Easy like sunday morning

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Algumas pessoas acreditam que um assassinato muda a essência da pessoa que o comete, mas eu acredito que muda apenas a forma como ela é vista pelos outros




Em meio a confusão e o nervosismo de Clara, Helena conseguiu encontrar as chaves do carro e sugeriu que fossem para uma consulta de última hora com a ginecologista da namorada, para descobrirem a verdade de uma vez.

Helena dirigiu em um silêncio enlouquecedor até a clínica da doutora Érica Carvalho, quando no estacionamento, Clara finalmente voltou a falar.

"Eu não quero ter outro filho do Theo" Helena buscou sua mão, afagando. Seus olhares conectados.

"Calma, nós não sabemos se você está mesmo grávida."



Dentro de alguns minutos, o nome de Clara foi chamado e entraram no consultório, sentando-se em frente à médica.

Clara explicou a situação, nervosa, falando sobre o atraso menstrual e o enjoo daquela manhã. Sem entender, recebeu uma risada sonora de sua médica em resposta. Trocou um olhar confuso com Helena.

"Clara, seu atraso menstrual e o mal-estar não devem ter conexão alguma"

"Não? Por que?" quis saber Helena.

"Os sintomas de uma gravidez costumam aparecer por volta do segundo, talvez terceiro mês de gestação, e o atraso de Clara é de apenas quatro dias" fez algumas anotações na ficha. "É possível que esteja nervosa por alguma razão e isso esteja ocasionando seu atraso."

Era claro que estava nervosa, já que sua namorada havia matado seu ex-marido, e a cada novo dia esperava acordar com a polícia invadindo seu apartamento após descobrir o corpo de Theo.

"Existe algum motivo pra você estar nervosa?" Érica questionou diretamente para Clara.

"Bom, hoje é a primeira exposição de fotos do meu filho como fotógrafo e confesso que isso me deixou meio ansiosa por alguns dias." mentiu, recebendo um sorriso compreensivo em resposta.

"Desculpe a pergunta indelicada, mas se vocês duas são um casal, por que o medo de estar grávida, Clara?"

Clara não havia procurado sua médica desde o estupro sofrido, ela não sabia se teria coragem para encará-la e contar tudo que aconteceu, então apenas fugiu e evitou contato.

"Eu passei por um estupro recente" disse, tirando forças de onde não tinha.

"Meu Deus, eu sinto muito, Clara. Você recebeu atendimento médico adequado?" era uma preocupação genuína de Érica. A mulher se compadeceu do sofrimento da outra.

"Sim, eu fui a um hospital de vítimas com a Helena. Estou bem, medicamente falando." suspirou.

"Que bom." Érica se levantou, indo até um armário do consultório e pegando uma caixinha com um teste de gravidez de urina. "Olha, pra descartarmos a ideia e vocês se tranquilizarem, sugiro esse teste"

"Tudo bem, eu faço"

Clara pegou o teste e o realizou dentro de pouco minutos no banheiro do consultório. Foram os três minutos mais longos de sua vida, quando enfim pôde olhar o resultado na caneta reagente. Para seu alívio, havia uma única linha demarcada no teste, indicando um resultado negativo.

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