Ice Cream

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Depois da detenção mais longa da minha vida,  com aquela professora que não parava de falar sobre literatura um segundo, finalmente acabou, meus olhos já estavam pesando e eu estava a ponto de tirar um cochilo.

⁃ Estão liberados. - Ela diz ajeitando-nos óculos e eu reviro os olhos agradecendo mentalmente, me levanto da cadeira e vou até a saída.

O sol aquele dia estava de matar, acho que nunca esteve tão calor nessa cidade desde que eu cheguei.

⁃ Quer carona? - Tom fala atrás de mim fazendo eu dar um pulinho de susto.

⁃ Hm... - Senti o suor escorrer pela minha nuca. - Sim, pode ser.

Fomos até seu carro que estava estacionado e entramos. O carro dele era antigo e era a sua cara, acho que era um chevelle ss, se ele colocasse pra leiloar ganharia uma grana com certeza.

⁃ O que você gosta de ouvir? - Ele disse assim quem entramos no carro e eu apenas dei de ombros.

⁃ Sou bem eclética.

⁃ Beleza. - Ele sorri e coloca Crazy In Love - Beyoncé para tocar batendo os dedos no volante no ritmo da música. Realmente eu imaginaria qualquer música, menos essa.

⁃ Boa escolha! - O respondo e murmuro a letra baixinho enquanto o vejo dirigir.

Sinceramente estava surpresa com o quanto Tom poderia ser diferente do que aparentava, sabe? Sem ser tão cabeça dura e me xingando quase que 100% do tempo. Estava tentando me prender ao fato de estar reparando tanto nele, mas já tinha aceitado que estava sendo quase impossível.

Chegamos na minha casa e logo vejo o carro amarelo nada discreto da minha mãe estacionado na frente de casa. Merda.

- O que houve?

- Minha mãe tá em casa.

- E oque que tem? – Ele estacionou quase em frente à minha casa, mas não o suficiente pra sermos percebidos.

- Ela meio que não sabe da detenção, eu dei uma desculpa qualquer.

- Essa desculpa se chama Bill? – Ele responde erguendo uma sobrancelha me fazendo ficar confusa, como ele sabia?

- Basicamente. – Dou um sorriso sem graça tirando o cinto. – Mas dou outra desculpa qualquer.

- Vamos dar uma volta então, até dar o horário de você voltar. - Ele sugeriu e eu sabia que aquela não era a escolha certa a se fazer, mas devido as condições do momento, era o que me restava, não estava a fim de dizer pra ela algo como "eu e o Bill brigamos e por isso estou aqui", por que essa seria a única justificativa já que sempre estou com ele.

- Tá bem. -  Ele sorriu e mordeu seu piercing em seguida ligando o carro. – Alguma ideia de onde quer ir? - Perguntou e eu pensei por um momento.

– Acho que pode ser na sorveteria, está tão quente...

- Beleza.

Depois de um tempo Tom estacionou na frente da sorveteria e descemos. A sorveteria tinha um tema dos anos 50, havia sofás vermelhos e suas paredes eram amarelas com azul bebe, o chão era quadriculado e os enfeites eram feitos em led, parecia que eu tinha viajado no tempo.

Escolhemos um lugar para sentar e uma menina ruiva com um uniforme rosa claro veio nos atender. Pedi um sorvete de menta com chocolate (meu favorito) e Tom um sorvete de maçã com nozes.

- Quem diria... - Ri para mim mesma antes de começar a comer meu sorvete.

- Quem diria o que? – Perguntou confuso parando de comer para prestar atenção em mim.

- Você tomando um sorvete com a menina "estranha" que você mais inferniza na vida, parece que estamos em outro universo.

- Eu gosto de sorvete, comeria ele com ou sem você, mas com você é melhor por que posso continuar te importunando. – Ele diz dando de ombros.

- Claro que sim. – Digo revirando os olhos.

Era meio difícil de acreditar que aquilo estava acontecendo e ainda mais difícil de acreditar que eu e ele ainda não nos matamos por estarmos há tanto tempo perto um do outro.

- Quando você não é uma chata do caralho você até que é legal. – Ele diz do nada.

- E você apesar de ter bombado dois anos seguidos até que é inteligente. – O respondo no mesmo nível.

- Você sempre com uma resposta né...

- Você que provoca. – Eu digo e ele fica quieto.

- Eu tenho que ir. – Ele diz e se levanta indo até o caixa pagando a conta e indo embora.

Me levanto rapidamente e vou atrás dele.

- Hey, o que houve, você está bem?

- Tô, só entra no carro. – Ele diz contornando o mesmo indo pro lado do motorista.

Entramos em seu carro e o clima já não parecia mais ser o mesmo, será que eu falei algo errado? O caminho de volta foi tão ensurdecedor, nem música ele tinha colocado pra tocar, o único barulho que havia era do atrito do pneu no chão. Depois de uns 10 minutos já estávamos em frente à minha casa e então eu sai rapidamente do carro, sem ao menos falar com Tom. Não ia puxar assunto com alguém que simplesmente decidiu me ignorar do nada. Não sei se ele esperava que eu falasse algo, mas eu não ia.

Enquanto andava acabo escutando o barulho do carro ligando e o vento dele parando do meu lado.

- Tchau, gatinha. – Ele diz piscando pra mim e indo embora.

Ele era bipolar?

Caminho até a minha casa e checo o horário no telefone, ótimo, tinha dado o horário certo de voltar para casa, não precisaria inventar nada dessa vez.

Destranco a porta e vejo minha mãe com os braços cruzados no meio da sala.

- Quem era aquele Blake?

Changes | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora