Sol e Lua

99 17 9
                                    

Sentiram seus corações baterem mais fortemente quando seus olhares cruzaram e assim ficariam. Eles se encararam por alguns instantes, sem dizer uma única palavra.
Ficaram olhando o rosto um do outro com muita atenção, e notaram a beleza que cada um possuía.

– Olá... Quem é você? – Neteyam indagou. Não sabia o porquê, mas não conseguia tirar os olhos daquele rosto por muito tempo e o outro estava na mesma situação.

Ao'nung ficou em pânico. Não queria falar quem era, queria pelo menos uma vez não ser visto como príncipe. Ele pensou em algo para dizer, mas decidiu só omitir com sinceridade e não mentir. – Prazer em te conhecer! Eh... Não quero dizer meu nome. E você?

– O prazer é todo meu, e... Eu também não quero... – Também queria tentar ser um anônimo ao menos para alguém, então omitiu seu nome assim como o rapaz a sua frente. – Você vem sempre aqui? – Tentou disfarçar seu nervosismo pelas razões de estar encantado pela aparência do maior e por estar escondendo sua origem.

– Na verdade, é minha primeira vez aqui. – Se sentou ao pé da árvore, se escorando em seu tronco. – E você? – O olhava de baixo, o vendo se sentar ao seu lado com muita postura e sem se escorar na árvore.

– É minha primeira vez aqui também. – Inclinou a cabeça um pouco, olhando para suas vestimentas. – Você deve ser de uma família rica. Essas roupas não me parecem baratas. – Analisava com cuidado. – Posso tocar?

– Claro, por que não? – Sorriu um pouco, esticando o braço para que ele pegasse no tecido da manga, e então ele o fez.

– Bem macio. Pelo jeito, aparência e roupas... Definitivamente você é rico. – Deu uma risadinha curta e calma.

– Você também não parece ser pobre. Tens classe demais para ser só um plebeu. – Deu uma olhada rápida em todo o corpo dele.

– Está dizendo que plebeus não têm classe? – Disse brincando, apenas para provocar alguma reação.

(Nota da Autora: E naquele dia, Neteyam criou o Twitter.)

– Não! Não, de forma alguma. Eu pensei isso porque nobres tem muito mais aulas de etiqueta, entende? – Deu uma risadinha do próprio deslize.

– Entendo sim. – Descansou as costas no tronco e olhou para o céu, respirando fundo se sentindo relaxado.

Seguiu as ações do outro, fazendo o mesmo até pensar em algo. – Temos que ter um apelido para nos chamarmos, correto?

– Ahm... E como nos chamaríamos?

– Deixe-me pensar... – O olhou de cima a baixo. – Você é “Sol”.

– Posso saber o motivo? Bem, tem uma razão ou foi apenas uma ideia aleatória? – Achou curiosa aquela ideia de apelido.

– Os seus olhos são dourados e brilhantes, inevitavelmente lembram o sol e seu brilho. – Disse como se fosse um elogio, e de fato era.

– Olhando dessa forma, me parece coerente. – Sentiu suas bochechas esquentarem de certa forma, ele apreciava quando notavam seus olhos. – Nessa linha de raciocínio... – Olhou bem para o rosto dele, até se aproximaram um pouco, porém Neteyam sequer notou e dessa vez quem se constrangeu foi Ao’nung, que ficou com os olhos levemente arregalados.

– O que houve? – Sorriu com o que era um possível pudor.

– Hm... – Se afastou novamente e começou a pensar, até ter uma ideia. – Muito bem, já que eu sou “Sol”, você será “Lua”.

– Com todo o respeito... “Lua” não é feminino? – Soltou uma risada desajeitada.

– Os seus olhos são da cor da lua azul e já que me apelidou através da cor dos meus olhos, acho justo que eu também faça isso. – Se justificou com um sorriso doce.

– Ah... Por que não “Mar”? Sabe, o sol e o mar fazem uma paisagem bonita, assim como uma possível amizade entre nós. – Tentava fazê-lo mudar de ideia mesmo que aquilo não necessariamente o incomodasse muito.

