Capítulo 3: Entre os Véus da Realidade

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A consciência de Inanna emergiu vagamente do abismo dos sonhos, a sensação de sua própria existência voltando aos poucos. Ela abriu os olhos, mas a visão que se desdobrou diante dela era tão alienígena quanto inquietante. Ela estava de pé em uma planície árida, estendendo-se até onde os olhos podiam ver, banhada em tons de violeta e cinza. O céu acima era uma mistura estranha de cores desconhecidas, irradiando uma luz difusa e fria.

Com passos cautelosos, Inanna começou a explorar o terreno árido. A terra sob seus pés era áspera e granulada, como se fosse feita de partículas minerais finas e iridescentes. Não havia plantas, água ou vida visível. Uma sensação de desolação a envolvia, enquanto ela avançava através dessa paisagem alienígena e hostil.

Eventualmente, após uma longa caminhada, algo se ergueu à distância. Uma grande construção se destacava contra o horizonte estranho. À medida que ela se aproximava, Inanna ficou impressionada com a forma curiosa da estrutura. Parecia um intricado entrelaçado de formas geométricas, como se estivesse surgindo organicamente do solo violeta. Havia uma qualidade hipnotizante nessa construção, algo que a atraía irresistivelmente.

Com hesitação, Inanna entrou na construção. O interior era uma surpresa ainda maior. Ela se encontrou em um cômodo ricamente decorado, lembrando um lugar que ela pensava ter perdido para sempre. Era a casa de sua família, exatamente como era quando ela era criança. Cada móvel, cada objeto, tudo estava ali, intacto. Ela examinou as fotos na parede, os brinquedos espalhados pelo chão, tudo tão vívido e real que parecia que o tempo tinha recuado.

Confusa e com o coração acelerado, Inanna entrou na cozinha da casa. Foi quando ela viu a figura familiar na bancada, uma mulher cuja aparência era um espelho do que Inanna costumava ver no espelho. Era sua mãe, olhando para ela com um sorriso afetuoso.

— Inanna, minha querida, você finalmente veio — disse a figura com uma voz serena.

Inanna ficou sem palavras, seu coração oscilando entre confusão e emoção. A voz da mulher, o lugar tão familiar, tudo parecia real demais para ser verdade. Ela engoliu em seco e finalmente conseguiu balbuciar:

— Mãe?

A mulher estendeu os braços, convidando-a para um abraço.

— Sim, minha querida, eu estive esperando por você.

Inanna se aproximou, os sentimentos conflitantes de incredulidade e aconchego inundando-a. Ela abraçou a figura da mãe, sentindo lágrimas brotando de seus olhos. Enquanto as emoções a envolviam, uma pergunta assomou em sua mente: o que estava acontecendo? Como ela podia estar de pé na casa de sua infância, diante de sua mãe que havia partido há tanto tempo?

A resposta, no entanto, permanecia evasiva, enquanto o mundo ao seu redor pulsava com mistério e os limites entre a realidade e o sonho continuavam a se desfazer.

***

Dumuzi acordou em um ambiente opressivamente escuro, sua visão gradualmente se ajustando às sombras ao seu redor. Ele estava deitado em uma superfície áspera, os olhos se fixando nas figuras translúcidas que se inclinavam sobre ele. Eram seres de aparência grotesca e etérea, com corpos finos e retorcidos, como se feitos de vapor congelado. Seus olhos eram esferas iridescentes, brilhando com um brilho sobrenatural enquanto observavam Dumuzi com curiosidade mórbida.

O coração de Dumuzi disparou e um grito de choque ecoou em sua garganta. Ele se lançou para cima, lutando contra as criaturas que o cercavam. Sua luta foi desesperada, seus movimentos parecendo ocorrer em câmera lenta enquanto ele se debatia para escapar da presa fria e insubstancial dos seres translúcidos. Finalmente, ele conseguiu se soltar e se afastou cambaleando, suas mãos tremendo de puro terror.

Eridu: Conexões OníricasOnde histórias criam vida. Descubra agora