Selene Ariane é a mais velha entre quatro irmãs.
Ela nasceu em 1850 e foi sortuda o suficiente para vir ao mundo como uma Lancaster.
Os Lancaster são uma das mais renomadas famílias da Inglaterra, sendo administrados pelo duque de Lancastre, Charl...
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Os Lancaster, além de ricos, eram bonitos. Uma família demasiada abençoada. Deus certamente possui seus favoritos. Os convidados chegavam aos montes e sua primeira visão era um vasto jardim, rodeado de flores, mesas brancas e até mesmo uma fonte (jorrando água) cheia de passarinhos. Todo aquele espaço parecia perfeito demais, como se estivessem num paraíso existente apenas em seus sonhos.
E no centro de tudo, estava Selene. Uma jovem que parecia ser a simpatia em pessoa, com risadas altas e alegres. Cada cortejo que recebia, era uma resposta diferente. Sua presença era a mais pura luminosidade, como se a própria Eva estivesse caminhando no quintal do castelo de Lancastre.
Maison parecia querer voar no pescoço dos velhos que a rodeavam e encaravam. Era como um cãozinho com ciúmes de sua dona. Engraçado de se ver, certamente um ótimo entretenimento.
— Vossa Graça, estamos completamente encantados com sua prima! Ela certamente será o trunfo de nossa região na próxima temporada. Um verdadeiro diamante.
— Próxima temporada?
— Sim, Senhor Fitzgerald. Não poderia concordar mais. Apesar de ter cabelos escuros, o que normalmente não é uma característica bem-vinda a moças, Lady Lancaster consegue ser muito mais bela que as demais ladies. Acredito que se deve justamente a esse contraste.
Pauline se intromete na conversa que o duque estava tendo com um dos convidados. Entretanto, Theodore ainda estava confuso, o que aquele homem queria dizer com isso? Sua prima iria debutar em Londres este ano?
Assim que o Senhor Fitzgerald termina suas bajulações baratas e concorda com absolutamente tudo, dito pela madame Lancaster, Maison a encara com a testa franzida.
— Do que isso se trata? Você e Charles estão pensando em apresentá-la na próxima temporada?
— Óbvio, Maison. Ela já passou da idade. Não podemos arriscar que seja considerada uma solteirona, temos que tomar cuidado para que tenha a melhor das reputações.
— Qual é o problema em ser uma solteirona? Vocês sequer discutiram isso com Selene?
— Discutir o quê comigo? — Sua presença parecia trazer uma lufada de ar fresco, as rosas se curvaram para tal perfume.
— Sua temporada em Londres, daqui a alguns dias.
— É claro. Sobre isso... seria possível discutirmos melhor depois do término do evento?
— Sim; afinal, ainda temos que reaver a situação com o seu pai. Precisamos limpar e contratar mais criados para a propriedade elegante que possuímos no centro de Londres.
— Selene — Maison finalmente dirige seu olhar a ela — Por que não toca um pouco de piano? Você costumava gostar muito do instrumento.
— Essa é uma ótima ideia, querido. Vou pedir que alguém da criadagem o prepare imediatamente.
Pauline sai apressada sem conseguir conter o sorriso. Um momentâneo silêncio se instala. O duque de Lancastre comumente não se inquietava tanto assim, suas mãos soavam frio com a perspectiva de passar um tempo a sós com Lady Lancaster depois do óbvio flerte que tiveram mais cedo. Aquela troca de olhares significava alguma coisa, Theodore tinha certeza...
— Obrigada, Maison. Tem algo que ainda não compartilhei com o restante da família, acredito que este não seria um momento oportuno para tal revelação.
— Isso significa que vai compartilhar tal segredo comigo?
Ele sonhava com esse dia. Almejava esta declaração do fundo de seu ser. Agora tinha certeza de que a amava e declararia o mesmo sem pensar duas vezes.
— Eu estou noiva.
Ele sequer havia feito o pedido...
Espere.
Ó Deus! Maldito seja o dia em que o criou. Maldito seja o momento em que olhou para esses olhos de cigana pela primeira vez. Maldito seja seu coração, que bate três vezes mais rápido toda vez que ouve sua voz, ou a vê numa multidão.
Por que amar é tão difícil? Por que a reciprocidade é algo tão inalcançável? Selene realmente não sentiu nenhuma palpitação ao lado dele, enquanto seus olhos viam as portas da alma um do outro? Sequer um desconforto? Qualquer coisa!
— N-Noiva? — Ele estava vacilando.
— Sim. Nos conhecemos na França, é um exportador requisitado no país. Ele prometeu que viria a Londres pedir minha mão adequadamente.
— Pedir? Então vocês ainda não são noivos? — Um resquício de esperança invadia o coração do rapaz com força total.
— Não preciso de um pedido formal, sei que ele é certo para mim. É respeitável, possui meios de me sustentar e tem uma boa reputação.
Maison queria vomitar.
Estava se sentindo enojado com o simples vislumbre de sua prima nos braços de um fanfarrão francês. Aquilo o deixava completamente atordoado. Precisava sair dali, não podia encarar os olhos dela, ou acabaria caindo aos pedaços ali mesmo.
A presença de seu primeiro amor, começou a ser desconfortável.
E triste.
— Me dê licença Selene, me recordei que devo preencher uma papelada. Lhe desejo sorte e felicidade. Estou muito feliz por você.