Jantar à dois - Parte I

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De: Elizabeth Collins

Para: Meliodas Trevor

Assunto: Cestas de vinho absurdamente caras.

Caro, Sr. Trevor.

Agradeço encarecidamente a maravilhosa cesta de vinhos e chocolates que chegou no meu endereço há algumas horas. Apenas o que me deixa muito curiosa é o fato de saber – novamente –, meu endereço sem que este tenha sido lhe dito por minha pessoa.

Atenciosamente,

Profª. Elizabeth Collins.

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Satisfeita clico no enter para que o email seja enviado para ele, enquanto torço para que aquele endereço eletrônico que estava impresso atrás do cartão seja de uma conta ativa e de preferência do próprio. Eu permaneço sentada em frente ao meu notebook por mais alguns minutos, aguardando que um retorno pudesse vir de imediato, mas sou encarada de volta apenas pela caixa de entrada do meu email e pelo meu reflexo ao fundo na tela azul.

O vinho e o chocolate meio-amargo fazem um contraste delicioso, do tipo que fico feliz de tê-los somente para mim sem precisar dividir com ninguém. Como também fico satisfeita de que ele, ou seja lá quem escolheu essa cesta, tenha se atentado no fato de até mandar as taças mesmo que tenha faltado o essencial.

Um maldito abridor de garrafas, ou para os que conhecem por outro nome. Um saca rolhas. O que me fez pôr as duas garrafas de vinho absurdamente caras na geladeira e retornar naquele supermercado vinte e quatro horas, apenas para comprar o abridor.

Ele não me retorna o e-mail e após vinte minutos, apenas sentada na cadeira à mesa esperando uma resposta enquanto bebi metade da garrafa, enjoei da espera e fechei a tela e guardei o restante do vinho tinto, suave e de safra envelhecida por mais de uma década, na geladeira.

A bebida também me faz lembrar que estou com fome, muita fome. E sem paciência para preparar algo fresco e bem elaborado, apenas como o restante da salada de batata que fiz ontem e esquento no microondas, o brócolis refogado ao alho e óleo de ontem a noite. Também tenho consciência de me lembrar que terei que dar aula amanhã cedo e não posso ir trabalhar de ressaca.

Então depois de comer o que preparei para uma refeição completamente solitária e triste, eu lavo a louça e as deixo secando no escorredor da pia quando vou tomar banho e me organizar para o dia de amanhã e descansar.

Pelas horas que fiquei sem me alimentar, o álcool do vinho faz seu papel em me deixar levemente alterada e eu me sento na banheira ainda enchendo de água quente, onde abraçando a mim mesma, sinto falta de todos e principalmente de Arthur. Mas não mando mensagem para ninguém e tomo meu banho sentindo-me uma perdedora.

Uma perdedora chorona, com saudade da família e amigos e levemente bêbada por culpa de um cara que aparenta ter interesse em mim.

Poderia ficar pior?

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Bolsa com notebook. Confere. Livros didáticos. Confere. Diários de classe. Confere. Bolsa, caderno e canetas. Confere.

Nervosa eu bato a ponta do pé no assoalho de metal do ônibus onde estou, há apenas uma senhora já bem idosa sentada do meu lado parecendo em completa paz enquanto eu estou prestes a ter um aneurisma. A sensação é a mesma nauseante que eu passava ao ter que apresentar seminários assustadoramente grandes em slides pequenos após fazer o resumo do resumo, na faculdade, isso quer dizer que eu me sinto completamente tensa e ansiosa.

Desço no mesmo ponto de ônibus que ontem, uma quadra longe da escola onde trabalho agora. Bem na Pioneer Square, rodeada de cafés, lojas, Galerias de Arte e bares que estão no auge da moda mundial. Nessas partes me sinto familiarizada, é como estar em Vancouver, mas aqui é maior e estou bem no meio de uma das cidades mais populosas da América do Norte. 

Bonequinha de luxoWhere stories live. Discover now