– Você escolheu o meu, então eu escolherei o seu. – Cruzou os braços e a doçura de seu sorriso se tornou uma demonstração vitoriosa de sua argumentação.

– Está bem, eu aceito. – Se deu por vencido.

Os dois ficaram um tempinho em silêncio, se olhando as vezes, pensando em algum assunto, e perdido em seus pensamentos, Neteyam começou a lembrar da ideia do casamento real e sua feição ficou triste. Aquele assunto conseguia o deixar pra baixo sem nem ser citado.
Ao’nung notou, o suspiro que o outro deu o entregou na hora. Ele não pôde deixar de se sentir pelo menos preocupado.

– Você está bem? – Pôs a mão no ombro dele.

– Não é nada demais. Eu só... – Respirou fundo. – Minha família quer que eu me case com alguém que sequer conheço e... Isso está me assombrando. – Ele não deu tantos detalhes, apesar de isso ser um tanto confidencial.

– Entendo... Ahm... Você quer falar sobre isso? – Se aproximou um pouco mais. Ficou intrigado por estar na mesma situação que o rapaz, porém estarem com sentimentos tão diferentes.

– Quero... Sabe, eu sempre sonhei com o dia que eu me casaria com alguém que eu amasse. Sonhava em usar um terno branco lindo com detalhes nas mangas, flores no meu cabelo e usar uma bela aliança, mas principalmente, meu amor desejado era um noivo gentil, amável, corajoso e que me amasse sem que eu precisasse estar dentro de um molde de perfeição... Queria uma pessoa que aceitasse os meus erros, mas... – Hesitou em falar o resto.

– Mas...? – Gesticulou um pouco para que ele o dissesse.

– Eu não sei se esse noivo o qual me prometeram é do jeito que eu gostaria. Não quero viver num casamento sem amor, de forma alguma. – Disse com um semblante magoado.

– Hm, isso é uma situação bem complicada, mas acho que alguém, com todo o respeito, tão bonito como você encantaria o coração até do pior dos rapazes. – Tentou ser positivo para que Neteyam se sentisse melhor. – Ele poderia começar a te tratar com muito amor, você retribuiria, e então seria mais fácil para ambos conviver.

– Você acha? – O olhou com os olhos esperançosos.

– Tenho certeza. – Devolveu o olhar com muita ternura.

– Certo... Irei tentar pensar nisso dessa forma. – Decidiu largar um pouco seus maus pensamentos com um pequeno sorriso no rosto.

O celular de Neteyam vibrou. Alguém estava ligando.

– Ora essa, quem será? – Olhou para seu telefone, era seu irmão Lo’ak. – Me dá uma licencinha, Lua? – Ele se levantou e foi até atrás de uma árvore para atender. – Alô, Lo’ak, o que você quer? – Perguntou calmo, porém por dentro estava irritado. Ele só queria um tempo de descanso.

– Cara, onde você está? A gente foi te procurar e você tinha evaporado da terra! Você não avisou que ia sair. – Parecia preocupado.

– Eu quis passear, qual o problema? – Perguntou já sem irritação, afinal seu irmão só estava aflito com seu suposto sumiço.

– Custava avisar antes? – Bufou. – Enfim, o pai me disse que você vai ter que fazer uma prova de roupa pra ficar todo lindinho pro seu noivo e...

– Já falei pra não me falar de... – Antes que pudesse se estressar com seus pessimismos ele lembrou das palavras do rapaz que acabara de conhecer e decidiu ser mais tolerante com esse assunto, pois aquelas palavras por alguma razão tocaram seu coração. – Certo, continue.

– Ok... Bem, quando você saiu nós continuamos conversando sobre o assunto e todos queremos ajudar. Queremos que você fique fabuloso para que o seu noivo não tire os olhos de você e fique completamente apaixonado. – Disse com empolgação e logo sua chamado foi invadida pelas irmãs, que também estavam muito eufóricas com esse casamento.

– A gente já até pensou nas cores da sua roupa para esse jantar! Vais usar tons de azul com detalhes dourados e enfeites no cabelo! – Tuk disse quase saltitando de animação.

