Capítulo 03: O troféu

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Antônio acordou, mas continuou de olhos fechados recapitulando o fato de o Luizinho voltar para a sua vida. Lembrou-se em especial do dia em que se cortou e o pequeno rapaz tirou a camisa para estancar o sangramento e o levou até a enfermaria.

Tony tinha adorado a sensação de ter alguém cuidando dele. Como sempre era o mais alto, as pessoas o tratavam como adulto e independente, desde muito cedo quando tudo que ele queria era poder sentir-se seguro e amado.

O mundo queria que o Gigante fosse como uma muralha forte e resistente, mas ele só queria amor e liberdade daquela pressão do dia a dia.

Já fazia uma semana desde que Luizinho se mudara para a turma B. Os garotos combinaram de estudarem no final de semana na casa de Luiz.

Quando Antônio chegou lá teve que se abaixar para não bater a cabeça na porta como já era acostumado a fazer em quase todo lugar. Assim que a mãe de Luiz viu o visitante abriu um sorriso e o abraçou.

–Meu Deus, como você cresceu, Tony.

Antônio abriu um sorriso e se surpreendeu em mais alguém além dos seus pais lhe chamar por aquele apelido. Embora dizer que ele cresceu não lhe trouxesse bons sentimentos. De todo modo, aquela mulher não o via desde a quinta série, então era algo normal a se dizer.

Luiz saiu resmungando e arrancou seu colega dos braços de sua mãe e o levou para o seu quarto.

–Não repare a bagunça –Disse só pelo hábito, pois estava tudo arrumado e limpo.

Antônio sentou no chão ao lado da cama, enquanto o outro se jogou no colchão com seus livros e foi direto ao assunto.

"Ele tem mãos tão pequenas" Antônio pensou olhando pro outro escrevendo. "Mas quando me puxa parece até mais forte do que eu".

Enquanto Luiz explicava a matéria fazendo esquemas numa folha de papel, Antônio divagava ouvindo a voz dele como uma melodia.

"Nunca imaginei voltar a entrar nesse quarto. Está bem diferente de antes. Mas de alguma forma o cheiro é o mesmo. O cheiro do Z".

Antônio arregalou os olhos ao sentir algo pulsar entre suas pernas. Rapidamente puxou uma almofada para se cobrir. Ter uma ereção sempre era algo constrangedor e difícil de esconder já que contava com uma jeba de 24cm dura.

–O que foi? Tá com cara de quem foi pego no flagra aprontando alguma coisa – Luiz foi certeiro em sua afirmação.

–Não foi nada. Pode continuar.

Aquele estudo durou por duas horas, depois de algum tempo Antônio conseguiu se concentrar e aprendeu uma coisa ou outra.

–Vamos fazer uma pausa –Luiz disse e depois se esticou na cama se despreguiçando –Que tal uma partida de videogame?

–Agora falou a minha língua.

Uma partida se transformou em duas horas de gritos empolgados apertando botões freneticamente. Fazia tempo que Antônio não se divertia tanto, inclusive ganhou quase todas as partidas.

–Droga! Você ainda é muito melhor do que eu no videogame!

–E você ainda é muito competitivo.

–O que me denunciou? –Luiz perguntou e apontou para uma prateleira repleta de prêmios, a maioria de concursos de soletrando.

Antônio se levantou e foi ver os prêmios de perto. Um deles chamou sua atenção, era um pequeno troféu de participação.

–Não toque nele!

A atitude de Luiz pegou Antônio de surpresa que acabou jogando o troféu pra cima. Os dois se jogaram pro lado tentando segurá-lo e acabaram caindo um por cima do outro.

–Peguei –eles disseram ambos segurando o troféu.

Antônio o soltou, Luiz se sentou agarrado ao seu prêmio sem se dar conta que estava montado na virilha do outro.

–Esse prêmio é muito especial pra mim. Foi daquela nossa corrida. Você ficou em primeiro. Não consegui ficar entre os três primeiros e ganhei esse prêmio de participação. Isso me lembra de fazer meu melhor e nunca desistir.

–Você é incrível –Antônio o elogiou e o outro pareceu surpreso.

–Alguém perfeito como você me chamando de incrível? Está tirando uma com a minha cara?

Antônio estava se perguntando por quanto tempo ficariam naquela posição. Mas não ousava mexer um músculo para não trazer um fim prematuro àquele súbito toque físico. Luiz se levantou como se nada tivesse acontecido e estendeu a mão para Antônio.

–Vem, eu te ajudo a levantar.

–Eu te acho incrível de verdade –Antônio insistiu –Eu que estou longe de ser perfeito. Olha só pra mim, sou um gigante esquisito.

–Vai mesmo esfregar sua altura na cara de um tampinha como eu?

–Já me chamaram de Megazord.

–E eu de Sininho.

–De girafa.

–De toquinho.

–De Pé Grande.

–Anão de jardim.

Eles seguiram nomeando ofensas que já ouviram ao seu respeito e seguiram rindo. Os dois se deitaram na cama sobre os livros. Seus rostos estavam no mesmo nível.

–Olhando assim não parece que somos tão opostos –Antônio comentou.

–É aquele ditado: Na horizontal todo mundo é igual. É o que me conforta, pensar assim me dá esperanças de um dia perder a virgindade –Luiz falou brincando, mas depois ficou vermelho e se sentou –Não conta pra ninguém que eu disse isso, por favor.

–Que você é virgem? Tudo bem. Eu também sou.

–O quê? Tá falando sério? Mas deve ter um monte de garota dando em cima de você.

–Tem mesmo, mas... Eu sou tímido.

Luiz ficou incrédulo com aquela informação, mas se sentiu melhor, foi bom saber que ambos estavam no mesmo lugar quanto a vida sexual.

–O que você vai fazer amanhã? –Antônio perguntou.

–Eu ia ao shopping. Estou precisando comprar roupas de educação física.

–Posso ir com você?

–Hum? Tá bom, pode ser.

Quando foi embora, Antônio sentia uma estranha vontade de dançar. "Hoje foi um ótimo dia e...". Ele se lembrou do outro sentado em cima dele e dessa vez não conseguiu conter sua ereção.

–Ai, merda! –Ele foi obrigado a sentar num banco de praça e esperar amolecer, do contrário chamaria muita atenção.

"As mãos deles são tão pequenas. Ele tem um cheiro tão bom, a voz também é cativante e... O corpo dele é macio... e o que ele disse sobre na horizontal todo mundo ser igual" O pau de Antônio pulsou.

–Acho que vou passar mais tempo sentado aqui do que eu esperava.

Continua...

Amor GiganteWhere stories live. Discover now