Tava na cara

279 39 12
                                    

Dahyun andava muito reflexiva nos últimos dias. O tempo que ela passou trancada no quarto nos finais de semana, sendo forçada pelo pai a estudar a matéria que tirou nota abaixo de 8, a fez refletir sobre um assunto que tinha mantido bloqueado em sua mente para não se sentir mais ansiosa do que já se sentia.

Ela realmente é como essas pessoas? Tipo, ela realmente gosta de pessoas do mesmo gênero que o dela? Ou apenas sente uma admiração muito forte e quer ser como elas?

Na opinião dos estudantes pelo menos, Dahyun é uma garota que se destaca nas multidões por ter uma aparência única, que chama a atenção de todos que passam por ela, inclusive a atenção de Momo, que insistia em se manter próxima da garota. E Dahyun gosta de pensar que chama a atenção de Momo, já que vê que a japonesa costuma correr das garotas que tentam flertar com ela como o diabo foge da cruz, enquanto passa boa parte do tempo com a Kim.

Durante as aulas, Dahyun acabou se perdendo em seus pensamentos e dúvidas, e se constrangia por não prestar atenção na aula. Mesmo assim os alunos não ligavam, pois ainda que ela não prestasse atenção, suas notas eram as mais altas da classe e ela não precisava se preocupar com as aulas, já que claramente já era muito inteligente.

Entretanto, a Kim não se reconhecia. Aquele sentimento estranho que ela sente quando fica perto de Momo ou quando a mesma fala consigo, já estava persistindo por tempo demais. E ela poderia contar para alguém de sua família? Provavelmente não, eles não entenderiam. Talvez sua mãe, mas seu pai era muito rígido, e com certeza acabaria com a vida da Kim mandando-a para algum internato evangélico se soubesse, já que ele pensaria que ela é como "essas pessoas".

Tudo o que Dahyun sentia era medo, vergonha, angústia. Ela não sabia o que fazer com aquilo, toda vez que olhava para Momo, sentia vontade de sentir a textura provavelmente macia do cabelo dela em suas mãos, segurar sua mão, e até mesmo sentir o cheiro do seu perfume. Mas ela não queria ser julgada, então tinha que arrumar um jeito de esconder aquilo bem fundo em seu peito, e arrumar uma forma desse sentimento não escapar.

Ela não queria constranger ninguém, nem a Hirai, e nem a ela mesma. Dahyun ainda é muito jovem, e não sabe como lidar com esse novo sentimento.

Na saída, Dahyun foi chamada a atenção por Chaeyoung, que veio correndo em sua direção com a mochila nas costas.

— Você tá bem, Dahyun? Parecia distraída na aula. - Disse fitando a Kim, que a olhou um pouco confusa.

— É, acho que sim. Devo ter me distraído. - Dahyun coçou a nuca, percebendo que realmente estava com a cabeça nas nuvens durante a aula.

— Kim Dahyun se distraindo, você realmente não tá bem da cabeça. No que pensava tanto pra isso acontecer? - Dahyun olhou para os lados e viu os alunos saindo sem se importar com sua presença ali no meio, então puxou a Son para perto dos bancos do pátio, onde não havia ninguém.

Chaeyoung aguardou pacientemente sua amiga começar a falar, sentando-se em um dos bancos e apoiando sua mochila ali.

— Você é lésbica, né? - Dahyun começou, atordoando a Son com a pergunta repentina.

— Ah... Sou. Por que?

— Pode me explicar como é gostar de garotas? O Google não explica direito. - Chaeyoung arregalou os olhos surpresa com a pergunta que Dahyun fez, mas entendeu. Sua melhor amiga precisava de sua ajuda, com certeza tinha a ver com alguém novo.

— Olha, é muito bom. - Sorriu para a amiga, que prestava atenção em cada palavra da outra. — Se sentir atraída por garotas, ou só o sentimento de gostar, é incrível. É como se você estivesse nas nuvens, como se a presença dela fosse algo mais importante que qualquer coisa. Se sentir atraída por garotas é muito melhor do que a atração por qualquer homem, já que eles não possuem muitos dos traços únicos que fazem as mulheres tão especiais.

Dahyun escutou tudo atentamente, e logo pensou em todas as vezes que ficou perto de Momo, sentiu seu perfume e até quando poucas vezes segurou sua mão quando a Hirai a puxava para algum lugar. O choque de realidade bateu em sua mente com força naquele momento.

Ela claramente gosta de garotas. E gosta de Momo.

Então...

Depois de uma hora de pesquisas no Google durante o fim de semana, e agora a opinião de Chaeyoung sobre gostar de garotas, Dahyun não podia pensar outra coisa a não ser nisso. O silêncio cresceu entre a Kim e sua amiga, a Son esperava a resposta da outra pacientemente.

