horas — respondo, amarrando as alças daquela coisa ao redor do pescoço.

Não tenho do que reclamar do emprego, da loja, ou do Sr. Turner. O salário que ele me paga é até maior do que mereço e ele sempre tenta entender os motivos das minhas faltas. Contudo, não posso negar o quão ridículo é este avental.

A frase "Bem-Vindo a Townsite" está bordada em enormes letras vermelhas, numa fonte torta. Abaixo, há uma ilustração de um arco-íris sobre uma cidade feliz e ensolarada. Talvez uma criança tenha desenhado aquilo antes de ser estampado no tecido laranja do avental. Mas o pior de tudo é o que se encontra a altura da minha virilha. Um pedaço do mesmo tecido laranja havia sido costurado para formar um bolso. Ao redor dele, alguém teve a brilhante ideia de prender várias tiras de babado rosa, como se houvesse uma enorme roupa íntima de bebê recobrindo meus genitais.

O Sussurro do VentoWhere stories live. Discover now