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Já havia jantado e tomado um banho para relaxar os músculos de meu corpo que estavam dolorido, havia preparado uma bolsa com alguns itens que eu julgava ser de extrema importância para mim, sabia que os guardas estariam levando alguns suprimentos para a viagem então ficava mais despreocupada em relação a comida e a ter água para tomar. Eu pensava em colher algumas ervas do jardim que havia observado quando estava lá, entretanto não julguei ser tão necessário assim, já que estaríamos em uma floresta e possivelmente teria inúmeras ervas das quais poderia utilizar caso alguma coisa acontecesse.
Estava sentada na varanda de meu quarto enquanto observava a lua que estava mais brilhante que o normal, não sabia o que aconteceria daqui em diante e eu tentava conter meu medo e não ser dominada por ele novamente, não sabia o que mais me apavorava exatamente, talvez o futuro incerto, o caminho desconhecido pela qual iríamos enfrentar por alguns meses. Dentro do meu quarto havia um vestido pendurado que seria para eu usar no baile, eu julgava se seria uma boa ideia aparecer após ter avisado ao príncipe que não tinha nenhuma vontade de ir, o vestido era belíssimo em uma tonalidade de vermelho que realçava a cor dos meus cabelos, vestir aquilo me daria uma sensação de poder imensa, uma confiança que eu nunca tive antes, como se eu realmente fosse dona do meu próprio destino.
Eu sabia que seria uma péssima ideia, mas eu estava com a tentação de ao menos chegar perto daquele baile, eu conseguia ouvir os sons da música soando pelo meu quarto, imaginava em como aquilo estaria animado, e nunca havia ido para baile algum. Sabia que teria inúmeros para ir e para preparar assim que me casasse com o príncipe, minha presença seria inevitável em todos eles, mesmo que fosse contra minha vontade. Eu sabia quais eram os deveres de uma rainha com o seu rei e seu reino, Aric não teria feito o acordo se não acreditasse que eu fosse capaz o suficiente de aguentar tudo isso firmemente, sem reclamar ou desistir no mesmo instante, pelo menos eu gostaria de acreditar nisso.
Inclinei minha cabeça para o outro lado notando algumas carruagens que ainda estava chegando, eu precisava ter uma sensação nova antes de partir para uma missão suicida, eu precisava começar a me arriscar e sentir a sensação do perigo, e acima de tudo a confiança em mim mesma que daria tudo certo. Eu estava decidida que iria, e ao firmar isso em minha mente tendo absoluta certeza que eu estava pronta, me levantei e voltei para dentro indo começar a me arrumar. Meus músculos ainda estavam doloridos mas isso não seria um empecilho para me fazer parar e desistir, não quando eu já estava sentada sobre a penteadeira fazendo algum penteado prático, já que eu não era a melhor das pessoas para se enfeitar e muito menos mexer com o cabelo, era somente algo para que eu não ficasse tão comum em meio a tantas pessoas. Havia feito duas tranças pequenas no cabelo para dar um certo charme, deixando o restante solto.

Havia parado em frente ao vestido enquanto o admirava, era um desperdício não usar aquilo enquanto haviam feito tanto por mim para procura-lo. O tecido era fino e leve fazendo com que meus passos não fossem tão complicados dentro daquela roupa.
Não sabia exatamente quanto tempo havia se passado desde que comecei a me arrumar, mas julgando eu daria por volta de uma meia hora talvez. Eu estava pronta e me analisava em frente ao espelho, gostando do resultado que estava ali, eu me sentia verdadeiramente bonita após muito tempo, me sentia a vontade e com orgulho da pessoa que eu era e que havia sido criada para ser, mesmo que naquela noite me comparassem a qualquer mal existente, nada me abalaria mais.

Se o príncipe queria tanto uma rainha, então eu seria sua rainha, da minha forma mas seria.

Havia saído do quarto enquanto caminhava pelos corredores em direção a escada, não optei por usar um salto já que aquilo era algo que me machucava e incomodava, um sapatinho seria mais prático para dançar caso fosse preciso, além de me sentir mais a vontade para andar pelos lugares.
O salão de festas estava logo a minha frente no momento em que desci o último degrau, as portas estavam abertas e eu já conseguia notar a luminosidade dentro juntamente com a decoração padrão, o som da música começava a se misturar com o barulho das conversas mesclando os dois, era impossível entender qualquer uma das palavras que era proferida na canção, e eu já havia desistido de tentar entender. Eu caminhei para dentro enquanto observava melhor, quase ao meu lado havia mesas repletas de comidas e guloseimas, doces e salgados de diversos tipos para agradar ao paladar de todos, além da diversidade de bebidas que estavam distribuídas nas mesas. Não estava com fome então não achei uma boa ideia forçar algo, apenas caminhei para o meio do salão passando pelas pessoas enquanto procurava por Elena, na esperança de encontra-la ali e poder conversar com ela e tentar ao menos me explicar, caso a mulher não confiasse em mim.

