VIII - Sobre confiança e desespero.

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Caçada de
Inverno

Capítulo 8 — Sobre confiança e desespero.

Se a paixão era o primeiro estágio para o amor, como verdadeiramente o amor deveria ser?

Se a paixão poderia ser descrita como o desejo ardente por alguém, e esse alguém passaria a ser perfeito aos olhos daquele cujo coração foi flechado, seus benefícios seriam como uma felicidade eterna e visão de mundo utópica, onde tudo é possível com o poder do "amor"? Se a paixão estava na perfeição e no desejo, o que deveria sobrar para o amor?

Seria a seriedade do sentimento pleno?

A paz na presença e o tormento na ausência daquele amado?

Sentimentos tão confundidos, e ainda tão diferentes.

Se amar é sofrer e a infelicidade também, o que, de fato, nos faz sofrer? Talvez seja apenas o equilíbrio sendo clamado, porque, assim como une e constrói, o amor também destrói?

Seria apenas questão de perspectiva?

Não sabia porque estava pensando naquilo. Sentia apenas que seu interior estava bagunçado e o sono somado ao cansaço o impediam de raciocinar adequadamente, mas não impediam que sua mente vagasse por trilhas tortas e sem saída. Como um conjunto de perguntas sem respostas que, ainda que encontrasse as respostas, não levariam a lugar algum.

Perdido em seu mar de pensamentos, ao voltar ao seu quarto no momento que o sol nascia no horizonte, Mingyu não conseguiu dormir decentemente durante o resto daquele dia, perturbado com tais questões.

Havia passado a madrugada inteira nos braços de Wonwoo, dançando, sorrindo e se divertindo.

Havia esquecido de todo o resto do mundo. De seus deveres, seus objetivos e até mesmo que o tempo não poderia parar, e em um instante o futuro deixaria de estar distante e se tornaria o presente momento.

Mas aquela noite longa sempre seria eterna nas memórias daquele pequeno Lírio.

E, céus, quase beijara Wonwoo!

Há quanto tempo aquilo havia começado? Aquela vontade avassaladora e a sensação de brasas subindo por todo o seu corpo, como um desejo ardente e instantâneo que tomou seu coração por alguns momentos e quase o fizera ter seu primeiro beijo. Mas, em um lapso de lucidez, tudo acabou. Pensou que fosse queimar.

E, em seguida, se viu preocupado com um futuro que sequer poderia imaginar. Porque o destino era imprevisível. Quando pensamos que podemos prever as atitudes de alguém, sempre há a possibilidade de nos surpreendermos com suas escolhas, assim como também há a chance da decepção.

Mas, desde quando lhe cabia aquelas preocupações? Desde quando deveria pesar seu coração com tais questionamentos se sabia que aquilo apenas lhe traria mais dúvidas, mais cansaço, e menos horas de um bom sono?

Ao fim, preferiu, então, confiar que seu coração o guiaria ao momento certo, e se fosse para sofrer com ou por amor, que fosse. Já havia aceitado que aquelas dúvidas eram normais e todos estavam suscetíveis a sofrer por isso, e desde o momento que também aceitara seu risco, percebeu que o medo havia sumido. Por que se estava disposto a sofrer para viver, então viveria bem, até mesmo com o risco da infelicidade.

Era melhor do que nunca ter experimentado tal sentimento nobre.

Porque, afinal, já sabia.

Wonwoo nunca faria-lhe mal algum com um propósito. Que fosse inconsciente ou por um erro humano, Mingyu seria capaz de perdoá-lo. Mas sabia que nunca veria malícia tal em suas atitudes.

Caçada de InvernoWhere stories live. Discover now