Capítulo 09- Parte 2

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— O que está dizendo aí? Refere-se a esse
homem morto aqui? Ham! Ele morreu porque é um fraco e inútil. Uma verdadeira vergonha; o Satoshi não passa de um homem sem honra e orgulho.  — Ela diz como se estivesse se exibindo por ter ganho um prêmio, com o olhar mais frio e demoníaco que já vi, não demonstra um sentimento sequer. Porém, eu pude ver dois sacos de pano atrás dela e um deles está aberto, são moedas prateadas brilhantes; ela… traiu o próprio marido, a confiança e a honra como uma mulher, se tornou igual a todos humanos que vivem neste mundo.

— V-Você se vendeu? Trocou a vida do papai por moedas de prata? — Pergunto.

— Hm! O líder do vilarejo vizinho queria a cabeça do Satoshi e em troca me daria 1000 moedas de prata. Ele mesmo causou isto, já que ele não queria que você se casasse com o filho mais velho desse Senhor do vilarejo vizinho. — Respondeu ela.

— P-Por que aceitou isso? Ele era o seu marido. — Disse forçando os joelhos contra o chão, a palma da mão tocando o piso de madeira; a cabeça indo de um lado para o outro em negação e as lágrimas caindo gota a gota.

— Não é óbvio? Esse vilarejo e esta família não era o suficiente pra mim. — Guihua me agarrou, segurando na altura do maxilar, encarando meus olhos abatidos e tristonhos, com o seus cheios de perversidade, ambição e luxúria.

Ela me jogou contra o chão, como se eu fosse um objeto sem vida alguma e usou a lâmina para me bater incontáveis vezes, até rasgar a parte de trás do vestido; minhas costas foram tomadas por cortes. Escorrem sangue, cobrindo pouco a pouco o piso de madeira com um líquido vermelho vivo, o chamado vermelho sangue.
Foi neste momento que entrei em colapso, já não suportava mais, tudo era demais pra um corpo tão pequeno suportar; foi tão rápido; uma descomunal energia trovejou para fora do meu corpo, parecia que o mundo todo estava tendo uma tempestade avassaladora ao mesmo tempo.

Os raios cresceram exponencialmente e engoliram não só o nosso vilarejo, mas também parte daquela vila próxima; me lembro do último grito de dor da Guihua, enquanto seu corpo era reduzido a cinzas; ela morreu sem que pudesse desfrutar do dinheiro, antes mesmo de poder usá-las. Até porque agora não passam de prata derretida; as árvores foram dominadas por chamas provocadas pelos raios, as casas foram destruídas, muitos morreram nos escombros e não tiveram tempo de sentir alguma dor antes da morte, foram para o além sem se preocuparem com a dor; o chamado "paraíso de Buda."

É o lugar que só aqueles que morreram inocentes, sem causar dor ao outro e viveram em sofrimento e dor vão; muitos dizem que é um lugar onde todos são felizes eternamente, não a fome, guerras ou tristeza. Não posso acreditar que exista um lugar assim, que seja totalmente perfeito, mesmo sendo criado por um Deus, e qual graça teria viver num paraíso, com uma felicidade abundante fictícia? Mantida apenas pela vontade de deuses.

☯ ☯

Mesmo com os dias se passando um após o outro, eu continuei a vagar sem rumo, chorando todos os dias, carregando comigo a dor de ter perdido o meu pai, ele era o único até aquele momento que me amou verdadeiramente, e quis me proteger. Até que um dia eu estava lavando o meu rosto na beira de um lago; o reflexo de uma pessoa surgiu na água, um garotinho de cara suja, cabelo castanho arrepiado para cima, olhos grandes e rebeldes, vestindo roupas incomuns.

— Calma, eu não vou te machucar. Prazer em conhecê-la, eu me chamo Sylphid e você? — Ele diz de um jeito desajeitado mas engraçado, enquanto se aproxima pouco a pouco de mim, em passos curtos e sorrateiros.

— E-Eu me chamo Meiying. — Disse de forma reprimida e contida, apertando os dedos das mãos, com um olhar cansado e fraco, é natural para uma criança que está a dias caminhando e vivendo de tudo que acha por aí.

Kanfu No Densetsu (Seirei No Ocho)Where stories live. Discover now