— Eu... ‐ Dahyun começou, olhando para as mãos ainda atordoada. — Eu acho que gosto de garotas.

— Como eu suspeitei! - Chaeyoung comemorou, fazendo Dahyun encará-la confusa. — Posso contar nos dedos todas as vezes que eu vi você encarando gatinhas na rua comigo e as meninas!

Dahyun arregalou os olhos ao ouvir aquilo, parando para pensar. E era verdade, Dahyun costumava encarar garotas que ela achava bonitas na rua toda vez que ela saía com as amigas. Era mais um motivo para ela ter certeza que ela gostava de garotas, de alguma forma.

— Mas olha, segura a onda antes de se assumir. Quando a certeza sobre o que você é for maior, você faz isso. Por culpa de precipitação, tive que me assumir três vezes e foi difícil fazer as pessoas me entenderem. - Chaeyoung avisou, fazendo a Kim assentir aliviada por não ter que tirar uma conclusão tão rápido. — Mas enfim, por que a pergunta? Tá gostando de alguém e eu não sabia?

O silêncio de Dahyun a entregou. Chaeyoung, já conhecendo a ação da amiga, começou a rir, deixando a Kim envergonhada.

— Deixa eu adivinhar, é a Momo? - A risada da Son voltou a soar quando as bochechas de Dahyun ganharam uma cor rosada. — Não precisa se envergonhar, tava meio na cara.

— Mas é que... - Quando Dahyun ia começar a falar, uma terceira voz tomou conta do ambiente. Uma voz familiar e com um sotaque inconfundível.

— Dahyun! - Era Momo que a chamava, aparecendo no pátio acenando para a Kim e se aproximando, até notar a presença de Chaeyoung no ambiente e sorrir para ela. — Você demorou a aparecer no portão, fiquei preocupada.

Dahyun não respondeu e apenas deu um sorriso torto, e Chaeyoung começou a rir da cena. Momo olhou para a Son em confusão, não entendia a atitude da coreana menor, e Dahyun ficava ainda mais vermelha.

— Perdi alguma piada aqui? - Momo perguntou confusa, inclinando a cabeça um pouco para o lado e olhando para a Son, que parou de rir e apenas sorriu naquele instante. Ela sorriu brincalhona para a japonesa percebendo o olhar de Dahyun quase furar o rosto da mesma.

— Não, não. Eu lembrei de uma coisa e comecei a rir. - Chaeyoung se levantou e pegou sua mochila. — Enfim, tenho que ir. Até amanhã, meninas!

Chaeyoung piscou para Dahyun, que arregalou os olhos, e saiu dali. Momo deu uma risada nasal e olhou para a coreana calmamente. Dahyun olhava para baixo, com o rosto avermelhado. A Hirai sorriu, vendo como a iluminação fosca e alaranjada do sol poente do fim de tarde preenchia o rosto delicado da Kim. Seu coração começou a bater mais forte, e características borboletas se manifestaram em seu estômago.

Com Dahyun não era diferente, ela sentia o olhar da japonesa sobre si e se sentia atordoada, ainda mais quando encontrou os olhos caracteristicamente brilhantes da Hirai ainda lhe encarando quando levantou o rosto.

A troca de olhares durou poucos segundos, até as duas perceberem onde estavam e desviarem o olhar quase que ao mesmo tempo. Seus corações continuavam batendo em euforia.

— Então... - Momo acabou com o silêncio, coçando a nuca nervosamente. Dahyun levantou o olhar novamente e mais uma vez se sentiu estranha com a atitude adorável da japonesa. — Vamos embora? Tá ficando tarde.

Dahyun abria e fechava a boca querendo dar uma resposta melhor para Momo, mas acabou apenas balançando a cabeça. A japonesa deu uma risada fraca, colocando a mão no cabelo da Kim e mexendo devagar enquanto sorria para a mesma.

— Você é tão fofa, Dahyun!

Os olhos da Kim se arregalaram e ela sentiu seu rosto esquentar e suas pernas fraquejarem, Momo lentamente retirou a mão dos fios da Kim e segurou seu pulso calmamente para puxá-la para fora da escola. A cabeça das duas parecia nas nuvens, seus corpos reagiam a essas ações como se fosse algo muito mais comum do que deveria ser. Uns diriam que é uma conexão, enquanto outros dizem que é o amor jovem se manifestando em sua mais pura e inocente forma. Provavelmente aquelas duas adolescentes prefeririam a segunda opção.

Little Miss Perfect - DahmoOnde histórias criam vida. Descubra agora