– Eu pensei num penteado muito bonito pra fazer com suas tranças, você vai ficar espetacular! – Kiri falou no mesmo entusiasmo.

– Tá, ok, eu já entendi, vocês vão me encher de brilho exacerbadamente, correto? – Sorriu. Amava quando seus irmãos faziam coisas para deixá-lo melhor depois de algum problema.

– Claro! Se der a gente passa até canela em ti! – Lo’ak disse de forma engraçada.

– Eu tenho um glitter dourado no borrifador para passar no corpo, a gente pode pôr na sua pele! – A caçula já até imaginava seu irmão refletindo tanta luz que se não tivesse lâmpada não faria nem falta.

– Gente, não precisa disso tudo! – Neteyam ficou sem graça com todo aquele cuidado em fazê-lo parecer perfeito fisicamente para seu futuro marido.

– É lógico que precisa! A primeira impressão tem que ser ótima! – Alegou o mais novo.

– Certo, certo, eu vou aceitar a ajuda de vocês. – Neteyam pôde ouvir seus irmãos comemorando e seu sorriso cresceu mais ainda.

– Maninho, venha logo pra casa, queremos fazer os testes para que tudo saia perfeito! – Tuktirey fazia uma voz adorável para persuadi-lo a voltar.

– Está bem, estarei em casa logo, logo. Me esperem que estou a caminho. – Se despediu e então eles desligaram a chamada.

Neteyam foi atrás de “Lua”, e ele não havia saído do lugar, ainda estava sentado no pé da árvore. Rapidamente o maior olhou para ele e sorriu um pouco, o chamando com a mão e o menor foi sem hesitar para que pudesse se despedir dele.

– Você parece feliz, Sol. Boas notícias? – Não pôde deixar de olhar para a feição alegre do outro, ficou encantado por aquele olhar que antes parecia deprimido mas agora estava tranquilizado.

– Coisa de família. – Disse estendendo a mão para ajudar “Lua” a se levantar. – Bem, eu... – O abraçou sem muita força, mas com carinho. – Agradeço por ter me ouvido e por me ajudar a sentir melhor. – Soltou o abraço.

– Ah... – Estava em choque, porém de forma boa. Se sentiu lisonjeado por suas palavras terem ajudado “Sol”. – Não precisa me agradecer, eu só fiz o que senti que deveria fazer.

– Agora eu tenho que voltar ao lar. Novamente agradeço, espero que tenha um ótimo dia. – O abraçou de novo, dessa vez mais rápido e então lhe deu um sorriso enquanto se virava em direção ao seu cavalo.

– Espere! – Esticou a mão e então o outro parou e se virou para ele. – Nós podemos nos encontrar outra vez? Amanhã, no mesmo horário? – Implorava aos céus que isso desse certo. Gostou do pequeno tempo que passaram juntos e queria viver aquilo de novo.

– Bem... Eu não lembro de ter compromisso nesse horário amanhã. Não posso confirmar, mas se quiser vir amanhã eu vou tentar aparecer. Aliás, por que não damos o número de telefone um para o outro? – Sugeriu.

– Eu não trouxe o celular... E na verdade eu nunca decorei meu número. Sabe, eu não me ligo, então... – Ficou sem graça pela sua falha. – Fora que eu não trouxe caneta pra anotar o seu.

– Ah, sem problemas. Então se quiser me encontrar, apareça aqui nesse mesmo horário, nove e meia da manhã. – Acenou e saiu andando.

– Certo, irei vir. – Sorriu e acenou de volta.


Neteyam soltou seu cavalo e subiu nele. Eles foram direto até seus respectivos lares, e durante o caminho pensaram um no outro. O fato de haver mistério entre eles era muito interessante, então não esqueceriam do outro tão rápido.
Neteyam chegou ao castelo e logo foi abordado por seus irmãos que realmente o esperaram.

– Opa! – Quase perdeu o equilíbrio com o abraço coletivo. – Nossa, eu pensei que me esperariam na sala talvez e não bem na porta. – Riu um pouco da situação.

