✨ Capítulo 04 ✨

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"E se você tiver um minuto, por que nós não vamos
Falar sobre isso num lugar que só nós conhecemos?
Isso pode ser o final de tudo
Então, por que nós não vamos?"
— Somewhere Only We Know, Keane

Hadara Earonwood — O passeio ao vilarejo

Tive mais um pesadelo.

Quer dizer, seria uma surpresa uma noite em que eu conseguisse dormir bem e sem sonhar com alguma coisa que me faria acordar suando e apavorada. Desde que Maya invadiu meu quarto uns anos atrás e me assustou ao quase me matar sufocada porque eu tinha ido me deitar antes que ela mandasse, agora eu não conseguia relaxar para dormir direito e sempre tinha o mesmo pesadelo. Eu sendo sufocada de novo e de novo, gritando e chorando, mas ninguém vinha me socorrer.

Essa era a história da minha vida.

Se é que posso chamar isso de vida.

Quando acordei o dia ainda nem tinha amanhecido, mas não consegui voltar a dormir. Aproveitei para tomar um banho e aconcheguei-me em uma camisola de algodão e dei o laço no meu roupão longo de cetim. Sentei-me no divã de veludo azul marinho perto da janela e fiquei ali, apenas ouvindo minha respiração e observando a vista, tentando apenas por alguns minutos escapar do meu tormento diário e constante.

Observei o sol nascer no horizonte, seus raios atingindo a janela e banhando o quarto com sua luz aconchegante e quente. Recostei-me nas almofadas e abracei meu próprio corpo. Literalmente estava apenas existindo.

Algum tempo depois, enquanto ainda estava na mesma posição e no mesmo lugar, ouvi uma batida leve na porta e soube quem era mesmo sem precisar olhar.

— Entre, Beth.

A mulher que havia pegado o cargo de minha criada pessoal — sem dar motivos ou pedir permissão, depois da noite em que ela me pegou no meu pior estado e me abraçou, me amparou e foi meu porto seguro, ela nunca mais me deixou; eu não saberia começar a descrever o que ela e suas atitudes significam para mim, mas eu jamais poderia deixar transparecer ou deixá-la saber; aprendi da pior forma possível que tudo que eu gosto e amo acaba sendo tirado de mim, apenas porque Maya queria me machucar, então, não, Beth jamais saberá o que significa pra mim, não se depender de mim; ninguém mais vai morrer ou sofrer por minha causa; — entrou no meu quarto, trazendo um pequeno carrinho com meu café da manhã.

Beth sabia que eu não comia muito de manhã, mas o que ela não sabia era que isso acontecia porque eu simplesmente não conseguia decidir o que gostaria de comer, porque Maya não estava lá para me dizer. Foi isso que me tornei. Eu simplesmente travava. Meu cérebro não conseguia entender que eu poderia escolher e comer que ela nunca ficaria sabendo, que eu poderia tentar experimentar alguma coisa que ela nunca havia permitido e ela nunca descobriria.

Não.

Minha mente travava, como se não fosse apenas comida ali espalhada pela mesa, mas uma armadilha e a qualquer momento eu seria pega e ela me machucaria.

A primeira vez que isso aconteceu eu tinha 6 anos. Queria desesperadamente um bolo de morango para o meu aniversário. Mas Maya torceu minha orelha e me deu um tapa, dizendo que princesas comiam bolo de merengue e especiarias. Que princesas não se contentavam com uma simples fruta apenas. Que princesas deveriam ser refinadas.

E tudo apenas piorou depois disso.

Então foi meu almoço. Meu café da manhã. E o jantar também. Ela tirou minhas escolhas, minhas vontades, quem eu era. Às vezes se ela não estivesse de bom humor eu não me atrevia a perguntar o que poderia lanchar durante a tarde, por isso teria que esperar até o jantar. Ou quando simplesmente eu perguntava e ela me negava dizendo que eu poderia esperar até o jantar e ainda aproveitar para perder uns quilos. Ela dizia que eu era uma criança gorda. E tinha que ficar de olho em mim. Que ela e apenas ela sabia o que era melhor para mim.

Broken Hearts Fit Together (Duologia Broken Hearts, Livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora