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MEU DEUS COMO VOCÊ CRESCEU! — ela gritava animada por rever Jeno.

— Fala mais baixo! — a outra retrucou.

Minha mãe realmente tinha se grudado em Jeno e emocionada insinuava inúmeros elogios a ele em nosso idioma nativo.

— Também senti saudades, Senhora Huang! — falou com um pouco de dificuldade, rindo alto pela comoção da mais velha e abraçando ela de volta.

Minha mãe amava Jeno tanto quanto era me amava (eu acho). Era muito legal ver como ele não se importava com o jeito dela demonstrar seu carinho por ele.

Nós quatro estávamos dentro da loja ainda fechada. Proporcionaria, talvez, o maior reencontro já visto dos últimos anos.

— Ah! Neno! Você tá tão bonito, tão grande. — ela acariciou o rosto dele com carinho — Tem certeza que eu não posso te ter de filhinho?

— Renjun iria adorar. E eu também. — ela disse com um sorriso aberto nos lábios e se grudando em mim — Iriam dividir quarto... seria legal, o Renjun tem medo de escuro. — sorriu aberto, aconchegando o rosto no meu ombro.

— Sabia que ele só deixou de dormir com a gente depois dos 15 anos? — ela continuou, me causando uma enorme surpresa.

— MÃE! — repreendi assustado pelo o nível que aquela doida poderia continuar a conversa, notando Jeno rir mais alto com aquela cena.

— Ah! Certo então, adoraria ser filhinho de vocês só pra infernizar agora. — ele respondeu olhando para mim, entre mais risos, recebendo um beijo no rosto de minha mãe.

Minhas mães eram malucas quando queriam. Eram verdadeiras almas gêmeas quando o assunto era me envergonhar na frente dos outros.

— Enfim. — ela beijou o rosto de Jeno de novo, se soltando e tirando o celular do bolso e vendo o horário — Temos que ir nos arrumando.

— E pra onde vocês vão? — questionei olhando pra minha outra mãe ao meu lado. Não queria acreditar que elas iriam me deixar sozinho outra vez.

— Ai, para! Já voltamos. — ela fechou a sobrancelha, pegando a bolsa em cima do balcão não mencionado em que eu me apoiava junto com minha mãe e pondo sobre o ombro.

— Prometo. — a mais baixa no meu lado disse, cautelosa, se desgrudando de mim e se ajeitando para sair junto com a outra.

Minha mãe, que estava na frente de Jeno, andou até a outra que estava no meu lado, cruzou sua mão na dela e andaram até a porta.

Ela voltou a olhar para Jeno e lançou com a mão um beijo para ele.

— Volta sempre Jeno, se cuidem. — essas foram suas últimas palavras antes de saírem porta a fora.

Balancei minha cabeça para um lado e o outro, revirando meus olhos e notando o silêncio do ambiente.

— Me desculpa... ela é biruta. — ele se aproximou e me deu um soco de leve no braço.

— Não fala isso dela. — franziu o nariz — De qualquer jeito... já está na hora de você ir trabalhar. — ele disse, parando frente a minha frente na porta do trabalho.

Ele colocou as mãos no bolso do moletom, logo me despertou um desespero com a ideia de Jeno ir naquele instante.

Não queria estar sozinho naquele lugar, bom, ao menos imaginava que passaria o restante do dia sozinho.

— Fica mais um pouco. — murmurei, botando um sorriso fraco nos lábios, com receio dele ir no mesmo minuto.

— Não posso te atrapalhar. — retrucou, me xingando em um palavrão quase indecifrável quando formei um beicinho nos lábios — Não faz assim...

— Não quer nem passar mais tempo com minhas mães?

— Eu tenho que ir pra acadimia. — me retrucou em um tom infantil e forçando a voz para ficar mais fina.

Revirei os olhos no mesmo instante, porém sorrindo mais aberto logo em seguida.

Ele continuava me olhando com atenção, sorridente daquela maneira sincera que Jeno costumava demonstrar satisfação.

Me perguntava o quanto machucado ele poderia estar, reconhecendo que Jeno tinha parado de falar de Jaemin a dias.

— Você tá bem? — perguntei-lhe então, não tinha como ficar tranquilo pensando tantas coisas enquanto ele estivesse ali na minha frente e toda aquela situação acontecendo em segundo plano.

Ele suspirou fundo, se aproximando de mim e me acolhendo em seus braços num abraço forte e aconchegante.

Ele me prendia com tanta vontade, mas cuidado, que era quase inevitável naquele momento não me perder no sossego do seu carinho.

Me rendi, abraçando ele de volta na mesma medida e, drasticamente, me encontrei no perfume de Jeno.

Tinha algo ali que me prendeu com toda força do mundo. Era algo novo, que não tinha reparado antes.

Jeno era... muito cheiroso...

— Eu vou ficar bem. — respondeu em tom baixo, me comovendo e voltando a prestar atenção no que estava fazendo.

Ele me soltou de seus braços, voltando a me olhar com atenção, rosto a rosto, numa uma afeição completamente tranquila.

— Quando quiser sair, só me chamar, entendeu?

— Nunca vou esquecer disso. — respondi, ainda com seu cheiro no meu nariz, totalmente perdido naquele detalhe.

[...]

Não podemos nos esquecer também de extrair a raiz! — mais uma aula de merda de cálculo.

Todos meus colegas na sala ou metendo o terror, ou fingindo que estavam prestando atenção no professor, enquanto, por exemplo, lhe encaravam usavando fones de ouvido.

Como tinha chegado tarde em aula, logo tocaria o sinal para ir embora e eu realmente não estava com ânimo algum.

Chenle e Donghyuck alugaram um triplex na minha cabeça com a ideia de Renjun fazer alguma merda.

Era meio que lógico, Renjun já foi próximo de Jeno, ou pelo menos ao que me lembrava eles se davam bem.

E se por algum acaso eles pudessem voltar a se falar?

De qualquer maneira, eu não conseguia imaginar Renjun falando de mim para Jeno, ou então Jeno desabafando sobre a minha falta para Renjun — algo que eu ainda queria que pudesse acontecer, porque eu sentia muita falta dele.

Era complicado ainda estar numa mesma sala de aula que seus amigos, aguardando que uma hora pudessem me chamar e falar de Jeno.

Me perguntava vez ou outra se eu não poderia acabar magoando Renjun. Ele parecia legal, mesmo que eu ainda tivesse um nojo impróprio da cara dele.

Tipo... porra? Ele era legal comigo até mesmo quando eu tratava ele igual lixo. Não parava de pensar nisso.

Me sentia um cuzão.

Eu realmente quero estar errado sobre tudo o que penso dele e conseguir construir uma amizade bacana com ele.

Talvez eu pudesse consertar aquilo. Bom, estava um clima esquisito entre eu e ele depois do dia de ontem.

Renjun esses últimos dias costumava me mandar uma mensagem por essas horas, pouco antes da aula terminar me dando "oi" ou perguntando como eu estava, mas hoje ele nem me procurou pra me mandar a merda...

Talvez eu estivesse com dor de cotovelo, talvez. O problema era que eu não aceitava perder aquela oportunidade que custei tanto pra aceitar.

Bom alunos... muito obrigado! — o professor se despediu e no mesmo momento a turma toda se levantou, e o sinal da escola tocou para liberar as turmas.

Foi a partir daqui que tive uma ideia.

pink letter | renminWhere stories live. Discover now