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NOAH

Sam estava errado em dizer que não havia nada vivo dentro daquelas antigas instalações. A variedade de insetos provava o contrário. Tudo parecia indicar que aquele era apenas um lugar abandonado e que ninguém entrava ali desde que o colégio foi fechado. Entramos em diversas salas e procuramos em cada gaveta que estava à vista.

— Aqui é muito grande e tem mais prédios no fundo. Não vai dar pra olhar tudo hoje. — Sam avisou quando entramos em mais uma sala de aulas. — Vamos voltar para a pousada, jantar e dormir um pouco. Amanhã voltamos aqui com a Shivani e o Lamar.

— Tudo bem. — concordei meio derrotado. — Eu não podia esperar que isso fosse ser fácil de qualquer forma.

Retornarmos para a pousada e eu fui direto para o quarto que estava dividindo com o Lamar. Ele dormia em uma das camas e eu estava tentando me distrair lendo um livro na escrivaninha. Meu marcador de páginas era uma das fitas vermelhas que a Lin usava em seu cabelo. Ela sempre disse que deveríamos manter nossas coisas preciosas juntas, então eu o usava para agraciar os meus melhores momentos literários.

Não estava conseguindo focar nas palavras daquelas páginas, então deixei o livro sobre a mesa e peguei a fita, passando-a entre os meus dedos. Perder pessoas que amamos era a coisa mais difícil que alguém poderia aguentar e às vezes parece que não somos capazes de passar por isso. Lembro da sensação de pânico que eu senti quando soube da morte da minha irmã. Achei que nada doeria mais do que aquilo e que qualquer coisa que viesse depois seria irrelevante se comparada à dor de perder a Lin. Entretanto, aqui estava eu temendo sentir essa mesma dor novamente e talvez fosse ser ainda pior.

Seria pior porque a Any me tirou da minha escuridão, me puxou de volta para a realidade e me deu motivos para viver. Perdê-la significaria voltar ao meu estado de melancolia de antes e dessa vez eu não aceitaria qualquer ameaça de esperança que batesse em minha porta. Por que aceitar mais esperança depois de perder o motivo da minha? Isso me deixava com muito medo.

Eu costumava me torturar pensando sobre as dores que Lin sentiu quando sofreu o acidente até de fato falecer. Demorou uma hora até que os efeitos dos seus machucados a derrotassem, mas com certeza para ela pareceu um dia inteiro ou talvez dois. E agora eu estava pensando se Any havia voltado para algum experimento do qual fazia parte, se estava em um campo de concentração e se a estavam machucando. A possibilidade de ela estar mal me deixava pior comigo mesmo.

Resolvi que era a hora de dormir, pois precisava de energia para percorrer aquele colégio no dia seguinte. Sentei na cama vaga e comecei a retirar os meus sapatos. Lamar estava resmungando alguma coisa sobre elefantes voadores em seu sonho e eu soltei uma risada baixa. Ele jogou um dos braços para fora do colchão e eu notei a marca de sol no formato de seu relógio em seu pulso. Neguei com a cabeça desaprovando o fato de ele não tirar o acessório por nada.

Quando fiquei de pé para ir ao banheiro, olhei de relance para o braço dele e notei outra marca em seu pulso. Franzi a testa e me aproximei para ver melhor a tatuagem que parecia gasta, como se estivesse no processo de ser retirada. Sem que ele pudesse acordar, virei o seu braço sutilmente para ver a marca inteira e assim que consegui ler, fiquei boquiaberto.

08.

Uma numeração com o mesmo padrão de fonte da tatuagem que a Any tinha. Sem pensar duas vezes, tomado pela adrenalina, acordei Lamar com um tapa no rosto. Ele quase pulou da cama e começou a olhar para todos os lados com uma expressão assustada.

— O que? Quem? Como? — foi dizendo atordoado. — Noah! — ofegou com a mão sobre o peito. — Por que você me bateu? Olha que eu posso te processar por maus tratos aos seus subordinados. — riu.

Survival ⁿᵒᵃⁿʸ Where stories live. Discover now