Chapter one

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Liam sempre quis ser pai. Se preparava para isso desde os vinte e dois anos e atualmente com trinta e cinco, apertava sem muita vontade a mão de uma esquisita sensação familiar que o abraçava todas as vezes que passava por aquela tragédia pessoal. A segunda inseminação que fez ia bem até a décima terceira semana de gestação e assim que sangrou, soube que era mais uma oportunidade perdida. 

Respirou fundo, foi ao hospital e passou pelo procedimento sofrido para tirar os vestígios de um conjunto de elementos que formaria fisicamente o seu sonho maior de vida. 

Mesmo que as lágrimas quentes e incômodas fossem a sua única companhia, esperava que dias melhores pudessem vir, assim como uma nova chance de fazer tudo de novo.

A porta se abriu e assim que virou o rosto, se recompôs e disfarçou sua dor. Sorriu ameno para Meredith, sua obstetra e fiel aliada em sua jornada.

— Como se sente? — questionou, puxando uma cadeira para perto da maca. 

— Vazio. — e dolorido. Mas essa parte ocultava sempre. A dor não era nada comparada ao peito comprimido por ter perdido o seu bebê. 

Meredith sabia, sem que Liam precisasse se expressar através de palavras. Seus olhos castanhos tinham muito a dizer.

— Eu entendo. Mas não desista ainda.

— E não vou. Eu ja sei o que vai pedir. Repouso, analgésicos, hidratação e boa alimentação… — pegou com delicadeza o documento que lhe autorizava a receber alta, assim como as receitas dos medicamentos e prescrições. Estava acostumado com aquele processo. Meredith suspirou, segurando a mão dele.

— Adoção tambem é um gesto de amor, Liam. — disse com cuidado. Liam assentiu, concordando. 

— Eu sei. Têm muitas crianças sonhando com um lar e uma família boa… Futuramente pode ser que eu abdique dessa experiência e assuma esse plano b, mas enquanto eu tiver forças, quero arriscar. — a voz embargou e tocou a barriga, sentindo o coração ser esmagado ao recordar que não havia mais uma vida ali. — Eu só quero sentir isso, Meredith. Eu só quero ter certeza que não há nada de errado comigo. Quando eu puder me recuperar, gostaria de voltar e tentar novamente.

— Durante esses próximos meses, vou te liberar do tratamento com os hormônios e diminuir as regras, sem pressão… Sem abusar muito do álcool. Foque apenas em você. 

— Mas como? Eu preciso me preparar direito para o próximo procedimento! 

Se indignou, achando a sugestão da médica absurda demais. Tinha que aproveitar enquanto ainda estava em uma boa idade fértil e não perder tempo com uma boba jornada de autoconhecimento. 

— Aproveite esse período para conhecer novas pessoas, voltar a correr, ler mais livros e não se cobre tanto. Foram dois anos extensos passando por isso e agora você vai dar uma pausa, respirar, tirar um tempo e quando esse tempo acabar, vai voltar aqui e vamos conversar sobre esse desejo. Para o seu bem, espero que me escute, como profissional e como alguém que te quer bem. Fechamos assim? 

Liam suspirou, dividido entre retrucar e acatar. Achava o cúmulo da irritação a sabedoria em pessoa resumida naqueles lindos olhos azuis e cabelos loiros. Ela também tinha um diploma de psicologia e apesar de não exercer a função, brindava Liam com sábios conselhos que duramente procurava seguir, por mais que quisesse contradizê-la. 

E não teria muita escolha, afinal não colocaria seu sonho nas mãos de qualquer outro profissional que não fosse ela.

— E eu tenho escolha? — bufou, vendo ela esboçar um sorriso e beijar sua mão. 

***

Uma semana depois…

Era um novo dia e Liam voltou às suas atividades. Estava mais disposto naquele começo de tarde nublado, tanto que entrou pela cozinha encharcado de suor, após sua corrida de meia hora. 

Hope - Ziam Where stories live. Discover now