Epílogo

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Um ano depois.

Depois que entreguei a caixa para Duke, fui convidada para um encontro. O primeiro encontro oficial, tipo, só nós dois. Meus pais ficaram tão eufóricos que queriam registrar de alguma maneira, mas eu os contive.

Duke me levou a um concerto, que estava passando pela cidade com uma peça romântica. Fique feliz por ele se lembrar que eu nunca havia ido a uma. Sua mãe acabou revelando isso quando ainda estavam na Itália.

Depois da peça, ele me levou a um restaurante muito aconchegante e foi um perfeito cavalheiro. Devo dizer que ele estava vestido elegantemente, e aposto que teve a ajuda do seu pai para se vestir.

Conversamos muito, e ele confessou que ficou emocionado com a caixa que lhe dei, e que não conseguiu dormir. Eu também não dormi naquela noite, mas não contei isso a ele, porque invariavelmente, ainda estava confusa.

Ele me pediu em namoro, realizando o sonho da menina-moça que ainda habitava em mim. Realizando todos os meus desejos românticos que tive, apenas com ele, a vida toda. Seus olhos brilhavam e ele não parava de sorrir. Estava feliz, isso era tão nítido que até os garçons percebiam, me deixando completamente acanhada.

Duke e eu tentamos. De verdade. Tentamos ser um casal, e passamos algum tempo juntos, nos decifrando e repassando nossos sentimentos um pelo outro. No entanto, Dylan nunca saiu da minha cabeça, e ele não mandava mais me mandou mensagens. Eu também não mandava, nem o via mais suas redes sociais, porque a minha exclui a minha, desde o dia daquela festa.

O filho da Sra. Riccelli nasceu, conquistando o coração de Duke, que o levava para onde quer que fosse, e diversas vezes, me ofereci como babá, além de, continuar praticando o piano, porque acabei decidindo estudar música e me inscrevi na Julliard, tendo uma carta de recomendação da Sra. Riccelli.

Apesar de termos tentado fazer o relacionamento dar certo, Duke e eu terminamos, amigavelmente, e decidimos ser amigos. Sempre nos falamos e continuamos com o mesmo respeito mútuo. Ele conheceu outra pessoa, e eu não senti ciúme, o que foi uma grande surpresa para mim.

Meu pai fez a temida cirurgia depois de um tratamento intensivo quimioterápico e medicações fortes, que o fizeram perder os cabelos. Ele e minha mãe continuam juntos, e planejam viajar quando eu for para a faculdade. Não houveram sequelas, que era uma das coisas que mais temíamos com a cirurgia. Ele ainda se cuida, e com a minha mãe, passou a fazer atividade física, coisa que ele odiou a vida inteira.

Estou na casa de praia, há três dias. Faltam algumas semanas para que eu vá pra faculdade. Meus pais sugeriram que eu tirasse um tempo, para relaxar, mesmo sozinha. Nunca pensei que eles me deixariam fazer isso. Gosto de saber que podem confiar em mim, até mesmo para me darem um carro e me deixarem pegar a estrada até Cape Charles, sozinha.

A casa dos Griffin está fechada. Não há nem mesmo hóspedes. Visitei Adam e andei de caiaque com ele. Fiquei um tempo parada na pedra onde Dylan sempre ia com a mãe. Me lembrei de cada momento que passamos ali, de todas as confidências que trocamos.

Já passam das 7h da noite. Fico entediada e decido ir para a praia, que por estar fora de temporada, não está tão cheia. Sentada na areia, sinto o toque da lua na pele e deixo meus olhos cativados pela imensidão do mar à minha frente. Enquanto as ondas dançam e beijam a costa, meu coração suspira pelas lembranças, dos dias em que passei com Dylan. Deixei minhas memórias navegarem pelas águas salgadas, escutando o balanço das ondas ecoar na minha mente, relembrando momentos, sorrisos trocados e abraços apertados. A nossa sacada. Sinto falta dele, e isso parece inevitável.

Enquanto a brisa carinhosa sacode meus cabelos, minha mente se enche de lembranças dos nossos passeios à beira-mar, e do nosso quase-beijo no píer. Ele costumava segurar minha mão com firmeza, como se soubesse que, ao fazê-lo, meu coração encontraria abrigo em seus sentimentos.

Suas palavras, suaves como o som das ondas quebrando na praia, ainda ecoam em meus ouvidos. Dylan era como um farol em minha vida, sempre iluminando meu caminho nas horas mais escuras. Seu abraço me envolvia em uma sensação única de pertencimento e sua presença era um bálsamo para minha alma, já tão machucada.

Mas, agora, aqui, olhando as ondas se sucederem, minha saudade se transforma em um vazio tangível. Cada grão de areia sob meus pés me lembra dos momentos que passamos juntos. A paixão nivelada às minhas fugas, a cumplicidade, a alegria de dividir nossos sonhos e planos para o futuro. A distância nos separou, mas meu coração nunca conseguiu esquecê-lo. Uma parte dele sempre permaneceu comigo.

A brisa do mar acaricia meu rosto, eu sei que, a saudade é apenas uma prova de que o que tínhamos era real. Tão real quanto cada grão de areia que abriga meus pés. E, talvez, por isso ainda tento me convencer de que algum dia teremos uma segunda chance, e até lá, pretendo guardar Dylan em minhas lembranças mais preciosas.

Uma vez, meu pai me disse: Às vezes, para uma coisa dar certo, a outra precisa dar errado. Ele disse isso quando soube que Duke e eu havíamos terminado o relacionamento, e não pareceu nada surpreso.

Quando estou prestes a me levantar e me despedir do mar e, talvez, das lembranças, ouço passos atrás, que antes são lentos, depois ganham velocidade. Alguém passa por mim rapidamente e cai no mar, mergulhando na água. Isso me faz pensar imediatamente em Dylan. A pessoa não sobe à superfície, me deixando apavorada. Resolvo ir até lá e o procuro na água, subindo e mergulhando. Cansada, eu subo à superfície e recupero o fôlego. Ouço um suspiro fundo atrás de mim.

— Oi, minha má companhia! 

— O-o quê faz aqui? — Pergunto, sem acreditar.

— Mergulhando. E você?

— Te salvando, pela segunda vez.

Ele sorri. O mesmo sorriso que me conquistou, e continua a me deixar sem ar. 

Má CompanhiaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora