⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀𝗣𝗥𝗢𝗟𝗢𝗚𝗢.

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O RUÍDO BAIXO do som das gotas de chuva se chocando contra o telhado gasto e antigo trazia consigo a sensação de conforto. Dias chuvosos eram muito comuns em Forks, jamais enjoaria do clima úmido e gelado da pacata cidade do interior; o cheiro de terra molhada parecia deixar o ar menos denso para respirar, apesar de que também gosto de sentir as ondas solares do verão contra minha pele no final de uma tarde quente.

Era noite, a luz da lua iluminava o meu quarto através da janela de vidro embaçada por causa da neblina que cobria o céu. Havia dormido demais, provavelmente se passavam das dez da noite. Me afastei dos cobertores quentinhos, quase choramingando ao sentir o frio em minha pele coberta apenas por uma camisola de cetim.

Caminhei pelo quarto, descalça, o frio do piso de madeira fazendo um arrepio subir pelo meu corpo, mas passou rápido pois peguei o casaco mais quentinho que tinha no meu guarda-roupa e coloquei meias brancas nos pés. Ergui meu olhar para o espelho pendurado em minha parede, as olheiras estavam cada vez mais aparentes, meus cabelos pedem por uma hidratação urgentemente e os lábios estão ressecados; céus, eu nunca estive tão ruim quanto agora.

Me recuso a me ver neste estado.

Embora estivesse demasiadamente cansada de ter que lidar com tudo o que estava acontecendo, eu evitava pensar nisso para não acabar explodindo.

Saio do cômodo, fechando a porta.

Ao descer às escadas, me aproximo da cozinha em passos lentos. Minha mãe estava ocupada fazendo um café que exalava um cheiro maravilhoso. Estava distraída o suficiente para não notar a minha presença.

A olhei por alguns segundos; sua postura desleixada entregava o cansaço escondido por trás de seus olhos caídos e inchados de um possível choro recente. A expressão vazia no rosto enrugado da mulher em minha frente me preocupa, trazendo à tona uma sensação ruim no meu peito.

── Mãe, o que faz acordada a essa hora da noite? ━ Minha voz ecoa pelos cômodos solitários de nossa casa, sua atenção vem até mim. Sinto medo de seus olhos, de como ela me olha como se estivesse prestes a me dar a pior notícia do mundo.

── Olá, filha. ━ A ouvi dizer, antes de continuar: ── Não consegui dormir, então resolvi descer para tomar alguma coisa. ━ Ela despejou o líquido escuro no copo logo após coar, e me encarou novamente. Reparei em seus olhos vermelhos e seu nariz que estava na mesma tonalidade.

── Que horas chegou do hospital? ━ Pergunto, deixando de olhar para a mesma.

Sinto o vento gélido subir pelas minhas pernas desnudas, me encolhi levemente. Minha mãe solta a garrafa de café na mesa. Algo aconteceu. Deduzi ao vê-la suspirar antes de abrir a boca e fechar novamente, como se buscasse as palavras certas para me contar algo ruim.

── Eu cheguei às cinco e meia da tarde, você estava dormindo e eu não quis te acordar. Percebi o quanto estava cansada e lhe deixei dormir o quanto fosse preciso, já faz um tempo que você não tem uma boa noite de sono, não é?

── Mas, o que? ━ Confusa com suas palavras, levanto a cabeça para encontrar os olhos escuros da mesma. ── O papai está sozinho naquele hospital desde às cinco? Deveria ter me acordado!

Ela nada disse, apenas se virou de costas para mim, colocando a chaleira que ferveu a água na pia. Ouço seu soluço do outro lado da cozinha, me fazendo entender o motivo daquele olhar entristecido, de seu comportamento estranho e principalmente o motivo de ela estar tomando café, quando a mesma odeia essa bebida.

Foi quando me caiu a ficha.

"O meu pai morreu."

Segurei a manga longa do casaco de lã que cobria meus braços finos, olhando para os meus próprios pés.

 𝐔𝐋𝐓𝐑𝐀𝐕𝐈𝐎𝐋𝐄𝐍𝐂𝐄  :  𝗍𝗈𝗆 𝗄𝖺𝗎𝗅𝗂𝗍𝗓.Where stories live. Discover now