Capítulo 41

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Anely James Barkoff
Casa 21, Condomínio Richards (LA)
23 de fevereiro de 2009, 10:19

  — Mas que porra foi aquela? — murmuro para mim mesma, encarando meu reflexo no espelho à minha frente. Custava fazer um agradecimento à noiva dele? Não precisava falar meu nome, mas, pelo menos, deixar claro que tem uma noiva.

  Sentada em frente à penteadeira, tento me arrumar para um compromisso importante. Mas já chorei três vezes e não consigo terminar essa maquiagem.

  — Anely, você está bem? — Daniel pergunta, batendo na porta do meu quarto. Ele veio me buscar para o compromisso que temos hoje.

  — Estou sim, só preciso de mais alguns minutos — respondo, tentando manter a voz firme. Não quero que ele saiba que estou chorando.

  — Tudo bem, vou esperar ali na sala — ele diz, e eu ouço seus passos se afastando.

  Respiro fundo e me olho no espelho novamente. Meus olhos estão vermelhos e inchados. Limpo as lágrimas e tento terminar a maquiagem. Não posso deixar que isso me afete. Não posso deixar que ninguém veja que estou chateada.

  Termino a maquiagem e me levanto. Visto um vestido preto simples e coloco um par de saltos. Olho para o espelho uma última vez antes de sair do quarto. Estou pronta. Vou até Daniel, que está me esperando na sala. Ele me olha de cima a baixo e sorri.

  — Você está linda, Anely — ele diz, me oferecendo o braço. Com um sorriso falso em meu rosto, eu aceito e saímos juntos. Espero que essa reunião com alguns dos maiores nomes da indústria farmacêutica não tire o resto da minha sanidade.

18:31

  — Rosquinha, você está em casa? — ouço a voz de Michael ecoar pela casa. Ele deve ter acabado de chegar do aeroporto.

  — Estou no quarto! — respondo, tentando manter a voz firme. Não quero que ele saiba que estou chateada, não agora.

  Ouço seus passos se aproximando e logo ele aparece na porta do quarto. Ele está lindo, como sempre. Seu cabelo está solto, caindo sobre seus ombros, e ele está usando uma camisa preta e calças jeans. Ele sorri ao me ver, mas eu posso ver a preocupação em seus olhos, ele já notou.

  — Oi, rosquinha — ele diz, se aproximando da cama onde estou deitada. Ele tenta me abraçar, mas eu me afasto e me levanto da cama.

  — Precisamos conversar, Michael — digo, olhando diretamente em seus olhos. Ele parece surpreso, mas concorda com um aceno de cabeça.

  — Claro, sobre o que você quer falar? — ele pergunta, se sentando na cama. Respiro fundo e me posiciono em sua frente, encarando-o de cima.

  — Sobre o seu discurso no Oscar — começo — Você não mencionou meu nome. Você não mencionou nem que tem uma namorada. E não se esqueça que esse foi um dos motivos para eu terminar com você! — ele parece surpreso com o que eu disse, mas não diz nada. Ele apenas me olha, esperando que eu continue — Isso me machuca, Michael — continuo, sentindo as lágrimas pesarem em meus olhos — Eu preciso saber que sou importante para você. Eu preciso saber que você se importa comigo — Michael continua em silêncio por um momento, parecendo processar o que eu disse. Então, ele pega minha mão e olha nos meus olhos.

  — Anely, eu... — ele começa, mas eu o interrompo.

  — Não, Michael. Eu preciso que você entenda. Eu preciso ser priorizada. Eu preciso ser o foco da pessoa com quem estou. E todo e qualquer sinal de que a pessoa se importa já é muito importante para mim. E você não parece estar disposto a fazer o mínimo — ele assente, apertando minha mão. Eu posso ver a sinceridade em seus olhos.

  — Eu entendo. E eu prometo que vou fazer melhor. Eu te amo e quero que você se sinta amada e valorizada — ele diz, em um tom doce e gentil.

  — Você já fez essa promessa antes! — digo em um tom firme, tirando minhas mãos de seu alcance e andando para fora do quarto.

  — Nely, por favor... — ele tenta me alcançar, mas eu o interrompo novamente.

  — Não, Michael. Eu já ouvi isso antes. Eu preciso de ações, não de palavras — falo, me virando para encará-lo. Ele parece surpreso, mas não diz nada. Ele apenas me olha, parecendo perdido.

