Permitindo-se

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Gostar de alguém é sentir um frio na barriga; é beijar ávida e calmante, e de vez em quando, abrir os olhos discretamente para conferir o ambiente e o sorriso nos lábios da outra pessoa; é adorar dormir junto, mas acordar na primeira hora do dia seguinte mantendo os outros compromissos; é tirar do sério, com a tenacidade de testar o ponto fraco do outro.

Gostar é estar longe e sentir saudades do que ainda não acabou; é como ter o jogo ganho, mas faltar apenas uma carta nas mãos. O verbo gostar traz consigo muitas incertezas e, ao mesmo tempo, muitas descobertas.

Todas as definições de gostar aplicavam-se à Charlotte e Engfa, uma vez que ambas estavam arriscando o desconhecido, enlouquecendo. Suas atitudes e vontades tornaram-se completamente incontroláveis, irracionais. Os erros transformaram-se em acertos, o ruim transformou-se em bom, a fome em saudade, e o sono em pensamentos uma na outra.

E não é que em meio à tudo isso, algo um pouco maior poderia estar acontecendo? Talvez não só se gostavam, como também descobririam uma hora ou outra a paixão aflorando, uma vez que apaixonar-se é expressar através do olhar o que as palavras não são capazes de traduzir; é sentir o sangue a correr nas veias, bem como arrepios com simples toques; é aproveitar todos os momentos, e em cada brecha, encontrar uma chance para satisfazer os desejos; é agir por impulso e depois arcar com as conseqüências, boas ou ruins.

Apaixonar-se é sentir uma atração incontrolável, é deixar a vontade carnal sobressair ao teu juízo. Apaixonar-se é como se nos perdêssemos de nós mesmos para encontrar-nos no outro. E onde o beijo entra nessa história? Ah, poucos prazeres físicos são tão dotados de emoções diversas quanto um bom beijo, dos demorados, intensos e saborosos, como o que Charlotte e Fa apreciavam naquele momento.

Quando estamos vivendo uma paixão, quando dois corações resolvem se unir, o sentimento torna-se tão arrebatador que somente um beijo dado como forma de selar a ocasião é capaz de suprir todas as necessidades um do outro. O ato é de suma importância para determinar o que virá em seguida, se as línguas precisam serpentear uma na outra novamente no anseio, ou não.

Definitivamente o beijo que davam era o ingrediente chave do encontro erótico dos corpos, da dança sensual que as envolvia, das mãos que percorriam as curvas suntuosas e por vezes perigosas, coroando com volúpia e ternura, algo que todos sabemos qual será a conclusão. As palavras tornam-se desnecessárias, a demonstração de afeto, ímpar. Dizem que o beijo é dotado de três vidas: A que nasce na alma de quem o dá, a que fica no coração de quem o recebe, e a que permanece na recordação de quem dele gostou. A filha do presidente e sua segurança particular não só haviam gostado de se beijarem, como queriam repeteco várias e várias vezes.

Waraha acabou por prensar o corpo de Austin na mesa de jogos com o seu próprio. Suas mãos subiam e desciam pelas laterais da cintura da morena, que se encaixava entre as pernas da outra. Ouviam-se gemidos baixos e involuntários, dados durante e entre os intervalos do ato, onde a busca por ar se fazia necessária.

Aquela procura incessante pelo prazer que uma língua proporcionava à outra dentro de suas bocas, foi abruptamente interrompida quando passos lentos foram ouvidos vindos do corredor. A comandante afastou-se, ajeitando a roupa e os cabelos, sendo imitada pela herdeira. O ritmo do andar, o som que era propagado, não fora reconhecido, obrigando Engfa a manter-se em estado de alerta.

- Oh, vocês estão aqui. - Anna deu dois passos para dentro do cômodo quando passou pela porta e a viu entreaberta - Desculpem-me se interrompo algo, mas é que...

- Não interrompeu nada além do que uma breve explanação da comandante sobre os procedimentos de segurança que adotaremos nos próximos eventos. - Charlotte explicava em tom ameno, demonstrando normalidade, como seria se a situação fosse verídica.

A Filha Do PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora