XXX - Sobre um sangrento coro de batalha

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Depois que a conversa acabou, um peso de 23 anos pareceu escorrer para fora de seus ombros. As mulheres evitaram olhar ara ela com tanto afinco quando saiu da barraca, pareciam querer que ela se sentisse parte integral do grupo. Viu um vulto correr em sua direção e, antes que pudesse discernir, um corpo colidiu com o seu e braços enrolaram ao redor de seu corpo.

— Eu fiquei tão preocupada — a voz doce ecoou em seu coração como as badaladas de um sino. — Como meu irmão pode deixar você assim? Você está ferida e...

Urd afastou-a de seu peito, olhando para seus olhos.

— Eu estou bem — disse simplesmente, apesar de não estar.

— Vamos, você precisa descansar para estar forte na batalha.

Gaye arrastou-a pela clareira até uma barraca menor, nos fundos. Lá dentro havia somente uma cama de solteiro e uma pequena mesa, onde repousava uma caixa de madeira.

— Você também vai lutar? — Perguntou enquanto se sentava.

— Vou sim, estive treinando desde que tivemos aquela conversa.

— Talvez não devesse, não quero que se machuque.

— Você sabe que eu devo.

Gaye se sentou ao lado dela e as duas se viraram, uma de frente para outra. Sem dizer mais nada, Urd desabotoou a camisa e deixou que a princesa visse seu ferimento já quase totalmente cicatrizado. Um corte grotesco, que contrastava morbidamente com uma queimadura terrível e antiga. A jovem deslizou os dedos suavemente pela pele da noiva do irmão, que emitiu um suspiro grave, repleto de eletricidade.

— Preciso dizer, isso também é por mim, porque Gawain sempre tem tudo o que quero, e não deveria ser assim.

Urd segurou seu pulso quando começou a descer mais a mão, e as duas olharam-se profundamente, no centro mais obscuro de seus olhos.

— Não quero deixar pendências, então saiba que eu poderia te amar um dia, e que esse dia provavelmente não demorará a chegar.

Gaye segurou o rosto dela e a beijou, depois de tantos meses era como se aquele fosse seu primeiro beijo de novo. Urd segurou-a com firmeza pela cintura e a empurrou para que se deitasse na cama, traçando uma trilha com os próprios lábios por seu queixo, enquanto lhe desabotoava o vestido e descia pelo pescoço, pela clavícula, até os seios.

E, enquanto as duas compartilhavam a existência sincera uma da outra, as gargantas da esperança e do rancor ferviam em um cântico de batalha lá fora:

"São noites em que os mortos se levantam

Partem

Dançam

Festejam

Os perdedores

Os moribundos

Os filhos da peste

Os vermes se apoderam de seus corpos

Veias e artérias cortadas pelos caminhantes pútridos

E é apenas isso

Eles retornam

E apodrecem

Perecem

Morrem..."

***

N/A: Os próximos serão os últimos capítulos, então aguardem!!!

Obrigada por acompanharem até aqui ^^

De Trevas e Sangue  [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now