Quarto Encontro

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Dou um suspiro de alívio quando todas as lembranças vêm à tona, antes mesmo de ele entrar no quarto. 

Eu sou Isabela Albuquerque. Sou cirurgiã. Minha vida profissional se divide entre a clínica que herdei de meu pai e o trabalho de apoio voluntário à comunidades vizinhas. Sou casada com o amor da minha vida e melhor amigo.  Estamos passando um fim de semana em um chalé porque ele estava preocupado com meu volume de trabalho e sentiu que eu precisava descansar; o que eu neguei, mas, pela recente paralisia do sono, eu devia, realmente, estar em níveis de ansiedade e de exaustão altíssimos.

Jogo a cabeça contra o travesseiro, fechando os olhos e deixando a sonolência ganhar mais uma vez espaço em meu corpo. A porta se abre e ouço passos cuidadosos vindo em minha direção, então o encaro de forma sonolenta. 

— Perdão, meu bem, eu te acordei? — ele pergunta, acariciando meu rosto suavemente.

Com o coração meio partido, decido ir ao show dos amigos de Raul, encontrando toda a turma da última vez sentada à uma das mesas mais escuras

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Com o coração meio partido, decido ir ao show dos amigos de Raul, encontrando toda a turma da última vez sentada à uma das mesas mais escuras. Alex, com quem eu vinha trocando memes sem parar nos últimos dias, acena para mim com um sorriso e aponta para o lugar vago ao lado dele. Nunca tinha percebido como ele era absurdamente alto, até o momento em que precisei me encolher toda para passar entre sua cadeira e a parede para me sentar ao lado dele.

— Qualé, Alex, dá espaço para moça passar.

— Um dos meus objetivos de vida é nunca facilitar a vida de uma mulher bonita.

— Já consegui, obrigada pela consideração — digo enquanto penduro a minha bolsa nas costas da minha cadeira — Você sabia que minha mãe ficou muito surpresa quando ela soube que um dos amigos que eu iria encontrar hoje era o mesmo Alex Zimmerman com quem ela vinha tentando marcar uma reunião há vários dias?

Senti alguns olhares curioso vindo dos amigos dele, enquanto Alex deixava o sorriso ceder um pouco.

— Ah, sim. Eu trabalho para a sua mãe, pensei que você soubesse.

— Não, você não trabalha para ela. Pelo que ela me disse, você é dono dos silos de depósito da região e que ela na verdade vem implorando para que você ceda alguns para ela esse ano.

O sorriso dele sumiu completamente.

— É um problema não ter contado antes para você? — ele perguntou, preocupado — Raul falava tanto em "nós" na conversa de vocês naquele dia que nos encontramos pela primeira vez, que pensei que você tinha compreendido que eu também tinha contato com sua família.

Estreitei os olhos em uma desconfiança teatral.

— Ei, não me meta nos seus B.O.'s — Raul disse do outro lado da mesa, com um braço em volta dos ombros de Bárbara (com quem, apesar das expectativas de Alex, Raul vinha mantendo um relacionamento intenso e apaixonado) — Como ela ia advinhar alguma coisa se você tava mudo igual uma porta? Tudo bem que você tivesse brigado com a sua ex, mas a gente não tinha culpa nenhuma disso. 

Levantei uma sobrancelha na direção de Alex, que revirou os olhos.

— Essa história fica cada vez mais interessante — comentei.

— Não, não fica.

— Conta para ela — incentivou Raul, visivelmente interessado no desenrolar dessa conversa.

— Raul... — alertou Alex, mas neste ponto eu já estava mais do que curiosa sobre o que eles estariam escondendo e lancei um olhar curioso para Raul.

— Ela terminou com ele por sua causa — explicou Raul, apontando para mim com a mão acima do ombro de Bárbara.

— Minha?! — perguntei perplexa.

— Santo Deus, não é nada disso. Tu fala bobagem demais, Raul, puta merda — reclamou Alex, realmente irritado — Esse otário me chamou para vir com vocês pro bar naquele dia e teve a brilhante ideia de me encaminhar uma das suas fotos. Minha namorada na época viu e acabamos discutindo. Não terminamos por causa da sua foto, as coisas já não estavam bem há muito tempo.

Fiquei calada, perplexa. Eu jamais teria imaginado que o mau-humor dele naquele primeiro dia teria um motivo assim, e que, ainda por cima, eu teria envolvimento sem ter o menor conhecimento. Em silêncio, percebi que gostava um pouco menos de Raul depois de saber daquela história. Olhei para Alex, que me observava preocupado.

— Não encrenca com isso. Raul é infantil, mas não é maldoso. Ele realmente só queria te "apresentar" para mim antes de nos vermos à noite. E acredite, eu tentei explicar para ele que não fazia sentido eu vir junto, mas ele ficou dizendo como ficaria nervoso e isso e aquilo...

Observei Raul, que estava completamente indiferente àquela explicação, e percebi que Bárbara, minha amiga, estava desconfortável com a conversa. Respirei profundamente e então tentei mudar de assunto, decidindo deixar para refletir sobre tudo isso em outro momento.

Algum tempo depois, o assunto sobre a ex de Alex completamente esquecido, recebi uma ligação por vídeo-chamada de Daniel. Surpresa, fiquei encarando a tela do celular, sem saber o que fazer. Alex, ao meu lado, percebeu minha hesitação.

— Algum problema?

Não sabia o que responder, então apenas acenei que não com a cabeça. Coloquei o celular em modo avião e continuei aproveitando a companhia de meus novos amigos.

 Coloquei o celular em modo avião e continuei aproveitando a companhia de meus novos amigos

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