𝑴𝒆 𝑬𝒏𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒆𝒊 𝑨𝒐 𝑻𝒆 𝑷𝒆𝒓𝒅𝒆𝒓

O Dia Em Que Ela Se Foi

Ela estava indo embora.
O plano de Hatice e Ibrahim funcionou.
Firuze, aquela que fingiu ser sua criada e amiga e até foi a curandeira de Cihangir tamanha a confiança que ela conseguiu conquistar de Hürrem. Essa mesma Firuze foi esgueirada até os aposentos do sultão pelas suas costas, com a ajuda de Ibrahim e Hatice.
Ela a traiu e estava sendo protegida por eles.
Hürrem se deixar levar pela ira, a enforcou e ameaçou envenená-la.
Era por isso que estava ali, agora, a caminho do navio que a levaria embora.
Süleyman estava irado.
Mas ela estava mais.
–Eu devia ter ouvido minha família! Co eu pude me enganar? Fui cego e não vi a verdadeira víbora que você é!
Ah sim, sua família horrível, que vivia para mentir e manipular Süleyman e sempre a atacava pelas costas dele. Essa família.
–Quem foi cega fui eu! -gritou Hürrem, sem conseguir se controlar -Fui cega em meu amor por você! Fui cega em pensar que você merecia meu coração! Fui cega em lutar por você!
Ela lembra de quando foi jogada na masmorra, passou frio, fome e sede. Quando foi espancada por Mahidrevan sem motivo e a mãe de Süleyman escondeu o que Mahidrevan fez (mesmo sendo a que mais criticava Hürrem por não obedecer as regras, mas quando precisava aplicar as regras que tanto defendia a velha hipócrita fingia que não viu nada), ou quando foi envenenada ainda grávida aos 17 anos, ou quando foi ameaçada, ou quando tentaram matá-la, ou quando tentaram apedrejá-la, ou quando ela foi encurralada e queimaram o seu rosto.
–Se o nosso amor acabasse, seria uma coisa ruim?
Essa pergunta assustou Süleyman.
Hürrem realmente estava refletindo sobre se esse amor pelo qual tanto lutava valia a pena.
–Sinceramente Süleyman. Fique com Firuze. Se você prefere uma traidora mentirosa que morde a mão de quem a salvou e acolheu, é seu problema.
Ela dá às costas.
Então Süleyman a chama de novo e eles assinam o divórcio.
A família de Süleyman comemora.
Ibrahim, Hatice, Shahrazad, Mahidrevan, todos estavam muito felizes com a saída de Hürrem.
A ruiva sorri, sentindo a loucura e tensão do palácio abandonar seu corpo, finalmente.
Eles protegeram Firuze.
Pois bem, mas se esquecem que assim como Firuze traiu Hürrem, poderia traí-los também.
Quem prefere os traidores merece ser traído.
Ela entra no navio com seus filhos.
Eles agora estão fora da linha de sucessão e perderam os status de príncipes da dinastia otomana.
Mas ela, como uma esposa legítima que se divorcia, sai com muito, mas muito ouro, como seu direito de esposa do sultão.
Os mais novos ficam assustados quando a família comemora sua saída e ri quando eles vão embora.
–Mamãe... Por que nossa família não gosta da gente?
O coração dela se aperta com isso.
Seus filhos sempre foram tratados diferentes, só por serem filhos dela.
A família não se importaria em matá-los em nome de Mustafá.
E isso doía.
Por isso ela virou uma cobra.
Se ela não virasse, quem protegeria suas crianças?
Mas bem, isso agora acabou.
Nunca mais ela precisaria ter medo por seus filhos.
Mahidrevan nunca mais poderia ameaçá-los ou tocá-los.
Pois Hürrem com seu divórcio comprou a vida e a liberdade de seus filhos.
Ela olha para o anel de esmeralda.
Aquele, que um dia Süleyman deu a ela e pediu que usasse como símbolo do amor de ambos.
Ela retira ele delicadamente do dedo.
E o olha, se lembrando de quando disse essas palavras para Mahidrevan quando Süleyman quase morreu de uma doença.
–Hürrem nasceu com Süleyman e morrerá com Süleyman.
Ela deixa o anel cair de sua mão e ser levado pelas águas.
Uma vez ela foi Alexandra Lisowska, filha de Havrylo e Leksandra, noiva de Leo, uma menina ingênua da Rutênia cuja maior ambição era cantar no coral da igreja ortodoxa do pai.
Uma vez ela foi Hürrem, concubina, mãe de cinco filhos, esposa, Haseki. Tudo isso por e para Süleyman.
Ela nunca mais poderá ser Alexandra e nunca mais quererá ser Hürrem.
Quando ela vai embora, ela deixa ambas essas partes morrer.
Ela faz o que sempre fez, olhar para frente e sobreviver, não importa qual o desafio.
E talvez, apenas talvez, ela sinta algo além daquela explosão de dor dentro do peito, perdendo sempre o que mais ama e sempre sendo arrancada do lugar que chama de lar.