CAPÍTULO XII

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- Não serei a líder dessa guilda. - digo com firmeza.

- Com certeza não, pois se você for a líder eu saio. - Caliandra diz.

- Todos nós iremos sair. - dizem em coro.

- O juramento que fizeram não foi a Arlen, mas a guilda como um todo. Juraram lealdade e devem cumprir com seu papel, seja o líder quem for, agora cabe a Talia ganhar a confiança de vocês.

Os olhos de todos estão voltados em mim dizendo que não importa o que eu faça nunca irão me perdoar. Meus olhos caem sobre Arlen outra vez, sabendo que ele está morto por minha culpa, sinto que quebrei meu próprio juramento,  e todos os dias quando eu olhar para estes rostos irei de lembrar de seu líder caído.


- Eu assumo os Yamais desde que todos estejam de acordo, caso contrário que me matem e tomem a guilda em meu lugar. - engulo seco.


Kotta olha para Aurean assustado, como se esperasse que ele me matasse e assumisse, não me surpreenderia se ele o fizesse por Talula, e talvez quando nos encontrarmos novamente no além, eu o agradeça e implore o perdão de Arlen. 


- Não vou matá-la a sangue frio. Escolha uma arma e se defenda - diz Aurean.


- Não, vá em frente. Assuma a responsabilidade por Talula. - respiro fundo me preparando para o golpe quando ele segura firmemente a espada.


- Espera Aurean... - a bruxa tenta dizer, mas se cala no mesmo instante.


- Sei que não sou digna de pedir isso a você - olho nos olhos de Aurean - mas se puder... diga a Ronan que permaneci esperando por ele, e a Celestia que irei cuidar dos seus bebês, a Athanasi diga que sentirei falta de rir ao seu lado, e por favor diga a minha irmã que eu a amo. 

As lágrimas escorrem pelas minhas bochechas e o fôlego escapa de mim, sempre me perguntei se era verdade que a vida passava diante dos nossos olhos e pelo visto é sim verdade. Tive a chance de chegar a Milo mais uma vez, de me recordar do doce sorriso do meu noivo, até de quando meu melhor amigo acertou uma flecha em minha perna para me impedir de fugir, ouvi a risada embriagada de Celestia na sala e do cheiro de vinho que sempre vinha dela misturado com o cheiro da primeira neve do inverno. Me lembrei de quando cheguei no castelo de gelo, me lembrei de que não me sentia em casa a muito tempo, mas o engraçado é que também me lembrei dos dias que passei ao lado deles, como se nem tudo fosse tão ruim quanto penso, ou só estou querendo morrer sem arrependimentos... espero encontrar no além os pais de Ronan para que eles saibam como o filho deles se tornou um grande governador, e como a princesa mesmo em meio a dores e perdas encontrou o amor e a felicidade. Que essa minha vida não tenha sido em vão, que as minhas dores tenham valido a pena, que na próxima vida eu venha ao mundo com um coração puro para que todos ao meu redor sejam amados...


- Não se preocupe, diferente do que pensa não somos monstros terríveis, só não tivemos muita sorte assim como você. - Kotta diz. 


Aurean ergue a espada. 

- Espere . - ele espera - Não posso ir sem que me perdoe Cali...


- Talia... Talia... Talia... - ela anda a minha volta dominando o ambiente, suas unhas roçam o meu pescoço afastando meu cabelo da minha orelha. Seus lábios cor de sangue encostam em minha orelha e ela sussurra - Do fundo do meu coração doçura, eu... - ela se põe a minha frente olhando em meus olhos - Eu quero que você apodreça no inferno. 

- Não... - sussurro. 


Não posso partir assim... não posso... 


Tento ir para cima dela para implorar perdão mas Kotta me segura a mando de Aurean.


- Me solta - grito - Caliandra, me perdoa, me perdoa.


- Eu te dei a chance de se defender, agora fique quieta. - começo a me debater contra Kotta, mesmo sendo inútil enquanto grito desesperada - Droga Kotta, segure ela de joelhos no chão.


- Caliandra. - meu grito por seu nome ecoou por toda casa, até a bruxa foi capaz de sentir meu desespero. Ela se encolheu e ficou pálida, seus olhos se escureceram enquanto observava, a lei dos assassinos estava em vigor e somente deus era capaz de me salvar.


- Kotta segure direito ou vai pegar em você também, ela não vai partir machucando mais ninguém. 


Meu choro estava descontrolado, não pela morte, mas por partir sem perdão. Quando Kotta abaixou minha cabeça pude ver pela última vez o cadáver de Arlen, não adiantou nada, todo esforço foi em vão, a bruxa não o salvou, nem ninguém. Caliandra deve ter razão, não vou encontrar com ele no além pois estarei queimando nas chamas mais quentes do inferno, minha pobre alma que sempre foi profana não tem lugar no além, espero que os deuses me castiguem por meu pecado... minha alma estava pesada e ao mesmo tempo leve, ela sabia que havia chegado ao fim.


O som da espada infernal de Aurean cortando o ar atingiu meus ouvidos e a última lágrima foi derramada. O cheiro de sangue invadiu o local, em minha boca havia o gosto metálico juntamente com o quente abraço da morte. Nunca pensei que  a morte fosse aconchegante, respirei fundo o seu cheiro e senti sua respiração em meu pescoço, até me dar conta de que a personificação da morte estava me abraçando.


Me protegendo do golpe, coberto de sangue, estava Arlen me olhando com um sorriso terno nos lábios, até mesmo seus olhos carmim sorriam. 


" Você está bem?" ele sussurrou. Como ele podia estar preocupado comigo com um ferimento escorrendo um sangue escuro e grosso, pelo canto de sua boca uma gota de sangue também escorria, mas ele continuava sussurrando e só parou quando confirmei que estava bem. 


Como um verdadeiro líder ele se pôs de pé, limpando o sangue do canto da sua boca com o polegar. 


- Escutem aqui - ele gritou - Não toquem nela, ou eu vou caçar e matar vocês, não importa onde se escondam eu serei capaz de encontrá-los. Me entenderam?


A BATALHA FINALWhere stories live. Discover now