Man or a Monster

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Taehyung's P.O.V

18:52
Wednesday, 18, March.

Ele devia ter fugido.

Ele devia ter fechado a porta em nosso rosto.

Ele devia ter berrado para irmos embora e esquecer que em algum momento tinha se envolvido.

Mas Jungkook apenas se virou e entrou outra vez, a calmaria de seus passos não condizendo com o assombro chacoalhando seu corpo.

Nunca admitiria o tempo que levei até ter coragem de ir atrás dele. A porta da cabana ainda estava aberta para nós, mas a do quarto no andar de cima, fechada, era uma mensagem clara do quanto queria ver alguém agora.

O deixei em paz.

Já aterrorizei demais esse garoto. O mínimo que poderia lhe oferecer era espaço.

No andar de baixo, Yoongi está de pé no meio da sala, os braços cruzados e olhos críticos, pouco à vontade para sentar.

– Quer me contar o que, pelos Sete Infernos, está acontecendo aqui? – pergunta ele, lenta e perigosamente.

Eu o conto, então. Desde o momento em que caí no mundo mundano, até o momento em que cheguei nesta cabana.

Lhe conto sobre o garoto no quarto acima, sobre como ele brigou em meu favor.

Sobre como quando eu estava pateticamente lutando para escapar, comecei a ouvir os gritos protestantes, uma única voz indignada no meio de tanto silêncio.

Parem com isso! Vão machucá-lo!

Eu devia ter poupado esforços para fugir, mas usei tudo tentando encontrar a origem daquela voz furiosa e insistente.

E encontrei.

Era um garoto.

Devia ser pouca coisa mais baixo do que eu. Os cabelos negros e ondulados chegavam até pouco abaixo de suas orelhas carregadas de jóias prateadas. A pele leitosa que me fez querer tocá-la para sentir se era macia, tão diferente do comum bronzeado de onde cresci. Os lábios pequenos e acerejados escancarados com os protestos quase suplicantes, a mandíbula delineada e maçãs do rosto bonitas.

Se debatia nos braços daquele que lhe segurava, desesperado para se aproximar e tentar acabar com a bagunça. Movimentos desajeitados e pouco treinados que não surtiriam efeito algum, mas ele tentava com afinco.

Mas o que me chamou mais atenção foram os olhos.

Lembro exatamente do momento que encararam os meus.

Apesar da sonolência pesando meu corpo, retardando a mente, me lembro de cada segundo.

Foi um choque. Por um momento, nós dois paramos de lutar. A descarga de arrepios invadindo o corpo sem permissão, e por um segundo todos os pensamentos fizeram sentido. Me senti acordado. Me senti vivo.

Eram tão grandes e redondos... As íris tão escuras que não dava para distingui-las das pupilas.

E eram gentis.

Ele estava irritado, assustado até, mas isso não escondeu o brilho em seu olhar. Um brilho tão grande que seria capaz de iluminar até o mais escuro dos lugares. A eterna curiosidade disfarçada bem no fundo. Intensos, cheios de histórias apenas esperando para serem contadas, e de imediato reconheci o silêncio amedrontado bloqueando cada uma, porque era o mesmo silêncio dos meus.

Mesmo assim, eram os olhos mais vivos que já vi. Tão humanos. Não importa o que pense agora, a humanidade era inegável naquele olhar.

Eram olhos que me fizeram querer chegar mais perto. Observá-los por quanto tempo fosse, só para saber se eram reais, se eu não estava imaginando. Olhos que me fizeram querer ficar cego daquele brilho.

Love is a SinOnde histórias criam vida. Descubra agora