– A gente vai acompanhar a prova de roupas, ou melhor, a família toda vai. – Disse Kiri, e então eles pegaram o mais velho pelo braço e o guiaram até a sala que aconteceria a prova, mesmo que ele já soubesse o caminho, se deixou ser levado.

– Essa história de casamento está realmente agitando os ânimos de vocês. – Soltou outra risada sincera. Seus irmãos conseguiam o deixar muito mais leve em assuntos que o puxavam pra baixo.

– Você está muito sorridente falando desse assunto. Antes você estava todo desanimado por conta disso. – Lo’ak estranhou essa mudança tão repentina.

– Ah... Eu só pensei que talvez o pessimismo se torne realidade se eu ficar o levando a sério. – Se explicou corando um pouco por se lembrar das falas que recebeu tanto de seu amigo Liam, quanto (principalmente) de “Lua”.

– Hm... Está até com as bochechas coradas... Talvez tenha começado a imaginar como seu futuro marido seria e fantasiado algo com ele. – Kiri disse fazendo uma feição sugestiva, e os outros seguiram a onda para provocar o primogênito.

– N-não me acusem de algo tão sujo! Eu simplesmente fiquei ruborizado sem razão, certo? – Alegou em um tom que chegou a ser dramático de tão expressivo.

– Tá, tá... Todo mundo acreditou, Vossa Alteza Real. – O mais novo revirou os olhos, tal qual sua irmã, que riu junto da caçula.

No escritório do rei Jake, ele estava sentado em sua poltrona, com sua esposa ao seu lado, dialogando a respeito do casamento de seu filho. Ele estava preocupado de estar cometendo um grande erro com Neteyam, talvez um erro que pudesse destruir a relação de pai e filho. Pensava em desistir dessa história.

– Eu não estou com um bom pressentimento... Me sinto estúpido. Deveria tê-lo consultado antes de qualquer coisa, mas ignorei tudo para que as coisas se adiantassem. – Estava se culpando demais.

– Nessa parte, eu devo concordar, meu bem. Porém, não é algo fora do comum na realeza, então é compreensível que tenha feito essa escolha. – A rainha parecia tentar fazê-lo se sentir menor pior.

– Sei que é algo recorrente, porém é do nosso filho que estamos falando. E se ele odiar esse matrimônio? O que faremos a respeito? Ah... Que dor de cabeça isso está causando. – A dor era principalmente pela culpa que martelava seus pensamentos.

– Meu amor, por que não fazemos um acordo com o outro reino? Talvez se os casarmos somente se eles se gostarem, a situação melhore em sua mente. – Sugeriu, se levantando do estofado e se aproximando dele, mexendo em seus cabelos, os ajeitando a sua maneira.

– Eu não sei se aceitariam, com o perdão a palavra, a merda está feita. – Suspirou, deixando a raiva de si mesmo passar um pouco, e no lugar dela veio uma melancolia imensa. – Neteyam deve estar me odiando agora.

– Não diga isso! Ele não te odiaria. A raiva foi momentânea, tenho certeza! Ele é tão apegado a você, Ma’Jake. Tem tanto orgulho de você. Tente pensar de outra forma. – O abraçou por trás carinhosamente.

– Esse casamento tem que ser bom, preciso que seja o melhor possível para ele. Sempre foi um bom garoto, ele merece isso. – Olhou para sua esposa, com um resquício de esperança aceso por ela.

– Se aquele rapaz não for o que esperamos, ainda poderemos mudar de ideia. Você está dando um passo maior que a perna, meu bem. Eles ainda nem se conheceram, até lá, relaxe. – Acariciou os cabelos de seu marido que apenas sorriu em resposta.

A porta se abriu, e lá estava uma servente. Ela fez uma reverência e então os avisou. – Vossa Majestade, seu filho retornou e espera a presença de ambos para a prova de roupa para o jantar.

– Claro, estamos indo. – Se levantou de sua cadeira, e foi andando junto de sua mulher, sendo guiados pela empregada até a sala que o resto da família estava.

A espada prometida para o príncipe - Ao'nung X NeteyamOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz