Thrity-six

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Segunda-feira, 29 de outubro de 2012 16h15

De todos os minutos do dia, claro que escolhemos mesmos dez para ficarmos parados na frente da minha casa que meu pai escolhe para chegar de carro. 

Assim que ele estaciona na garagem, JungKook leva a mão à ignição.

Estendo a mão, trêmula, e a coloco em cima da dele.

— Não vá embora — digo. — Preciso ver como ele é.

JungKook suspira e força a cabeça no apoio, sabendo muito bem que devíamos ir embora, mas sabendo também que eu nunca o deixaria fazer isso.

Paro de encarar JungKook e olho para a viatura estacionada na frente da casa do outro lado da rua. 

A porta se abre, e um homem sai, de farda. 

Está de costas para nós, segurando um celular no ouvido. 

Está no meio de uma ligação, por isso para no jardim e continua conversando, sem entrar na casa. 

Vê-lo não causa a menor reação em mim.

Não sinto absolutamente nada até o instante em que se vira, e vejo seu rosto.

— Ai, meu Deus — sussurro alto. JungKook olha para mim sem entender, e eu só consigo balançar a cabeça. — Não é nada — digo. — É que ele parece… familiar. Eu não tinha nenhuma imagem na cabeça, mas, se o visse na rua, o reconheceria.

Nós dois continuamos o observando. 

As mãos de JungKook seguram o volante, e os nós de seus dedos estão brancos. 

Olho para minhas próprias mãos e percebo que estou segurando o cinto de segurança da mesma maneira.

Meu pai acabou afastando o telefone da orelha e o guardando no bolso. 

Começa a vir na nossa direção, e as mãos de JungKook voltam imediatamente para a ignição. 

Solto o ar baixinho, esperando que ele não tenha percebido de alguma maneira que o estamos observando. 

Ao mesmo tempo notamos que ele está apenas indo até a caixa de correspondência no início do jardim e relaxamos na mesma hora.

— Já basta? — pergunta JungKook, rangendo os dentes. — Pois não consigo ficar aqui mais um segundo sequer sem sair desse carro e enchê-lo de porrada.

— Quase — respondo, sem querer que ele faça alguma idiotice, mas também não quero ir embora ainda. 

Fico observando meu pai conferir as cartas que recebeu enquanto volta para casa e, então, pela primeira vez, penso em uma coisa.

E se ele tiver se casado de novo? 

E se tiver outros filhos?

E se estiver fazendo aquilo com outra pessoa? 

Minhas palmas começam a suar no material escorregadio do cinto, então eu o solto e esfrego as mãos na calça. 

Elas começam a tremer ainda mais. 

De repente, só consigo pensar que ele não pode se safar.

Não posso deixá-lo ir embora sabendo que pode estar fazendo isso com outra pessoa.

Preciso saber. 

Preciso garantir que não é mais o monstro malvado das minhas lembranças, pois devo isso a mim mesmo e a todas as outras crianças com quem ele mantém contato. 

Para ter certeza disso, sei que preciso vê-lo. 

Preciso falar com ele.

Preciso saber por que fez tudo aquilo comigo. 

Depois que meu pai destranca a porta da casa e entra, JungKook exala fundo.

— Agora? — diz ele, virando-se para mim. 

Não tenho nenhuma dúvida de que ele se jogaria em cima de mim agora mesmo se soubesse o que estou prestes a fazer. 

Então não dou pista alguma, forço um sorriso e concordo com a cabeça.

— Sim, agora podemos ir.

Ele põe a mão na ignição. 

No mesmo instante em que gira o pulso, solto o cinto, escancaro a porta e saio correndo. 

Corro pela rua e atravesso o jardim do meu pai, chegando até o pórtico. 

Nem escuto JungKook vindo atrás de mim. 

Ele não faz o menor ruído enquanto põe os braços ao meu redor e me ergue, carregando-me e descendo os degraus. 

Ele ainda está me carregando, e eu o chuto, tentando tirar seus braços da minha barriga.

— O que diabos acha que está fazendo? — Ele não me põe no chão, simplesmente continua me segurando e me carregando pelo jardim.

— Me solte agora mesmo, JungKook, ou vou gritar! Juro por Deus que vou gritar!

Com a ameaça, ele me vira em sua direção e balança meus ombros, fulminando-me com um olhar bastante desapontado.

— Não faça isso, Jimin. Não precisa lidar com isso de novo, não depois do que ele fez. Quero que dê mais tempo para si mesmo.

Encaro-o com uma mágoa no coração que, com certeza, é capaz de ver em meus olhos.

— Preciso saber se ele está fazendo isso com alguma outra pessoa. Tenho de saber se tem outros filhos. Não posso deixar isso de lado sabendo do que ele é capaz. Preciso vê-lo. Preciso falar com ele. Para saber que não é mais aquele homem antes de voltar ao carro e ir embora.

JungKook balança a cabeça.

— Não faça isso. Ainda não. Podemos fazer algumas ligações. Vamos descobrir mais coisas sobre ele na internet primeiro. Por favor, Jimin.

JungKook desliza as mãos dos meus ombros até meus braços e tenta me fazer ir até o carro. 

Hesito, ainda certo de que preciso ficar cara a cara com ele. 

Nada que eu possa descobrir na internet vai me dizer o que posso captar por sua voz ou olhar.

— Tem alguma coisa de errado acontecendo aqui?

JungKook e eu viramos as cabeças bruscamente na direção da voz. 

Meu pai surge na base dos degraus do pórtico. 

Está olhando para JungKook, que continua segurando meus braços com firmeza.

— Jovem, esse homem está machucando você? 

Só o som de sua voz é o suficiente para fazer meus joelhos cederem. 

JungKook sente que estou ficando mais fraco e me puxa para perto do peito.

— Vamos embora — sussurra ele, pondo o braço ao meu redor e me conduzindo para a frente, de volta para o carro dele.

— Não se mexam!

Paro na mesma hora, mas JungKook continua tentando me empurrar para a frente com mais urgência.

— Virem-se! — Desta vez a voz de meu pai soa mais autoritária. 

Agora JungKook para junto comigo, pois sabemos as consequências de se ignorar as ordens de um policial.

— Tente disfarçar — diz JungKook no meu ouvido. — Talvez ele não o reconheça.

Balanço a cabeça e inspiro fundo. 

Nós nos viramos bem devagar. 

Meu pai está a vários metros da casa, aproximando-se de nós. 

Está me olhando atentamente, vindo para perto de mim com a mão no coldre. 

Baixo os olhos para o chão, porque seu rosto está indicando um certo reconhecimento e isso me deixa apavorado. 

Ele para a vários metros de nós e hesita. 

JungKook me segura com mais força, e continuo olhando para o chão com tanto medo que nem consigo respirar.

— Príncipe?

Missing - JikookWhere stories live. Discover now