Capítulo 3

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Ravi

Saio do banheiro e entro no closet, sentindo uma lufada de ar fresco, das janelas laterais e um leve perfume floral que quando ela se espalha a cada vez que ela se move.

Bom, se ela prefere que eu a chame de Jasmine, eu prefiro ser chamado de Ravi. Anny me entrega as toalhas e sei que já escapuliu para qualquer canto que não seja meu quarto.

Me entretenho na conversa enquanto me arrumo e percebo que realmente fiz a coisa certa. Jasmine não fica me limitando, perguntando a todo instante se preciso de ajuda e, ao mesmo tempo, é ágil, não me trata com extremo cuidado nem com estranheza, pelo contrário, ouso dizer que me sinto bem confortável com ela.

Seguimos para a mesa do café como duas crianças se provocando e sei que as mulheres da casa devem estar só observando para relatar tudo à minha mãe, mas eu não fiz nada de errado, e bem com trinta anos, eu acho que posso cuidar da minha vida.

Depois do café, pego minha pasta no escritório e entramos no pequeno elevador em direção à garagem. 

— Suponho que você dirija... — Digo enquanto tateio em direção à porta do passageiro.

— Sim, e eu prefiro dirigir a contratar um motorista, tudo bem? — Gosto que ela quis saber minha opinião.

— Por mim é até melhor. — Suspiro entrando no carro e Jasmine também entra.

Ela liga o carro enquanto ligo a rádio. — Gosto de ir ouvindo as notícias. — Explico.

— Por mim tudo bem. — Noto sua concentração e prefiro me manter em silêncio enquanto escuto as notícias.

Assim que chegamos a empresa, me preocupo sobre onde ela estacionará o carro, mas ao ouvir os bips do elevador, me tranquilizo.

— Alguém está muito bem informada, acertou a vaga direitinho. — Sorrio

— Informada até demais. — Jasmine ri. — Tem certeza que você não enxerga? — Sinto sua mão passando perto dos meus olhos.

— Vultos e luzes. — Seguro sua mão próximo ao meu rosto. — Os vultos são mais por proximidade, sabe?

— Entendi, como foi? —  Pergunta diretamente enquanto saímos do carro.

— Nasci com uma doença que vai diminuindo gradativamente, mas um acidente fez com que acelerasse o processo, mas estabilizou. — Entramos no elevador e gosto que ela não faz menção de apertar o botão. As pequenas coisas fazem eu me sentir independente.

— Sente algum incômodo ou dores? — Seu tom é neutro, mas sinto que ela está interessada e decido ser sincero.

— Não sinto incômodo, mas às vezes dores de cabeça, enxaquecas, tão fortes que preciso ficar no escuro, evito contar as pessoas, mas preciso ficar no silêncio e repousando por horas, até dias. — Conto baixinho como um segredo.

— É bom saber, obrigada por me contar. — A porta do elevador se abre e saímos da cabine. — Tentarei ajudar no que for possível, gostaria de dizer que estou aqui, mas não sei, não me parece certo ficar fazendo tudo por você, parece meio limitante...— Sua voz soa receosa e sorrio levemente.

— É extremamente limitante e irritante, sei fazer muitas coisas, até cozinhar se você quer saber. Quero exatamente essa liberdade que está me propondo. — Digo sincero.

— Ótimo e você pode me dizer ou demonstrar quando realmente precisar de ajuda? Como com o cordão? — Sinto suas mãos tocando meu pescoço e ajeitando o pingente.

— Posso sim. — Tento novamente conter a curiosidade de querer conhecê-la ou saber o que está vestindo.

— Ótimo, isso, sim, tem que estar no contrato. — Ouço sua risada e seus passos se distanciam um pouco.

Sob as Noites de Luar. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora