1 - Carol

175 12 1
                                    

Água...só vejo água!
Eu sinto meus olhos arderem como se estivesse caindo algo muito quente neles. Eles ardem.
Parecia que meu peito estava sendo abastecido com uma bomba de ar. Ele inchava.
Não sei como eu conseguia entender o que estava acontecendo. Minha mente nunca pensou tanto quanto nesse momento. Nunca passou tantas coisas boas e ruins ao mesmo tempo em uma cabeça de apenas 5 anos. Mas eu sentia. Eu só sabia sentir.
Quando meus pelos se arrepiaram com o contato do vento na minha pele, eu sabia que estava sendo carregada para fora da tormenta. Os braços que nem faziam força para me carregar tinha olhos azuis. E depois de ver o meu anjo, eu dormi calmamente.
Levantei tão rápido da minha cama, como se eu tivesse levado o maior dos sustos. Na verdade, era o jeito que eu sempre acordava quando tinha esse pesadelo. Peguei o meu copo de chá de camomila na escrivaninha da minha cama e tomei um gole caprichado, sentindo meu peito relaxar com aquele calmante caseiro. Fiz minha meditação e senti a paz se instaurar de novo.
Sei que não deveria, mas eu já me acostumei com essa sensação. Acontecia com mais frequência e, durante anos, fui me entendendo e aprendendo a cuidar de mim mesma.
Só tenho 20 anos e sinto como se eu tivesse vivido tanto a ponto de escrever um livro.
Talvez eu começasse contando sobre os meus pais, a base de tudo que sou e tenho.
Meus pais são donos de uma rede de hotéis aqui no Rio de Janeiro. Eles são nascidos e criados aqui, assim como eu e meu irmão. Ah, o Gabriel. O que falar dele? Quando éramos mais novos ele nem fazia questão de me ter por perto, até porque, que pré adolescente quer a irmãzinha mais nova atrapalhando os planos dele. Os meus pais eram daqueles que, tudo que o Gabs fazia, eles queriam que ele me levasse junto. E ele não suportava.
Acho que o divisor de águas pra nossa relação de irmãos foi quando eu levei o meu primeiro pé na bunda. Ali ele desenvolveu uma raiva do cara e arrumar um namorado se tornou ainda mais difícil, porque ele precisava passar pela aprovação do bonitinho. Meu irmão é meu melhor amigo, meu herói e meu médico que eu morro de orgulho.
Ah, e eu não posso deixar de citar a minha melhor amiga na minha biografia. Eu e a Sarah nos conhecemos na creche e, viramos parte uma da outra desde os 3 anos de idade. Nós erámos conhecidas como a "dupla falante", e assim seguiu sendo no fundamental e no ensino médio. No colegial a gente conseguiu uma fama mais popular, então acho que esqueceram um pouco das meninas que falavam demais. Apesar de tudo, eu sempre fui a nerd da turma. Gostava muito de estudar, diferente da minha melhor amiga, que era a maior preguiçosa da turma.
A loirinha de olhos castanhos escuros, alta e magra como uma bela modelo da Victoria Secrets tinha seus talentos para outras coisas, por isso gosto de usar ela como minha estilista particular.
Bom, o próximo capítulo da minha história acho que eu só vou poder contar daqui a algumas semanas, já que hoje eu tô embarcando pra maior aventura da minha vida.
Conseguir a minha bolsa em Stanford foi a coisa mais maluca que já me aconteceu e eu não posso deixar isso passar. Eu estou finalmente vendo todo o meu esforço valendo a pena.
Eu cresci vendo os meus pais construírem o bem mais precioso que eles tem, e eu quero seguir esse legado. Eles precisam de férias e eu tenho muito a agregar na rede de hotéis. E com esse curso fora do país, vai me ajudar ainda mais.
-  Bom dia, flor do dia. Bora levantar? - ouvi a voz estridente da minha amiga e logo cobri meu rosto com o travesseiro.

-  Pode não gritar, por favor? - eu pedi, sentindo minha cabeça doer. Acho que são resquícios da noite anterior.
-  Isso se chama ressaca - ela disse, me estendendo a mão ocupada - Toma, seu irmão mandou te entregar.
Peguei a pílula de aspirina e a garrafinha de água e tomei, sentindo um leve amargo na boca.
A loira que se encontrava em pé, do lado da minha cama, era a maior responsável pelo meu estado em pleno dia de hoje. Ela resolveu fazer uma despedida pra mim em um lugar medonho com bebidas de procedência duvidosa.
Tudo bem que eu errei feio quando segui a sua ideia mesmo depois dela ter me falado "Eu já te coloquei em alguma emboscada?". Ali eu devia ter desconfiado, mas quis ir do mesmo jeito. E essa minha infeliz decisão me levou em uma boate de stripper. O maior problema nisso tudo é que ela esqueceu de avisar os meus convidados que, eram parte amigos nossos e a outra parte, estudantes de filosofia que faziam curso de redação.
Antes de assustar ainda mais essas pessoas, eu liguei pra um amigo meu dono de uma adega que conseguiu uma mesa de bar, baralho, dominó e boas bebidas pra gente curtir.
-  Mentira que você ainda não tá com a mala pronta? Amiga, faltam 3 horas pra gente ir pro aeroporto e você aí dormindo? - respirei fundo, desejando que aquela tagarela ficasse em completo silêncio por pelo menos 2 minutos.
-  Eu já vou fechar tudo, só faltam algumas coisas - eu disse, levantando e calçando minhas pantufas.
-  Então eu te ajudo - ela disse, pegando umas roupas que eu nem pensava em levar e, também, acho que nem caberia na minha mala.
No final, ela acabou realmente me ajudando a encher mais a minha mala do que já estava cheia e terminei de guardar o restante de essencial que eu precisava levar.
Sendo sincera, eu estava tentando adiar cada vez mais a minha despedida, porque, apesar de eu estar muito ansiosa com essa viagem, ficar longe deles ia doer todos os dias. Mas chega uma hora que a gente precisa encarar de frente as situações.
Meu pai me ajudou a guardar fechar as malas e guardar no carro, já que ele ia me levar pro aeroporto. Meu irmão queria ir junto, mas ele tinha plantão no hospital e minha mãe não gosta de despedidas. Então o fortão do meu pai que me acompanharia, mesmo eu conseguindo ver cada lágrima que se acumulava nos seus olhos.
-  É bom me ligar - meu irmão me abraçou forte - E nem inventa de arrumar um gringo estranho por lá hein. Não quero gastar meu inglês com namorado seu - ele disse me fazendo rir
-

Before you go Onde histórias criam vida. Descubra agora