Capítulo oito- Pirralha

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Tenho uma queda por almas profundas e intensas.

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- Incline mais um pouco seu tronco e mantenha os pés mais afastados. - instruiu o Illyriano.

Azriel estava atrás de mim, tocando minhas costas e pernas para que eu me posicionar-se de forma correta. Enquanto isso, eu tentava ignorar o formigamento que ardia na minha pele onde sua mão roçava e me movia como havia ordenado minutos atrás. Estávamos há mais ou menos duas horas no ringue, ao perceber nos dias anteriores que eu era boa em aprender rápido, o Illyriano decidiu acrescentar mais golpes no nosso cronograma, deixando ele mais variado e um pouco mais cansativo. Mas era bom, gostava da sensação de ter os músculos dormentes, de ver minhas habilidades evoluírem de forma veloz! Também havia me habituado ao meu professor, aos seus olhos avaliadores e sua postura silenciosa.

- Intervalo? - indaguei desejando molhar a garganta.

O macho tomou um tempo para pensar e por fim decidiu me entregar dez minutos para descansar. Respirei fundo e busquei meu cantil de água que era feito de patas de hart, tomei um grande gole e me sentei no chão. Hoje, o céu estava nublado e com ele, trazia um clima mais frio e ameno, eu sentia o vento tocar meu rosto e fazer meus cabelos voarem no ar, escutava aquele som característico da natureza vibrar ao meu redor. A sinfonia que eu havia me habituado a escutar.

- Como aprendeu a lutar? - perguntou subitamente o férico.

Azriel havia se aproximado para mim indagar, sua postura estava relaxada e sua face neutra, eu não conseguia imaginar o que se passava na mente dele.

- Em tavernas. - tomei mais um pouco de água e ergui minha cabeça para olhar o macho. - Criava uma confusão e me metia nas brigas, às vezes arriscava duelos.

Ele franziu as sobrancelhas, acredito que ele nem devia desconfiar sobre minhas artimanhas para aprender a segurar uma espada ou como usar todo o meu centro para socar alguém, o formato do meu aprendizado era peculiar e desastroso, mas foi o que me permitiu entender a arte da luta e isso, eu não poderia negar.

- Ninguém para lhe ensinar?

Neguei com a cabeça e deixei que fizesse sua própria interpretação sobre essa descoberta.

- Então sempre esteve... - o espião engoliu em seco antes de continuar. - sozinha?

A pergunta pareceu que havia feito ele se encolher, como se fosse um gatilho para lhe lembrar de memórias, memórias nas quais não gostaria de mergulhar. Mas ao me ver e descobrir sobre mim, algo fazia ressoar dentro dele.

- Para um mestre espião, você pergunta demais. - falei com ironia para desviar o assunto. - Achei que a ideia era espionar e obter informações.

- Posso ser muito bom também na arte de arrancar informações. - sibilou cruzando os braços.

Através de tortura. Era o que insinuava o resto de sua fala.

- Vai perceber mestre espião, que se for arrancar algo de mim, vai ter que amaciar sua língua. - falei com malícia.

Azriel se agachou e me encarou, seus olhos avelã brilhavam e um pequeno sorriso foi desenhado em seus lábios, ele estava se divertindo e se acostumando aos desafios que eu lhe dava.

- E você vai descobrir, pirralha petulante, que quem decide como fazer isso, sou eu. - seu rosto se aproximou, centímetros de seu nariz tocar o meu. - Se vou te torturar com ferramentas ou com a minha língua. - concluiu.

Meu corpo todo se arrepiou, sua voz era como um ronronar malicioso e tentador que criava a sensação de calor dentro de mim. Por um momento, desviei meu olhar dos seus olhos para sua boca, me perguntando como ele faria para extrair meu passado com aquela boca! Seria lento e doloroso? Ou seria rápido e feroz? Pelo caldeirão, eu sentia minhas pernas fraquejarem e uma queimação no meu baixo ventre. Louca, eu estava ficando louca! Seu cheiro, seus olhos, sua forma de se impor, sua boca, tudo estava fazendo eu enlouquecer e isso não era bom, não era mesmo.

Corte de sombras e tormentasWhere stories live. Discover now