  — Eu... eu sinto muito, Nely. Eu não sabia que isso te machucava tanto — Michael fala com sua voz suave, quase um sussurro. Eu posso ver a sinceridade em seus olhos, mas isso não é suficiente.

  — Pois é, Michael. Você não sabia. E isso é o problema. Você nunca sabe. Você nunca percebe. E eu estou cansada de ter que te explicar tudo — murmuro, sentindo as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu tento limpar as lágrimas, mas elas continuam caindo.

  — Rosquinha... — ele tenta, mas eu o interrompo.

  — Não, Michael. Eu preciso ficar sozinha — digo, e caminho em direção à porta da sala. Eu posso ouvir ele me chamando, mas eu ignoro. Eu preciso de um tempo sozinha. Eu preciso pensar sobre nós. Sobre o que eu quero. Sobre o que eu preciso. E, mais importante, sobre o que eu mereço. E, neste momento, eu não tenho certeza se Michael pode me dar isso. Eu não tenho certeza se ele é capaz de me dar o que eu preciso. E isso dói. Dói mais do que eu gostaria de admitir.

20:23

  Caminhando lentamente, vou em direção à minha casa. Fiz uma bela caminhada pelo condomínio e isso me ajudou a me acalmar. Enquanto caminhava descalça e sem entender nenhum caralho do que vem acontecendo, pensei na possibilidade de ele pensar que a mídia poderia estragar o que temos, mas isso é impossível depois de tudo o que passamos. Se for isso, ele, sem dúvida, não consegue sentir que nosso relacionamento é forte o suficiente.

  Chego em casa e me jogo no sofá, exausta. A conversa com Michael me deixou emocionalmente esgotada. Eu fecho os olhos e tento relaxar, mas a imagem de Michael, parecendo perdido e confuso, continua voltando para mim. Eu suspiro e me levanto, decidida a tomar um banho quente.

  Ando em direção ao corredor e vou até a porta do banheiro. Olho para o quarto de relance, a luz ainda está ligada. Mas não consigo sentir a presença dele em casa. Entro no banheiro. Tomo meu banho e, nua, caminho para a cozinha e preparo algo para comer. Estou tão envolvida em meus pensamentos que nem percebo que estou preparando o prato favorito de Michael. Quando percebo, dou uma risada amarga. Mesmo quando estou chateada com ele, ainda estou pensando nele.

  Eu termino de cozinhar e me sento à mesa da cozinha, olhando para o prato à minha frente. Eu não tenho apetite, mas me forço a comer. Eu preciso manter minha força, especialmente agora.

21:01

  Guardo meu prato limpo no armário e caminho para o meu quarto. Estou incrivelmente cansada. Hoje foi um dia muito pesado para mim. Não consegui fazer nada direito e tudo que fiz, fui forçada por mim mesma a fazer.

  Ao chegar ao meu quarto, abro a porta e vejo Michael sentado na cama, olhando para o chão. Seu rosto inteiro se ilumina ao me ver, ele abre a boca para falar, mas eu levanto uma mão o interrompendo e vou até o banheiro do meu quarto. Eu escovo os dentes e lavo o rosto, evitando olhar para o espelho. Eu não quero ver o reflexo da mulher triste e cansada que sei que vou encontrar.

  Quando saio do banheiro, Michael ainda está sentado na cama. Ele me olha, mas não diz nada. Eu me deito na cama, virando de costas para ele. Eu fecho os olhos e tento dormir, mas a imagem de Michael, parecendo perdido e confuso, continua voltando para mim. Eu suspiro e tento afastar os pensamentos, me concentrando em minha respiração.

  Michael desliga a luz e se deita ao meu lado. Ele se aproxima um pouco e coloca sua mão em meu ombro. Após alguns longos minutos, eu me rendo e me viro para abraçá-lo. Ele me aperta fortemente em seus braços. E então, ele começa a chorar.

  — Desculpa — ele choraminga — Eu não queria que eles estragassem mais isso para mim — ele balbucia entre lágrimas — Não posso deixar eles acabarem com a única coisa que ainda me deixa vivo — o abraço mais forte. Respiro profundamente para evitar as lágrimas e o consolo com um carinho lento em seus cabelos.

  — Está tudo bem, meu amorzinho — sussurro — Está tudo bem — beijo sua bochecha com carinho.

Anely | Michael JacksonWhere stories live. Discover now