Julho

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Julho passou devagar, e com ele o primeiro período de gestação do ômega. Tinha sido um pouco complicado, além da tristeza do abandono, o cheiro do alfa permanecia nele, uma medida de proteção biológica para demarcar território e proteger o filhote em seu ventre de outros alfas.


Nas madrugadas, após o trabalho que, por misericórdia de Nice, tinha ficado mais leve depois que todos do bar entenderam a situação do ômega, ele chorava até adormecer. Beber um pouco tinha se tornado seu pequeno ato de rebeldia, exausto emocionalmente pelo coração partido e preocupado com o futuro, que agora não pertencia somente a ele, mas também era responsável por um filhote, sozinho.

As crises de choro em seu quarto nas madrugadas, geralmente, o levavam de volta ao passado, quando ainda era apenas um garoto inocente, protegido no ninho de seus pais. Foi quando teve seu primeiro cio que tudo mudou. Com apenas 15 anos, seu pai, que nunca foi compreensivo, olhou para ele e demonstrou todo o desprezo que sentia pelos ômegas. Foi uma desonra para a família, e foi assim que o jovem acabou no bar. Começou como garçom, mas o verdadeiro dinheiro não vinha do serviço de mesas; vinha de homens que não compreendiam seus próprios desejos.


O ômega fez o que precisava para sobreviver. Às vezes, até se divertia, mas estava levando a vida e compreendendo seu lugar naquele mundo. Sempre havia alguém disposto a satisfazer seu cio. 

Mas seu coração, que nunca teve um dono, acabou se apaixonando por alguém assim. Kelvin gostava de pensar que Ramiro não era como os outros homens. Ele era mais que uma confusão de desejos reprimidos. Era seu amigo, seu confidente, um ogro com um coração de manteiga derretida.

Kelvin e Ramiro fizeram o que puderam para sobreviver, cada um em funções diferentes, mas ambos igualmente dolorosas. Ainda assim, em seu quarto, atormentado e refletindo, Kelvin percebeu que não desejava aquele destino para seu filhote. As barras de ouro de Cândida eram apenas um sonho, da um golpe do baú com filhote em seu ventre era impossível, e o menor não tinha o mínimo de interesse, era fiel ao seu alfa. Com essa epifania, Kelvin entendeu que não era do tipo que ficava lamentando na cama. À sua maneira, era um ômega forte e inteligente o suficiente para encontrar uma maneira de ganhar dinheiro. Era apenas uma questão de tempo.

Assim, naquela noite, ele se vestiu com uma de suas roupas mais icônicas e foi trabalhar como garçom novamente. Desde que se apaixonou por Ramiro, deixou de se envolver com outros homens. Ele estava determinado, trabalhando duro, sendo amigável e charmoso para conseguir boas gorjetas. Sua barriga ainda não estava muito visível, então ainda conseguia dançar no pole dance, garantindo uma boa quantia. No entanto, sua ambição ia além. Ele queria construir seu futuro, ter seu próprio lar e seu alfa.


E assim, agosto chegou. Ele quase não pensava mais no alfa, mas o cheiro dele permanecia, mais forte agora. Seu corpo deixava claro a quem pertencia, pelo menos biologicamente.Em meados de agosto, durante uma tarde quente, Kelvin estava limpando a estante de bebidas no bar quando Luana se aproximou. A alfa o cumprimentou:


- E aí, meu querido? - Ela parecia gentil.

- Oi.- Vou ser direta em nome da nossa amizade. Já faz um mês que ele sumiu, Kelvin. Não acha que está na hora de resolver isso? 

- O tom da alfa era preocupada e gentil.

- Resolver o quê?

- Você sabe muito bem do que estou falando. Não está considerando a ideia absurda de ter esse filhote?

- Estou, sim. - O ômega elevou a voz, balançando o espanador colorido no ar. 

Aquilo nunca tinha passado por sua mente. Mesmo em meio às suas crises, ele não abriria mão da parte que restou de Ramiro

Acontece ( ABO MPREG)Where stories live. Discover now