Capítulo 15: O homem na floresta

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Narrado por Celina

Anoiteceu. A floresta é quieta, o que me permite ficar sozinha com meus pensamentos. E eu odeio isso mais do que tudo.

Um pássaro sobrevoa minha cabeça e para em cima de um ninho. Um grupo de passarinhos menores surgem do aglomerado de gravetos, e o maior os alimenta com pequenos insetos que achou na mata.

Ótimo! Até os pássaros tem mãe e eu não.

Seco as lágrimas com as costas da mão e fecho os punhos, socando a primeira árvore que vejo na minha frente. A força reverbera no meu braço, e murmuro diversos palavrões, assoprando os nós dos dedos.

-Céus, você não sabe nada de física.

Me viro rapidamente. Ao meu lado, um pouco distante, um homem se encosta calmamente na mesma árvore do ninho de pássaros.

-Perdão?

Ele sai das sombras, o corpo iluminado pela lua. É alto e extremamente magro. Exala um cheiro esquisito, como uma fruta apodrecida.

-Ação e Reação. Tudo que vai volta. É um conhecimento físico básico, mas também um ótimo conceito de vingança.

Ele apenas continua andando em minha direção, uma calma e elegância impressionantes. Me assusta.

-Celina Winky?

-Como sabe meu nome?

- Filha de Alan e Verona?

-V-você os conhece?

Mais uma vez, ele não responde.

-Acho que não chegamos a ser apresentados formalmente. Sou Morgo. Seu nome eu já conheço.

Quando se aproxima, consigo ver seu rosto. Os dentes são amarelados, o nariz fino, e uma venda cor de vinho cobre seus olhos.

-Eu não pude deixar de ouvir sua conversa com aqueça bruxa a um tempo atrás. Sinto muito pelos seus pais. Eles eram boas pessoas.

O zumbido anterior volta a percorrer meus ouvidos, dessa vez mais alto.

-Eles eram...

Morgo coloca a mão em meu ombro, e recuo.

-Não precisa ter medo, criança.

-Como você sabe deles?! Como sabe de tudo isso?!

-Eu...Os conheci...

-Como sei se você fala a verdade?

Ele coloca as mãos ao redor do meu rosto

-Você sabe que eu falo a verdade, Celina.

A voz dele ecoa em minha cabeça.

-Você confia em mim!

-Eu....

O zumbido se torna ensurdecedor

-Eu....confio.

Ele sorri ainda mais

-Bom. Sabe o que eu acho que deveríamos fazer, Celina?

Fico em silênci, enquanto ele aproxima o rosto

-Acho que está na hora de dar o troco a aqueles que te fizeram mal. Começando pela bruxa que assassinou seus pais.

-Eu não posso! – Respondo – Ágatha é muito mais forte que eu! Sem poderes, eu não tenho chance!

Mas isso não parece convencê-lo

-Eu posso ajuda-la Posso te tornar forte. Mais do que qualquer um que você conhece. Vamos acabar com eles, Celina. O que me diz?

Ele estende a mão, e agora mal consigo ouvir meus pensamentos. É apenas a voz do homem minha mente.

-Eu aceito.

Minha mão se une a dele, como se por vontade própria. Quando apertamos as mãos, tudo parece mergulhar em neblina. Apenas tenho um breve vislumbre de pontos brilhantes por debaixo de sua venda e seu sorriso ameaçador.

E tudo se apaga. 

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Notas da autora:

E EU DECLARO ABERTA A TEMPORADA DA PANCADARIA EM LUMIS 

Agora sim, começamos os trabalhos

A Ladra de Lumis: Sombras do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora