| CAPÍTULO 26 ¦ o outro lado do clichê |

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Noah Marshall:
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Quarenta e cinco minutos e vinte e seis segundos na estrada. Kira Evans não abriu a boca para dizer uma palavra e eu também não. Não sei o que dizer, a vergonha dela ter visto mais uma vez uma das minhas crises me corrói por dentro. Fico flexionando as mãos para tentar focar no ardor dos cortes feitos nos dedos e deixar para lá todos os pensamentos autodestrutivos gritando em minha cabeça.

— Ou você dirige muito mal mesmo ou está me sequestrando. — É a primeira vez que falo. Kira olha para mim de soslaio e abre um sorriso irônico. — Resolveu me matar e acabar de uma vez com meu sofrimento? — Abro um sorriso de sugestão.

— Fazer piadas com a própria desgraça não é legal — ela faz uma careta. — Além do mais, eu não gastaria tanta gasolina se quisesse te matar. — De novo aquele sorriso de deboche.

— Então porque estamos saindo da cidade? — pergunto novamente. Ela revira os olhos com preguiça.

— Não estamos. Estou te levando até Locarno. — Ela deu um sorriso animado. A forma que todos os sorrisos da Kira mostram exatamente o que ela está sentindo é quase surpreendente.

— Se o plano era ir à praia, por que não foi até uma mais próxima? — Encarei-a óbvio.

— Porque não é qualquer praia — ela me encara de forma acusatória. — Meu pai me mostrou um lugar em Locarno que é o mais lindo e dificilmente alguém vai até lá, porque é longe. — Agregou com sarcasmo.

— Kira Evans está me mostrando o outro lado do clichê? — Dei um meio sorriso. Ela me encarou confusa. Percebi que até parei com as mãos no colo.

— Como assim?

— Normalmente é o cara que mostra à garota o lugar especial. — Explico. Ela arqueia uma sobrancelha.

— Não é o nosso lugar especial. Não vou pedir para não contar a ninguém sobre a praia nem nada assim, não é como se você fosse publicar no Instagram e amanhã Locarno lotar com turistas. — Ironizou. — Disse que precisava de ar, lhe trouxe até onde eu acredito que tenha o ar mais limpo da cidade.

— Sim, claro, invente desculpas o quanto quiser. Mas esse lugar tem tudo para ser o nosso lugar especial, Moranguinho. — Acusei, estalando a língua no céu da boca. Ela balançou a cabeça em negação, como quem me julga louco.

— Meus pais estão enchendo sua cabeça de minhocas — ela desconversa. — Também acha que a história se repete? — Kira questiona em acusação, pesando as pálpebras.

— Não acho não. — Cruzei os braços, fazendo uma careta. — Quero escrever a minha história, princesa. E não odeio amar você, na verdade amo que me odeie. — Passo a língua nos lábios e ela os encara por um segundo, antes de fazer uma curva.

— Ama que eu odeie você? — Pergunta interessada. Afundo meu corpo no banco e balanço a cabeça em concordância.

— Com nove anos fui diagnosticado com síndrome de borderline. Também tenho um distúrbio neurológico que me faz atingir picos de estresse que são prejudiciais a mim e as pessoas ao meu redor. Há uma grande chance de eu surtar e acabar machucando alguém, ou me machucando muito, ou enlouquecer e passar o resto da minha vida em um manicômio. — Desato a falar. — Muitas pessoas me amam, os seus pais, o seu irmão, a minha mãe e a Sarah. É legal que haja alguém que me odeia por eu ser quem sou e que não tenta justificar isso. — Prendo os lábios entre os dentes.

— O que te faz pensar assim? — ela encolhe a testa, faz uma careta de dor. Dou uma risada sem humor.

— Seria um absurdo se eu sequer me achasse digno de tal amor. Sou uma bomba relógio. Você não fazer parte dessa soma é uma vítima a menos quando eu finalmente explodir. — Mordo a ponta do lábio.

Eu Odeio Amar Você 2 - A história se repeteWhere stories live. Discover now