capítulo oito

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Boa leitura:))

***

O cheiro suave de minha mãe me alerta no mesmo instante em que o sinto. Estou no refeitório durante o horário de almoço e posso sentir não somente o cheiro dela, como de meu pai e meus tios vindo direto de um ônibus escolar no estacionamento.

Que legal, é a faculdade de Nessie e Violet. – é a primeira frase que tia Alice solta quando a ouço descer do ônibus quase silenciosamente.

O cheiro dos humanos me atrapalha por um momento de sentir o deles, mas meu olfato é mais que acostumado ao deles.

– Vamos, Renesmee, temos prova surpresa, lembra? – Vanessa diz sem muito entusiasmo, pegando a própria bolsa e suspirando. – Estudar vai ser a coisa mais complicada e é só o primeiro semestre...

Faço o mesmo no automático enquanto vigio minha família que obedece o professor com uma calma impressionante para "alunos" do ensino médio. Logo seguro a mão de Violet e entrelaço nossos dedos, evitando apertar muito para que nossos dons não se choquem – já aconteceu e foi uma sensação estranha.

– É dia de visitar a faculdade hoje? – questiono um pouco alheia as conversas deles sobre a prova da nossa professora em comum.

– Acho que é, minha irmã mais nova comentou que é nesse mês, então...

Charlie começa a caminhar diretamente para a sala de aula e nós quatro a seguimos, mas no meio do caminho paro sem emitir um som sequer e os nossos colegas humanos não percebem e continuam andando. Enquanto isso, Violet usa seu dom em mim uma vez que a guio até o banheiro, ele é um dos que ficam entre as salas, diferente dos outros que são muito afastados.

Enquanto caminhamos até a última cabine, sinto meu coração acelerado e meu corpo parece que vai derreter.

Todos os meus pensamentos estão sendo compartilhados com segundos de atraso com Violet, mas assim que ela os capta, posso sentir como se soubesse o que ela está prestes a fazer, como me perguntar se estou compartilhando meus pensamentos de propósito.

– Você consegue compartilhar seus pensamentos nesse momento? – ela questiona no mesmo instante, me apertando como se eu estivesse caindo em seus braços numa tentativa falha de abraço unilateral. – Você consegue adivinhar o futuro?

– Liga 'pros meus pais, por favor. – peço quase inaudível, mas sinto que falei com uma eloquência tremenda.

Como se estivesse em terceira pessoa.

Ela pega o telefone no mesmo segundo e liga. A chamada é atendida na mesma hora e posso ouvir o barulho de muitos alunos conversando e pássaros ao fundo.

Ela explica que eu não pareço bem ao mesmo tempo que pareço normal, que eu estou quase derretida nos braços dela no último banheiro e na última cabine e meus pais apenas dizem ao professor que tiveram uma emergência e meus tios também estão vindo.

Eles não desligam a chamada e isso permite ouvir eles tentando correr o mais devagar possível.

– Você bebeu antes? – ela faz um carinho suave no meu cabelo, enrolando os dedos em mechas grossas e beija minha testa com ternura. – Talvez híbridos tenham alergia a álcool...

– Já bebi antes, mas não esse ano. – Por mais que eu sinta minha voz fraca, ela não demonstra nenhuma preocupação, como se estivesse tudo normal. – Mas me sinto esquisita.

– De que forma?

No outro lado da linha posso ouvir tia Alice dizer ao mesmo tempo: – Elas estão sendo melosas, não acham?

No mesmo momento Violet muda a expressão no rosto, o carinho todo se transforma em apenas preocupação, como se tivesse algo errado comigo. É engraçado porque eu ainda não contei a minha família que estamos tentando evoluir nosso relacionamento, ainda mais pela aposta boba deles.

Pensando nisso, meus motivos de não contar são meio bobos, mas também tenho o direito de não dizer tudo sobre minha vida, como se estivesse em uma fase rebelde na adolescência em idade humana. Também penso em Violet e que talvez ela queira contar às mães que gosta de alguém tão legal quanto eu e que talvez seja egoísta tirar isso dela.

