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Sirius se olhava no espelho pensando, outra vez. Aquilo ocorria pela quarta vez na semana. E era segunda-feira.

Definitivamente era do queer, mas sentia que não era aquilo exatamente.

Foi percebendo que havia dias que sentia vontade de estar com as meninas, fazer o que elas faziam, e o mais estranho: ser tratado como uma. Aquilo não era de agora, sempre foi assim, apenas notou mais tarde. Mas... não era sempre assim, aquilo variava em questão de semanas, dias ou até mesmo horas, o confundindo mais. Poderiam dizer que Sirius era trans, mas isso não seria ser apenas uma garota com pênis? Não era isso, só algumas vezes. Outras vezes ele era definitivamente um garoto, queria estar com os garotos, fazer o que garotos fazem e ser tratado como um. Outras vezes ela não se encaixava em nenhum dos dois, não iria se sentir bem em ser tratada de nenhuma das duas formas, não era nenhum. O mais frequente era se sentir bem das duas formas, de qualquer uma delas, sendo tratado como garota ou dizerem que ela é um garoto, iria ficar feliz de todas as formas.

Percebeu isso depois de um pouco mais que um mês desde o seu primeiro encontro com Remus. Viu que poderia ser os dois, de formas e frequência inéditas. Não sabia o que era aquilo, absolutamente não era normal, mas era assim que se sentia. Demorou pra entender, mas viu que era aquilo, com ou sem explicação.

Talvez ele fosse o problema, mas não sabia resolver, tentou mudar, mas não obteve resultado além de crises de ansiedade e disforia.

Sempre se pegava pensando, e se ela estivesse confusa? Não saberia tão cedo. Só sabia que por enquanto ia se sentir bem assim.

Não explicou exatamente para Marlene, mas ela pareceu ir entendendo.

Sempre o chamava para as noites das garotas nas sextas, e as outras a aceitavam sem nem perguntar e aquilo era incrível. Quando ia sendo uma garota era melhor ainda, se sentia ela mesma, se sentia bem, era ótimo a tratarem como elas se tratavam. Dançarem e cantarem "Girls Just Wanna Have Fun" como se ela não fosse a "diferente" ali, maquiarem umas as outras, experimentarem roupas emprestadas, fazerem as unhas e os cabelos, contarem segredos e reclamarem de garotos. Não sabia que precisava disso tudo até ter.

Ia também sendo garoto, aí era diferente, se elas estranhavam não diziam, era como se soubessem ou só não ligassem.

Isso foi uma das coisas que o fez se entender, outra também foi com os primeiranistas.

Isso ocorria há alguns anos, mas ela nunca ligou, sempre se dizia garoto. Alguns primeiranistas quando conversavam com ele ficavam confusos e perguntavam "Moça ou moço?" e ela às vezes tinha vontade de dizer que era 'moça', então começou a dizê-lo quando queria, assim foi variando e viu que ficava bem assim.

Ela definitivamente fluía entre os gêneros e começou a entender isso, assim como Marlene o entendeu.

Ainda estava difícil aceitar, mas estava começando a se acostumar com a ideia.

-Sirius! -Ouviu James batendo na porta- Não vai sair daí de dentro não? Temos treino agora, se não se lembra.

-Já estou indo!

Terminou de se arrumar e prendeu o cabelo em um coque.

-Pronto, Prongs.

-Vamos logo. Você vem hoje, Remus?

-Vou, o último treino antes do jogo, não é? -Fechou o livro que lia e se levantou.

-Não vem com essa que eu sei que você vai só pra ver o Sirius.

-Fazer o quê, não é? -Deu de ombros.

Padfoot foi até o namorado e o deu um selinho.

-Eu não me importo.

-Já desisti de ser padrinho de vocês.

O casal revirou os olhos e os três seguiram para o campo.

Sou Eu o Problema?Where stories live. Discover now