Capítulo 3

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Memórias de Adam

Meu dia tinha sido tão atarefado. Estava exausto e só queria um café quente nesse dia tão frio. Já não tinha meus pais pra me fazer companhia, tinha perdido eles por volta de um ano.
Não tinha irmão, não tinha namorada. Dediquei minha vida ao trabalho. Nem amigos eu tinha... O único que me aguentava era Carlos, meu motorista.

Estava pensando se toda a riqueza que construí, valeu a pena. Tenho tanto dinheiro e não tenho ninguém verdadeiro ao meu lado. Todos querem alguma coisa.
Minha vida é vazia, nem sorrir eu consigo mais.

Sentei, pedi um café. Estava envolto em meus pensamentos, quando derrepente vi aquela linda mulher entrando pela porta de vidro da cafeteira.

Ela estava com uma mochila que parecia estar pesada.
Ela veio direto na minha direção, com um sorriso fino nos lábios e um olhar sereno.
Ela começou falar, sua voz era linda. Me senti  em paz por estar conversando com ela.
Queria poder congelar aquele momento. E escutar aquela linda voz por mais tempo. Pelo menos pude ajudar alguém, pra que tanto dinheiro e não ajudar ao próximo?

Após ela sair, paguei a conta e caminhei em direção ao meu carro com a mochila no ombro, aquilo estava realmente pesado. Como ela carregou aquilo?
Ao entrar no carro, Carlos ligou e logo saímos.
Eu não conseguia parar de pensar em Serenity, estava muito frio e sua roupa parecia não ser tão quente.
Perguntei se Carlos sabia de alguma fábrica de cosméticos que ficava por aqui. Ele respondeu que tinha uma, mas era a meia hora dali.
Pedi pra ele dirigir na direção da tal fábrica, quando viramos a curva, lá estava ela. Caminhado toda encolhida. Desci do carro e fui caminhando em sua direção, enquanto Carlos ia nos seguindo.
Eu queria abraça-la e aquece-la, só podia ser carência, eu nem conhecia aquela mulher. Como meu coração estava acelerado daquele jeito?
Cori em sua direção ao vê que ela cairia. Eu queria poder ter chegado a tempo de segura-la. 

Após ela entrar no carro, eu não queria ter que deixa- lá ir. Pela primeira vez na vida eu senti um raio de sol em meu coração amargurado, sombrio e triste.
Sempre fui uma pessoa muito boa, mas nunca deixei ninguém entrar no meu coração. Sempre priorizei o trabalho, não tive muitos relacionamentos. Dediquei minha vida ao estudo. Apesar de ser bondoso, eu era muito fechado.
Com Serenity foi diferente, eu queria convidá-la a entrar, queria que ela aceitasse controlar minha vida. Me fazer feliz e ter motivos para sorrir todos os dias.
Após deixá-la em casa, fiquei ali parado, a olhando entrar.

- Senhor, podemos ir? - Carlos olhava pelo retrovisor.

- Sim, ela já entrou. - Eu suspirei fundo e fechei os olhos.

- Senhor, nunca te vi desse jeito. - Carlo ria. - Foi amor a primeira vista?

- Eu acho que sim, Carlos. Você me conhece desde quando? Desde que eu tinha 5 anos?

- Isso mesmo, senhor. E nunca te vi assim.

- Eu preciso dessa mulher na minha vida. - Tapei meu rosto com o braço e joguei a cabeça pra trás no banco do carro.

Eu tinha uma casa imensa, mas decidi por a venda. Era muita coisa apenas pra mim.  Comprei um apartamento de frente para o mar, eu amava ver o pôr do sol. Isso me trazia paz.
Meu pai me deixou suas empresas, eu já tinha umas sociedades. Em pouco tempo fiz muito dinheiro, mas tinha uma vida vazia.

Sentei na minha cama e estava olhando a cidade pela parede de vidro do meu quarto. Uma noite tão fria e eu sem ninguém para conversar.
Senti meu celular vibrando, o número era desconhecido. Quem estaria me ligando a essa hora da noite?

- Alô!

- Oi, senhor... Quer dizer... Oi, Adam. É a Serenity.

- O que foi, aconteceu algo? - Levantei de pressa da cama.

- Não, não...  Está tudo bem. Eu só liguei para o meu número ficar gravado. Eu já ia desligar.  Parece que você é uma pessoa muito solitária, talvez não tenha namorada ou alguém pra conversar...

- Não, não tenho!  - Por que me precipitei assim? - Desculpe. Acho que gritei no seu ouvido.

- Não tem problemas. Agora vou deixar você dormir, você deve ser uma pessoa muito ocupada.

- Sim, sou sim. Mas amanhã eu estou de folga, hoje, no caso.

- Entendi .

- Você vai fazer o que amanhã? Gostaria de tomar um café? Caso não tenha outro compromisso...

- Vou trabalhar até às quatorze horas. Adoraria tomar um café. Eu não tenho outro compromisso.

- Ótimo, eu te busco.

- Não precisa! Eu te encontro lá. Fico com receio das pessoas te ver com uma pessoa como eu.

- Eu faço questão, não devo satisfação a dar pra ninguém. E se virem? Não pense muito no que os outros dizem, ninguém vai chorar suas dores por você.

- Você quem sabe. E muito obrigada pelas palavras. Então, até daqui a pouco. Uma ótima noite pra você.

- Serenity... Você... Você...

- Se eu tenho namorado? Não, não tenho. Até amanhã Adam. Fica bem. - Ela sorriu no final.

- Até amanhã Serenity. Beijos.

Após desligar, fiquei parado olhando para o celular e rindo. Como uma pessoa mexeu tanto comigo assim?
Como eu queria estar com ela nesse momento... Ao fechar os olhos, só vinha sua imagem em minha cabeça.
Vivi por anos uma vida solitária, já fui traído muitas vezes.
Traído por pessoas que diziam ser meus amigos, pessoas que diziam me amar.
Mas no fundo... Eu me deixei ser traído. Sabia que elas eram interesseiras, que só queriam sugar algo e eu deixei. Talvez por me sentir sozinho.

Após meu amadurecimento chegar, me dei conta que as coisas não podem ser fingidas e nem compradas.
As coisas tem que ser natural.
Isso é o que me chamou atenção em Serenity, ela é espontânea, sincera e pelo meu vê não é interesseira.
Além disso é muito observadora, pois logo viu que sou solitário.
Quero muito que chegue a hora de encontrá-la.
Tenho que conseguir dormir, pra noite passar logo.
Tenho remédio para dormir desde a morte de meus pais, mas com o tempo eles perderam o efeito. Demoro muito a dormir e quando durmo, no máximo durmo três horas por noite.
Isso tem afetado muito meu humor.
Vou tentar pensar nela, vai que consigo pegar no sono.

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