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    PRESENT (21st century)

    AUTHOR'S POV

    Bill entrou na sala rotineira silenciosamente, encontrando algumas incubadoras vazias e os enfermeiros presentes aparentemente orgulhos e felizes. Como sempre, o lugar estava pouco iluminado e quase não havia barulho circulando lá dentro.

    Sua mão segurava delicadamente um pequeno buquê de cinerárias, enquanto a outra segurava um bloco de desenho simples novo, que continha suas folhas limpas e intactas. Seu cabelo estava um pouco bagunçado pela ventania que passava pela cidade naquele dia, fazendo com que sua franja grande atrapalhasse um pouco sua visão. Seu tronco era apenas tampado por uma regata preta, enquanto a sua jaqueta de couro com o capuz estavam pendurados na sua cintura. Apesar dos ventos fortes, o dia estava tão quente que chegava a afetar até mesmo a morte e a vida.

    Alma estava sentada ao lado da incubadora de Xavier, brincando com a barra do seu vestido vermelho canela em uma tentativa não muito eficaz de se entreter e não deixar que o tédio a abraçasse. Seu cabelo longo estava preso em um coque mal feito no topo de sua cabeça, que vez ou outra deixava escapar um fio aqui e uma mecha ali. Suas pernas estavam cruzadas e a sua postura estava curvada pelo tédio. Vez ou outra ela soltava um suspiro impaciente, achando o dia um tanto quanto chato.

    A cabeça da Lúcios se elevou assim que seu ser sentiu a presença fantasmagória e misteriosa da morte a poucos metros dela. Seus olhos castanhos escuros se cruzaram com o castanho claro dos olhos de Bill, que olhou para os próprios pés e sorriu sem graça. O homem caminhou lentamente e de forma quase que desajeitada em direção à mulher, como uma criança envergonhada. Alma apenas o acompanhava com o olhar, sem querer intervir na ação do ser que sempre acabava tirando um sorriso de seus lábios sempre que aparecia e resolvia conversar com ela.

    Antes de se abaixar ao lado da mais baixa, Bill tirou as mãos de trás das costas, revelando os presentes simples que havia preparado para Alma. A mulher o olhou com surpresa, mas tentava ao máximo disfarçar o sentimento.

    As mãos delicadas e femininas se ergueram devagar em direção ao buquê e o pequeno caderno, olhando ambos com os olhos brilhando em admiração.

    — Obrigada. – Ela falou baixinho, quase sussurrando enquanto examinava com atenção as coisas em suas mãos.

    — Isso não é nada. – Bill deu de ombros e sorriu sem graça enquanto coçava a nuca, a fim de ser modesto.

    Bill lembrava como se fosse o esconderijo de seu maior tesouro que Alma amava desenhar quando estava entediada ou estressada. Quando se conheceram, ele já havia visto ela desenhar coisas aleatórias até mesmo na lama, na areia e na argila molhada. E também lembrava como ela falava que achava que as cinerárias eram tão legais que empatava com as acácias na sua lista de flores preferidas. Sendo sincero, ele se lembrava de cada pequeno gosto que ela havia falado para ele ou que ele havia percebido com o tempo de convivência. Talvez, se ela soubesse o tanto de coisa sobre ela que ele tinha guardado na memória desde quando eles se conheceram, o chamaria de louco, ou até mesmo obcecado.

    O Kaulitz se sentou ao lado dela, vendo a mulher apreciar as flores e alisar as folhas lisas e limpas do bloco. Ele encostou sua cabeça na parede fina atrás de seu corpo, permanecendo admirando a de cabelos longos do seu lado. Apesar de entediada, ela parecia até mesmo um pouco animada, e isso deixava o Kaulitz com o peito quentinho. Desde o dia que eles saíram para o campo de lavanda, a Lúcios aparentava estar mais leve e não demonstrava se incomodava mais tanto com a presença do mais alto.

    — Talvez o Xavier tenha alta daqui a pouco tempo. – Ela começou com a sua voz mansa, ainda olhando para as coisas que segurava em suas mãos. – Os médicos disseram que ele está surpreendente saudável pra um bebê prematuro. Ele irá sair da incubadora, mas ainda vai ficar sob observação. –  Concluiu, finalmente levantando sua cabeça para olhar para Bill.

𝕳𝐄𝐀𝐕𝐄𝐍 - 𝕭𝐢𝐥𝐥 𝕶𝐚𝐮𝐥𝐢𝐭𝐳Where stories live. Discover now