𝐌𝐞𝐥𝐡𝐨𝐫𝐞𝐬 𝐈𝐧𝐢𝐦𝐢𝐠𝐨𝐬 - 𝐃𝐫𝐚𝐫𝐫𝐲 (𝐓𝐫𝐚𝐝𝐮𝐜̧𝐚̃𝐨)

✾ Capítulo 6 ✾

Hermione estava lendo, enrolada em uma poltrona confortável que ela havia transfigurado de uma cadeira padrão de madeira com encosto reto. Estava quieto aqui na ala hospitalar, mais ainda do que na biblioteca. Todas as camas estavam vazias, exceto aquela onde ela estava sentada, que era separada do resto do quarto por um longo biombo. Era como se Malfoy tivesse um lugar privado só para ele.

O garoto na cama não poderia se importar menos, no entanto. Durante dias, ele permaneceu num estado de profunda inconsciência. Ossos fraturados, ligamentos quebrados, lacerações e escoriações estavam cicatrizando, mas ele não acordou. Madame Pomfrey disse que era apenas uma questão de tempo, mas seu rosto traiu suas dúvidas.

Hermione já estava sentada aqui antes do almoço e agora de novo, durante a maior parte da tarde. Ela só podia visitá-la por dez ou quinze minutos por vez durante a semana, mas hoje era sábado e ela poderia facilmente passar o tempo aqui. 

Ron, Harry e Gina saíram de manhã cedo para uma sessão de treinos de quadribol durante todo o dia com o resto do time. Eles tiveram alguns problemas com estratégia e tática após a ausência de um mês de Harry — ou algo assim, Hermione não tinha certeza.

Tudo estava como sempre foi. Pelo menos foi isso que todos tentaram fingir.

Com um suspiro, ela guardou o livro, levantou-se e esticou os braços. Então ela sentou-se cuidadosamente na beira da cama de Malfoy e pegou a mão dele. Estava mortalmente fria. O rosto do loiro tinha uma cor cinza acinzentada e era magro, mas estranhamente calmo. 

Como no primeiro dia em que ela viu ele e Harry dormindo juntos, havia uma beleza suave e relaxada em suas feições. Se ao menos Harry pudesse vê-lo assim...

Mas Harry nunca veio aqui.

Ela sentiu que não poderia deixar Draco sozinho ali. Não depois de tudo o que aconteceu. A cena estava sempre em sua mente, dia e noite, juntando-se aos pesadelos que ela sofria desde a guerra. Isso voltou para ela novamente agora. Ron sacudiu-a para acordá-la no meio da noite, murmurando algo sobre a vassoura de Harry voando sozinha pela janela. 

Caminhando por corredores escuros e silenciosos até o Hall de Entrada, seus olhos turvos cegados por um flash de luz branca quando abriram a porta que dava para fora e a forma fantasmagórica de um cervo gigante passou galopando por eles. Correndo para o campo e congelando de terror quando, no brilho amarelo do feitiço Lumos, eles viram Harry ajoelhado ao lado de um corpo com membros dobrados em ângulos não naturais e sentiram cheiro de sangue. 

Então Harry socou a figura de cabelos prateados com os punhos e gritou como ela nunca o tinha ouvido gritar antes. Luzes, vozes, passos rápidos. O rosto de Ron, quando agarrou os pulsos de Harry, torceu-os nas costas e o arrastou para longe. No momento em que Harry ficou imóvel, seus olhos se arregalaram e ele deu outro passo para trás, desta vez por vontade própria.

Naquele momento eles perceberam que o vínculo estava quebrado, a dívida de vida quitada. Mas por pura sorte ou por algum golpe de magia acidental, Draco Malfoy não estava morto. Ainda não.

Hermione balançou a cabeça e respirou fundo. Ela não deveria se permitir pensar nisso. Ela apertou a mão de Malfoy suavemente e colocou-a de volta no cobertor. Antes que ela pudesse se levantar, ouviu-se um rangido na porta e o som de passos. 

Ela olhou esperançosa, mas não era Harry. Nem foi Luna quem adquiriu o hábito de dançar na ala hospitalar a qualquer hora do dia para cantar uma canção de ninar para a infeliz vítima de seu feitiço. A pessoa que saiu de trás da tela foi Ginny.

"O jantar é daqui a meia hora. Você vem?" ela perguntou em voz baixa.

"Claro."

Ginny deu um passo hesitante à frente e parou ao lado da cama. Certa vez, na manhã seguinte àquela noite horrível, ela foi visitar Malfoy na esperança de finalmente poder se desculpar, mas assim que viu o corpo imóvel coberto de hematomas e cicatrizes recentes e raivosas, ela começou a chorar e fugiu. Agora, ela tinha uma expressão estranha nos olhos.