Capítulo 4: Parte I

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Uma semana depois, véspera de natal. San aparece, arrasta Hongjoong e a noiva para um punhado de jantares e depois até a casa de seus pais, onde um conglomerado de pessoas se revezam em o interrogar sobre seu futuro. Não muito depois desiste, esvaziando o vinho e pedindo para ser levado até em casa um quarto antes do jantar.

No carro, mal está consciente o suficiente para ouvir San reclamar.

- Eu nunca vi você assim.

- Cala a boca ou eu realmente vou vomitar no seu banco.

- Eu não entendo cara, é só um relacionamento. Merdas acontecem.

Hongjoong se vira, lutando contra o cinto de segurança. Metade dele diz a si mesmo que San está certo, é apenas um relacionamento, e a outra metade ri, porque apenas um relacionamento sequer chega perto de explicar metade de sua vida.

Entre Seonghwa e ele haviam anos que jamais seria capaz de esquecer. Havia o segundo ano na escola de arte. Seonghwa se escondendo sob a mesa de cerâmica de Hongjoong depois de pintar uma bagunça de cores na lateral do prédio administrativo. Hongjoong olhando pela janela do dormitório e encontrando seu rosto pintado em um outdoor sob uma ridícula coroa de flores. Entre eles estavam todas as vezes que Hongjoong o observou recusar ofertas de grandes galerias por não acreditar que vender sua arte seria o certo, ouvira a voz minúscula e desencarnada de Seonghwa do outro lado da linha por horas desabafando sobre como não queria seguir esse tipo de caminho, e encontrando-o na lanchonete, às quatro da manhã, pagando a conta e levando-o para casa.

Fora todas aquelas vezes que pensou nele, que passou noites em claro preocupado não sendo capaz nem de conseguir trabalhar...tais momentos não podem ser simplificados tão convenientemente em uma palavra tão vazia como relacionamento.

Era mais do que isso.

No entanto, um quarto de década depois, seguia sendo Hongjoong o esperando em seu carro, ainda Hongjoong tentando apresentá-lo a clientes em potencial, sempre Hongjoong esfregando a tinta dos braços de Seonghwa às quatro da manhã sob um chuveiro que só corria água fria em meados de dezembro. Sempre. Havia dez, onze, talvez mais, é difícil contar, anos entre eles. Sendo honesto consigo mesmo, não consegue nem se lembrar de quantas vezes terminaram no meio. Quantas noites ficou acordado se perguntando se Seonghwa apareceria no afinal.

Como o oceano que Wooyoung pintou em sua tela, aquelas conversas banais pelo telefone público eram como os pesos de um pêndulo, correndo em círculos de volta à origem.

Ou melhor, eles simplesmente nunca saíram do ponto de partida. Talvez não estejam tanto em um relacionamento quanto em um hábito.

𝐀𝐁𝐘𝐒𝐒 | seongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora