Capítulo 3

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— Que porra de lugar é esse, Aldric? — Willa ciciou quando o barulho de outro trovão reverberou pelo que sobrara da estrutura na qual caminhavam.

— Costumava ser uma escola — a loira agarrada ao braço de Valerian piscou os longos cílios. — Não é incrível como algo tão intangível quanto o tempo é capaz de deixar marcas de sua existência em todos os lugares?

Incrível não era a palavra que Willa usaria para descrever aquele lugar.

Assustador? Sim.

Desagradável? Com certeza.

Incrível? Nem mesmo o álcool que ameaçava afogar seu cérebro era capaz de fazê-la acreditar nisso.

Antes de acabar nesse cenário digno de histórias de terror, Willa estava se divertindo na festa com Nolan e seus amigos; o grupo entornava shot atrás de shot e, à medida que o líquido quente escorria pela garganta, sua risada se tornava menos forçada e sua atenção, mais relapsa. A facilidade com que o álcool fazia um corpo relaxar sempre a maravilhou. Nos momentos de embriaguez, não havia pais idiotas nem sonhos despedaçados; tudo que existia era a névoa alcóolica que transformava o cérebro em bolas de algodão.

Infelizmente, nenhuma quantidade de álcool era capaz de apagar um irmão inconveniente.

Logo no começo da madrugada, Aldric a encontrou e a arrastou para longe da festa. Segundo o irmão, ele e os amigos estavam prestes a explorar um lugar maneiro pra caralho.

Willa sequer teve a opção de dispensar o convite.

Antes da chuva engrossar, a luz da lua iluminava um pouco do caminho, mas desde que haviam entrado no prédio abandonado, estavam à deriva da sorte.

E dos próprios olhos.

As ruínas da escola cheiravam à mofo e chuva. Centenas de buracos no teto permitiam que a água da chuva se acumulasse em grandes poças impossíveis de evitar. As paredes estavam cobertas por trepadeiras abraçando tudo que seus galhos encostavam e pichações tão antigas que a tinta mal aparecia sobre o concreto rachado.

Que. Situação. De. Merda.

— Por aqui, Wills, — Aldric chamou — é na próxima porta.

Tropeçando em uma pilha de panos, ela se preparou para o impacto contra o chão quando um par de mãos a segurou pela cintura.

— Peguei você, linda — Jorah abriu aquele sorriso paquerador. Sua proximidade durante a última hora fora desgastante. Mais de uma dúzia de vezes, ela notou o jeito que ele insistia em tocá-la mesmo quando não havia necessidade.

O polegar dele fez um círculo na cintura da garota, fazendo-a estremecer. Willa sorriu e se afastou com pressa.

Assim que atravessaram a porta, ela congelou no lugar. No centro da sala coberta por lodo e vegetação selvagem, havia um grande piano.

Ou melhor, a carcaça de um piano.

— Por que estamos aqui, Al? — sua voz soou tensa.

— Não fique brava com ele — Jorah cantarolou. — Eu dei a ideia de virmos até aqui, linda. Faz um tempo que não tenho o prazer de te ver tocar e queria matar a saudade. Sabe como é, né?

Willa deu um sorriso amarelo.

Filho da puta.

Ela fixou o olhar em Aldric, que desviou sua atenção para o teto, incapaz de encarar a irmã.

— Não acho que esse piano seja salubre para que alguém o toque, Jorah — o nome dele soou amargo em sua língua. — E depois que saí do hospital, perdi a habilidade de tocar como antes.

Um de NósWhere stories live. Discover now