CAPÍTULO TRINTA E SETE

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Não precisou nem pensar sobre o que a mãe ordenou. Mudou as mãos com uma velocidade impressionante para a Marca na testa de Márvi e rapidamente sentiu a sua magia fluir para ele, provocando um formigamento na pele de seus dedos.

Dessa vez, não foi arremessado para todos os lados. Foi tranquilo, tranquilo demais. Assim que sentiu o formigamento desaparecer, ergueu as mãos, uma sobre a outra, vagarosamente. Márvi permanecia do mesmo jeito, os olhos fechados e o corpo sem sinal de vida.

— Por que ele não está acordando? Era para ele levantar agora!

O peito era empurrado com tanta força quase deixando Endro sem ar. Uma tristeza profunda o engoliu.

— Você está bem? Não sente nada diferente?

Estava totalmente bem e se sentia do mesmo jeito que antes, entretanto não respondeu à mãe. A atenção estava fixa em Márvi. Vendo que não diria nada, Ralis respondeu a sua pergunta.

— Não sei, Endro. Era para ter dado certo.

— Vai, abra os olhos. Volte para mim!

Debruçou-se sobre a manjedoura, pondo o peito contra o dele. Manteve a cabeça virada para Márvi, sussurrando repetidamente as mesmas palavras; "vai, acorda, por favor. Eu preciso de você!" Lágrimas quentes desciam molhando o tecido frio da camiseta do seu escolhido.

Endireitou o corpo rapidamente e voltou de novo à testa de Márvi. Pressionando as mãos ali. Mas, nada acontecia. Ele não pegava a sua magia como agora a pouco.

— Para, Endro! Não vai adiantar. — Ralis tentou segurar suas mãos e foi impedida por um safanão.

Ele não podia partir, sua irmã e povo precisavam ser libertos, todos tinham que viver! Mãos firmes agarrou as suas e o puxou para longe da manjedoura, para longe de Márvi que desfalecia bem ali na sua frente. A sensação para se manter calmo, que não aparecia há um bom tempo, ficou intensa no peito.

Entretanto, Endro não conseguia controlar suas ações e emoções. Não olhava para o ser que o segurava, mas pela aura sabia ser o amigo. Ficou imóvel ao ver o senhor robusto, de pé, encarando o filho. A respiração acelerada e as lágrimas acumulando na beirada dos olhos. Quando Marguel avançou, Zana e Riano impediram ele de chegar à manjedoura.

— Era por isso que eu não queria me meter na luta de vocês. A minha esposa tentou fazer a mesma coisa, protegê-los, defendê-los e pagou com a vida. E agora o meu único filho e herdeiro teve o mesmo fim.

O braço decepado não sangrava mais, estava enfeitiçado e enfaixado. Endro sabia que a dor que Marguel sentia no momento não chegava nem aos pés do corte e nem da dele. Os joelhos cederam e ele caiu nas folhas secas, a cabeça abaixada e o choro chegando aos tímpanos de todos.

O peito de Endro afundou. Escorado em Dacas, o sentia tremer. Teve a atenção atraída para Belória que chegou às pressas quase junto a um barulho estrondoso que pareceu percorrer todo o mundo. Ela não se importou e disse:

— Há uma forma de trazer Márvi de volta. É preciso encontrar a Flor da Vida.

O coração de Endro se sobressaltou. Esperança tomou o lugar.

— Onde? — Não sabia da existência dela até segundos atrás e não se importava, apenas queria salvar todas essas vidas.

— A flor branca... — disse, Ralis. — O meu esposo tinha o livro que falava sobre ela. Estava em nossa biblioteca que foi queimada com a casa.

A animação de todos se foi.

— Não queimou. Eu achei duas das folhas. — Torcia para serem úteis e se arrependia amargamente de não ter as lido. — Mas, está... na Nação Mistral, na casa onde estávamos morando.

Passado e FeitiçariaWhere stories live. Discover now