Era impressionante a forma como todos estavam entretidos a ponto de não repararem quem eu exatamente era, eles me notavam e elogiavam mas eu duvidava muito de que sabiam que na realidade essa mulher que estava vestida de forma tão elegante, era a mesma mulher chamada de diabo pelas pessoas da cidade. O aperto entre todos começava a me incomodar ainda mais quando a dificuldade para passar era imensa, eu procurava com os olhos a menina loira tentando a achar até que no minuto exato em que eu estava prestes a desistir, eu a avistei.

Elena estava próxima a mim encostada em um canto apenas aproveitando a música, eu sabia que ela não estava se divertindo tanto quanto era esperado de uma festa, não sabia se isso devia por minha causa e por todo o tumulto que fora causado um dia antes, ou pelo simples fato de que talvez a festa não fosse tudo isso como era falado por aí.

– Eiii – Eu acenei com os braços no momento em que ela se virou e me viu, um sorriso iluminou seu rosto me fazendo ter vontade de chorar, eu corri para perto dela dando um abraço de urso na mulher. Aquele sorriso havia me quebrado por inteira, saber que ela não me odiava totalmente e que ainda tinha uma pequena esperança dela acreditar em mim e me ajudar.

– Eu fui na sua casa hoje cedo e você não estava, eu pensei que talvez iriam te liberar logo assim que notasse que você era inocente. O que aconteceu? E meu Deus, que vestido é esse? Você está maravilhosa garota, me conta tudo.

Ela falava depressa ansiosa para saber tudo o que havia acontecido em tão pouco tempo, até eu mesma estava surpresa na reviravolta que minha vida havia dado.
Eu sabia que era arriscado demais falar sobre isso dentro do baile, palavras tinham poder e as pessoas poderiam ouvir aquilo e usar contra mim, ou até mesmo contra o príncipe. Não poderia arriscar a segurança dele, a minha e a da minha própria amiga.

– Eu não posso explicar totalmente, é arriscado demais, mas o que você deve saber é que amanhã eu estarei partindo da cidade. Vou ir com os guardas a procura de quem é o responsável por isso... – Antes que eu pudesse sequer continuar a falar, senti um aperto em meu braço e alguém me puxando para longe, olhei vendo que era Artemys que estava fazendo isso. Minha amiga nos olhava preocupada e eu apenas dei um último aceno a ela, já que aparentemente não conseguiria voltar a ve-la tão cedo assim, meus últimos momentos foram estragados por um brutamontes que não tinha o mínimo de educação possível.

– Quem você pensa que é? Não havia falado que não iria na festa para o príncipe, porque decidiu aparecer do nada? Você não pensa nas consequências que isso poderia causar se fosse vista sem estar ao lado do príncipe? Sobre como pensariam que ele é fraco por te deixar livremente assim?! – Ele gritou as palavras no momento em que chegamos ao corredor em que ficava meu quarto, seus olhos transmitiam a raiva e sua reação era pior ainda. Mas ele não tinha direito algum de falar comigo dessa forma, não dei autoridade para ser tratada assim, mesmo que eu estivesse apenas solta por conta de um acordo com o príncipe.

– Você nunca mais ouse gritar comigo, entendeu? – Eu apontei um dedo na cara dele com ódio, queria xingar e bater nele por me tratar assim sempre, como se eu realmente fosse a culpada de tudo que havia acontecido. – Eu não sou uma bonequinha que vai ser usada da forma que vocês desejam, ele não me falou nada sobre importância e eu estar ao lado, a culpa não é minha se vocês transmitem informações incompletas sobre algo. Então dá próxima vez, seu idiota, vê se avisa as coisas com antecedência explicando, eu não sou obrigada a ouvir alguém brigando comigo e gritando, e muito menos me tratando desta forma.

Terminei de falar e olhei em seus olhos, me virei e apenas voltei para meu quarto rapidamente, batendo a porta com força e me jogando sobre a cama, demorei algum tempo para conseguir adormecer.

Coração de Bruxa Where stories live. Discover now