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                           𝗥𝗮𝘆𝘀𝘀𝗮 🌪️

Desci do onibus e fui andando pela rua vazia enquanto olho o sol nascer e a musica alta do fone soa em meus ouvidos.

Em plena quarta-feira passando essa humilhação, vim pra faculdade agora cedo e saio daqui no horario do almoço pra trabalhar.

Tô de folga na cliníca hoje mas faço unha de fibra lá pelo morro quando to precisando de uma graninha, não ganho muito no meu atual emprego e duas mulheres quiseram marcar comigo hoje um atendimento a domicilio.

Vou aproveitar pra investir esse dinheiro em mim, comprar umas roupas na shein e ir fazer o cabelo.

Entrei na faculdade e fui direto pra comprar algo pra comer já que não deu tempo de tomar café e quase perdi o onibus.

Comprei um suco de laranja e um lanche natural, to tentando começar a ser saudavel e quero até entrar na academia, mas falta coragem.

Comi um pouco e guardei o resto na mochila, subi as escadas e fui pra minha sala.

Consegui bolsa de 60% na Estácio e começei esse ano, não gosto muito do povo aqui, bando de narizinho empinado que só sabem falar de quantos carros o papai tem.

Coloquei todas as minhas coisas em uma mesa na frente e me sentei.

Logo a aula começou e eu abri o caderno fazendo minhas anotações de sempre, ou tu faz por conta propria ou não faz, aqui não tem professor pra pegar na tua mão e escrever na lousa pra você copiar, cada um por si.

[...]

Depois de passar a manhã toda com dor de cabeça e sono tava na hora de eu ir embora, queria eu chegar e descansar.

Arrumei as minhas coisas e peguei meu celular avisando as clientes que eu já tava a caminho do morro.

- Parece que a Estácio ta metendo um monte de favelado aqui dentro, sem condições de pagar isso aqui todo mês e ter que conviver com gente daquele tipo de lugar. - Virei meus olhos respirando fundo, não vou perder tempo com essas patricinhas mimadas.

Namoral maior palhaçada, elas nunca nem devem ter visto uma favela fora do que a midía mostra e ficam falando merda, sorte a delas que não posso perder minha bolsa.

Passei a mão no meu cabelo arrumando e fui pro lado de fora esperar o onibus, maior sol e o ponto lotado, já me estresso.

Preciso ir embora logo e o caralho do onibus não chega, tentei ligar pro Brayan mais ele nem me atendeu, pelo visto vou ter que pagar uber mesmo pra chegar no horario.

>>>

Desci do carro de aplicativo que parou com uma distancia da entrada do morro porque não pode entrar, a menos que tu queira levar um tiro na testa.

Passei pela barreira comprimentando alguns meninos que eu conheço. Fui andando rapido pela calçada e entrei dentro de casa, minha vó tava na casa de uma amiga então fui direto pro banheiro.

Me arrumei colocando uma calça leggin preta e um cropped fresco. Peguei todas as coisas que eu ia precisar, avisei a cliente que eu estava indo e ela me confirmou o endereço.

Tranquei a porta com meu celular na mão e desci a rua pra ir pra casa da cliente.

>>>

Terminei os dois atendimentos de hoje e me rendeu trezentos e cinquenta reais, vou guardar a maior parte e o resto já vou comprar roupa e usar em rolê.

Mandei mensagem pra Karina avisando que ia pra casa dela renovar nossa marquinha já que ainda são três da tarde, tem um solzinho e acho que dá pro gasto.

Passei em casa e coloquei um biquini rosa básico que uso sempre pra marquinha e peguei um bronzeador pra dar um ajudada.

Minha avó ainda não tinha chegado então saí rapido e fechei a porta.

Abaixei meu short jeans mas não adiantou muita coisa. Fui descendo a rua e fiquei nervosa quando tive que passar em frente a uma boca de fumo.

Senti uma mão no meu ombro e me virei olhando pra trás.

- Short curto pra caralho hein Rayanne.

- Quer me matar do coração Peixe?

- Me chamando pelo vulgo, me amarro.

- Vai vender tuas maconhas garoto.

- Tu só me esculacha vida, to esperando o dia que vou poder pegar você. - Cruzei os braços olhando pra cara dele e ri. Me aproximei um pouco dando um beijo no canto da boca dele.

- Sempre soube que tu queria me pegar, desde pequeno.

- Quero mais que isso ae, qualquer dia me chama lá pra tua casa pô.

- Pervertido. - Ele sorriu pra mim e voltou pra boca quando um homem alto e com uma corrente com algo escrito parou a moto um pouco distante.

Ele parecia procurar alguma coisa com o olhar e parou em mim encarando cada canto do meu corpo, senti um frio na barriga com um gatinho daquele me olhando.

Quebrei a troca de olhares me virando e voltando a seguir o caminho da casa da Karina.

Ele com certeza deve ser envolvido e eu to fora de problema pra minha vida, nem vou olhar muito.

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𝗡𝗮̃𝗼 𝗲𝘀𝗾𝘂𝗲𝗰̧𝗮𝗺 𝗱𝗲 𝘃𝗼𝘁𝗮𝗿 𝗲 𝗰𝗼𝗺𝗲𝗻𝘁𝗮𝗿. 💋

Meu Talismã - MORRO (degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora