Capítulo 4 🥀

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— Diga a ela o que achar melhor.

— Sei que se importa Sra. Tebet. Vi o quarto dela.

— Só porque não quero vê-la, não significa que não quero que fique confortável aqui.

— Não percebe? Ela é uma criança. Um simples olhar para o que sobrou do meu rosto, e terá pesadelos por uma semana. - Ela sacudiu a cabeça. — Acho que devo poupar a nós duas dessa situação.

Soraya chegou mais perto, e viu que ela cruzava os braços à frente do peito, numa atitude defensiva. O gesto era claro. Não poderia alcançá-la. Não agora.

— Acha mesmo que uma criança vai se satisfizer com isso?

— Terá que ser assim.

— Mas sou uma estranha.

— Eu também.

Soraya suspirou frustrada, cerrando os punhos.

— É uma mulher muito difícil.

Houve um instante de silêncio, antes que ela respondesse.

— Só quero protegê-la.

— Impedi-la de conhecê-la não é proteção.

— Por acaso é uma autoridade em crianças? - A voz dela revelava descrença.

— Tenho alguma experiência.

— É mesmo?

Pouco importava o tom crítico na voz dela, pensou Soraya.

— Não gosta que outras pessoas vejam o que lhe aconteceu, e então se esconde. Só vê aquilo que quer. Não tive filhos, mas gostaria de ter. Fui professora na escola da embaixada por vários anos, e cursei psicologia infantil na universidade. Além disso, sou a mais velha de cinco irmãos. Não acha suficiente?

Com raiva, afastou-se da grade e já ia entrar, quando Simone segurou-a pelo braço. As duas foram envolvidas pelas dobras das cortinas que flutuavam ao vento.

Soraya mal conseguia respirar, e seu coração batia acelerado. Ela era uma mulher forte, e os dedos circundavam lhe o braço, impedindo-a de mover-se. Estava consciente da proximidade dela, do perfume feminino, do corpo que quase tocava o dela, fazendo-a estremecer.

Ela era misteriosa, intensa.

O que a atraía não era a solidão dela, nem a amargura. Era a mulher que sofrera muito, mas sobrevivera. Que não deixara ninguém se aproximar. Soraya viu a sombra da cabeça dela aproximar-se e soube que desejava beijá-la. E quase desejou que o fizesse.

— Você tem perfume de... Liberdade. - Sussurrou ela, cada célula do corpo gritando que era uma mulher, e que ela era uma linda mulher.

Mesmo sabendo que devia fazer anos que ela não estava com uma mulher, que devia afastar-se depressa, Soraya foi incapaz de resistir ao desejo de tocá-la. Erguendo a mão, colocou-a no colo.

A respiração dela ficou ofegante, e num gesto brusco afastou-se, subitamente consciente do que acontecia.

— Não quero sua piedade, e isto é errado.

Ela afastou-a e Soraya perdeu o equilíbrio, enquanto Simone entrava depressa, desaparecendo na casa, de volta à sua caverna escura.

Queria dizer-lhe que a última coisa que sentira em seus braços era piedade. Mas ela já se fora.

Era uma tola. O abandono da mulher não lhe ensinara nada, ou não teria tocado Soraya.

Sentado na escrivaninha, o sol nascendo atrás dela, Simone bateu nas teclas, fazendo uma porção de erros, até desistir, empurrando o teclado. Recostando-se na cadeira de couro, fechou os olhos, e quase pode sentir a maciez daquele corpo que tanto desejava tocar.

Beauty And The Beast  ( Versão Simoraya )Donde viven las historias. Descúbrelo ahora