Capítulo 10

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Gena Bonfield optou por ir à vila pouco antes do cair da tarde, pretendia comprar peixe e alguns legumes para que pudesse preparar um excelente jantar para lorde Huttleford.

O que ela não esperava era encontrar com lady Lucinda e seu semblante aparentemente aflito.

[. . .]

Aquele fora um dia de completa imersão no trabalho, começara por receber a leva de insumos agrícolas que encomendara no dia anterior, logo após organizá-los minuciosamente em seu armazém Henry se dedicou a estudar o maquinário para colheita de trigo que seu pai havia adquirido ainda em vida, mas que nunca pudera ser utilizado, pois dependia de tração animal.

Há pouco mais de dois anos ele analisara com afinco a possibilidade de adquirir alguns cavalos para finalmente utilizar o maquinário de seu pai, porém os gastos seriam exorbitantes, desde a construção de um estábulo, contratação de um empregado com experiência no trato desses animais e a alimentação dos mesmos. Então sua esposa anunciou que estava gerando seu primeiro filho e Henry compreendeu que aquela não era a hora de arriscar suas finanças e sim de resguardar o máximo de dinheiro possível.

Agora não havia nada o que temer e nem motivo para adiar aquele investimento. Henry se lembrara que um de seus inquilinos, o Sr Towell - que arrendara sua propriedade em Burford - o estava devendo alguns meses de aluguel e convenientemente o homem era um criador de cavalos. Lorde Huttleford decidiu que assim que retornasse para casa redigiria uma carta ao inquilino propondo que lhe enviasse dois equinos em troca da quitação dos aluguéis atrasados.

Com relação ao maquinário, algumas peças foram desgastadas pelo tempo e precisariam ser trocadas, nada que demandava a contratação de serviços externos, ele mesmo consertaria sozinho.

Após retornar de seu almoço se juntara aos trabalhadores da plantação na aplicação de fertilizantes no solo em que o trigo não crescia e dos inseticidas nos locais em que com o passar de alguns dias a plantação estaria apta para a colheita.

Como aquilo tudo lhe fizera falta! - pensou ele, ao adentrar na carruagem e observar os portões de Stotford se distanciando - Se entregar de corpo e alma ao trabalho que amava ao ponto de esquecer-se completamente de tudo que estivesse do lado de fora dos muros de sua propriedade. Naquele momento tudo que ele ansiava era chegar em casa, se acomodar em sua confortável poltrona na sala de visitas e apreciar um bom brandy para relaxar. Mas claro, suas expectativas foram completamente frustradas quando, assim que adentrou a residência e retirou algumas de suas vestimentas, a senhora Bonfield o abordou com aparente inquietação, a qual inicialmente ele não percebera.

- Milorde eu... - Gena começou, mas Henry a interrompeu e desatou a falar.

- Ah Gena querida, tive um dia muito frutífero hoje. Estou cheio de ideias - comentou animado.

- Fico muito feliz com isso querido - mas a expressão preocupada dela não se suavizou ao dizer aquilo - Mas eu queria lhe dizer...

- Vou restaurar o maquinário de meu pai, o que com certeza será um grande auxilio na próxima colheita, vou adquirir alguns cavalos para manusear os mesmos, devo também construir um estábulo para abrigar os animais.

- Isso é excelente querido! Mas eu preciso lhe contar que...- Henry a interrompeu mais uma vez, completamente alheio aos comentários dela.

- Preciso urgentemente ir a Londres, quero comprar todos os exemplares possíveis dos novos livros sobre agricultura, sei que deve haver tantas novidades que eu desconheço, preciso me atualizar sobre... - desta vez fora a senhora Bonfield que o interrompera utilizando um tom firme e autoritário, o que bastara para cessar a fala interminável dele.

- Henry Bernard Huttleford! Exijo que me ouça!

Henry franziu o cenho e só então percebeu a postura tensa dela.

- Estou ouvindo-a senhora Bonfield - Henry se sentou em sua poltrona sem desviar o olhar curioso da pessoa dela, exatamente como fazia quando era um menino e a governanta lhe aplicava algum sermão.

- Há poucas horas fui até a vila comprar alguns legumes e peixe para preparar seu jantar - subitamente Henry encarou sua barriga que emitiu um som estranho, só então se deu conta do quanto estava faminto - Henry preste atenção - a governanta o advertiu.

Henry engoliu em seco e assentiu, sentiu um leve tremor nas mãos, seja qual fosse a notícia que Gena iria lhe dar, não parecia ser das melhores.

- Estava na feira quando esbarrei em lady Lucinda, ela parecia assustada.

- Assustada? - perguntou Henry apreensivo, poucas coisas no mundo seriam capazes de deixar Lady Fernsby naquele estado.

- Sim. Conversamos brevemente, inclusive devo acrescentar que ela ficou bastante desapontada quando lhe relatei sua intenção de jantar sozinho esta noite.

- Gena, preciso que vá direto ao ponto - pediu ele, sentindo-se ansioso.

- Ela me disse que estava à procura da senhorita Adelaide Cadwell - ouvir aquele nome fez com que o coração de Henry acelerasse, ele não gostou nada daquilo.

- Adelaide? - Henry tossiu, sabia que não deveria falar seu nome com tanta informalidade diante de outra pessoa - Digo, a senhorita Cadwell?? Por qual motivo Lady Lucinda estava procurando pela moça? - questionou ele.

- Bem, me parece que a senhorita decidiu passear na vila pela manhã e não avisara a ninguém, o que a deixou bastante preocupada.

- Céus! - Henry exclamou se levantando - O que mais a senhora sabe?

- Sei que Lady Lucinda havia procurando em diversos estabelecimentos sem sucesso algum, a moça sequer foi vista passeando pela rua.

Henry andava de um lado para outro pensativo. Por qual motivo Adelaide iria fazer aquilo? Se lembrou então da prosa entre eles no dia anterior.

- A modista - ele praticamente berrou - Lady Lucinda a procurou na modista?

Gena ponderou por um instante.

- Por favor Gena fale alguma coisa - pediu ele impaciente.

- Não me recordo de Lady Lucinda ter dito que foi á modista, ela fez uma lista bastante específica dos lugares em que havia ido: praça, o parque, um restaurante, uma floricultura, joalheria, livraria, uma cafeteria... Não - concluiu - Lady Fernsby não citou nenhuma modista, em seguida ela me disse que retornaria para casa, na expectativa de que a jovem já estivesse de volta.

Henry assentiu pensativo. Em silêncio e com passos rápidos ele se dirigiu para a porta e apanhou o casaco e a cartola.

- Aonde vai? - questionou Gena.

- Vou á modista - rebateu Henry fechando a porta antes que a governanta formulasse qualquer outro questionamento.

Apesar de se encontrar apreensiva pela dama, Gena Bonfield não conseguiu evitar que um sorrisinho de canto brotasse em seus lábios formando uma leve ruga em sua bochecha. Suas suposições feitas naquela manhã sobre a importância da tal Adelaide na nova vida de Henry estavam certas, Henry parecia se importar muito com essa moça.

Um Homem Sem Esperanças - Irmãs Cadwell - Livro 2Where stories live. Discover now