– Não acho bobo, apoio suas decisões. – Ela diz com uma firmeza tão imponente que me assusto ao sair da minha própria cabeça, nesse momento o cheiro dos meus pais e tios fica bem mais intenso, indicando a chegada deles.

Quanto tempo estive pensando?

Só sei que Violet me entrega nos braços de tia Rosalie, posso sentir o cheiro forte de perfume que ela passou essa manhã e seu cheiro natural de vampira. Tento focar em seu rosto, mas não consigo, nem mesmo consigo mostrar o que estou sentindo.

– Ela está bêbada? Vocês não têm idade pra beber! – mamãe diz com firmeza, tento me virar para a direção de seu cheiro, mas não consigo focar em seu rosto, ele parece bem embaçado e distante.

– Ela 'tá vendo tudo embaçado?! – Tia Rose diz com preocupação exalando em sua voz.

– Ela também está um pouco aérea, mas a aparência é como se estivesse melhor do que nunca?! – papai diz e me viro na direção de sua voz.

Eu não queria me comunicar com meu dom, muito menos compartilhar minha mente com ninguém além de Violet.

– Isso me machuca um pouquinho – tia Rose diz e me pergunto por qual razão ainda uso meu dom com ela se eu não quero. – Ela sequer controla o próprio dom, pessoal, é algo grave.

Eles conversam um pouco antes de decidirem voltar para casa e eu vou discretamente com minha mãe me carregando nas costas, é bem divertido já que ela não fica comentando em voz alta o que penso e lhe mostro sem querer, a personalidade dela é a que eu mais gosto logo após a de Violet.

***

Chegar em casa depois de quase um mês não é nada estranho, tudo está muito bem em seu devido lugar e vovó faz sua jardinagem típica.

Sou deitada em minha cama logo após ver Esme que quase explode de preocupação com meu estado esquisito. Vovô Carlisle é chamado em emergência e eu sou colocada para um repouso enquanto eles discutem.

O bom da minha família é que em momentos assim eles simplesmente discutem longe ou mais longe possível para evitar estresse desnecessário, mesmo que ouvir eles falando de uma possível doença humana que eu possa ter contraído não seja tão incômodo assim, adicionando o fato das teorias serem sobre o período menstrual que eu nunca tive – que talvez seja relacionado com meu veneno inexistente.

Posso ouvir meu pai negando falar o que penso: Violet e a mesma andar de um lado para o outro enquanto tio Emmett brinca que ela vai partir o chão. Posso imaginar o cabelo cacheado dela a seguindo e se movimentando com o ar que ela acaba criando de tanto andar. Até mesmo seu rosto pensativo e cheio de rugas enquanto ela se concentra em pensar em vinte coisas ao mesmo tempo.

Há um silêncio momentâneo e o cheiro de vovô Carlisle fica bem fresco no ambiente. Ele não conversa muito com os outros, apenas pergunta onde estou e  quais são os sintomas.

Poucos segundos depois ele está ouvindo meus batimentos cardíacos e aferindo minha pressão arterial que não estão alteradas.

Em vez de falar, mostro logo como me sinto e adiciono um novo sintoma: estou sem vontade nenhuma de me levantar.

– Você consegue falar normalmente e só está com os olhos vagos, mesmo para alguém com uma visão tão boa... Talvez alguns dias de repouso seja melhor até descobrimos, que tal?

Eu apenas concordo porque não tenho mais nada para fazer.

***

Um tempo depois, cerca de três da manhã, posso sentir o cheiro forte de tio Jacob com mais alguma fragrância estranha.

Ele conversa com meus pais na sala de jantar e devido ao sono e meus sintomas terem piorado, não entendo o que eles conversam ou se foi continuação de um sonho, mas tenho certeza que há algo estranho no cheiro de Jacob e como sua voz está parecendo chorosa.

Choices | Renesmee Cullen Where stories live. Discover now